segunda-feira, 2 de março de 2009

ANISTIA INTERNACIONAL exige que EUA não venda armas a Israel

Mísseis "Hellfire" e armas que disparam bombas de fósforo branco foram usados em ataques "não-discriminados" contra civis em Gaza, diz hoje a Anistia Internacional Rory McCarthy (de Jerusalém), The Guardian, UK, 23/2/2009

23/2/2009 – Já há evidência detalhadas de que Israel usou extensivamente, na guerra de Gaza, armamento fabricado pelos EUA, incluindo bombas de fósforo branco, bombas de quase 300 kg e mísseis "Hellfire".

Em relatório distribuído hoje, a Anistia Internacional lista as armas e pede embargo imediato contra Israel e os grupos armados na Palestina. E pede que o presidente dos EUA, Barack Obama, suspenda qualquer ajuda militar a Israel.

O grupo de direitos humanos disse que os que vendem armas aos dois lados em conflito "conhecem muito bem o resultado do mau uso repetido de armas e devem ser responsabilizados pela violações já comprovadas ".

Já há muito tempo, os EUA são o principal fornecedor de armas para Israel; por acordo com vigência de dez anos, negociado durante o governo Bush, os EUA comprometeram-se a vender armas no valor total de 30 bilhões de dólares, sob contratos de assistência militar.

"Como principal fornecedor de armas a Israel, os EUA têm especial responsabilidade no movimento para suspender a venda de armas que têm sido usadas em flagrantes violações da legislação de guerra e das leis que protegem os direitos humanos," disse Malcolm Smart, diretor do programa da Anistia Internacional para o Oriente Médio e Norte da África.

"Em larga medida, o ataque de Israel a Gaza foi executado com armamento, munição e equipamento militar vendido pelos EUA e foi financiado com dinheiro dos cidadãos contribuintes norte-americanos.

" Do outro lado, os militantes palestinos em Gaza armaram-se com "armamento não-sofisticado" e foguetes fabricados na Rússia, Iran e China, e comprado de "fontes clandestinas", disse Smart. Cerca de 1.300 palestinos foram mortos e houve mais de 4 mil feridos durante o conflito que durou três semanas. Israel teve 13 baixas, incluídos três civis. Para a Anistia Internacional, as forças armadas israelenses executaram "ataques diretos a civis, pessoas e prédios, desproporcionais e não-discriminados".

Autoridades israelenses criticaram o relatório e disseram que os militares só usaram armamento permitido pelas leis internacionais e que não atacaram intencionalmente qualquer alvo civil. A ministra dos Negócios Estrangeiros de Isral disse que seria "inadequado" comparar os fornecedores de armas de Israel e do Hamás.

"Envidamos todos os esforços para que nenhum civil fosse colhido no fogo cruzado entre Israel e o Hamás" – disse Mark Regev, porta-voz de Ehud Olmert, primeiro-ministro israelense. "O relatório ignora o fato de que o Hamás usa deliberadamente civis palestinos como escudo humano."

[...] Investigadores da Anistia Internacional recolheram vários fragmentos de munição em Gaza, depois dos combates. Um deles, de bomba de quase 300kg, de tipo Mark-82 teleguiada, com inscrições que comprovam que foi fabricada pela empresa norte-americana Raytheon. Também encontraram fragmentos de bombas de fósforo, identificados com "M825 A1".

Dia 15/1, várias bombas de fósforo lançadas pela artilharia de Israel atingiram as instalações da Agência de Assistência Humanitária da ONU na cidade de Gaza, destruindo remédios, alimentos e instalações. Um dos fragmentos recolhidos nesse local indica que a bomba foi fabricada pela empresa Pine Bluff Arsenal, instalada no Arkansas, em outubro de 1991.

A Anistia Internacional denunciou que o exército militar usou bombas de fósforo em áreas civis densamente povoadas, o que caracteriza ataque contra alvos indiscriminados e crime de guerra. Os investigadores da Anistia Internacional encontraram fósforo ainda em ignição em áreas residenciais, dias depois do cessar-fogo.


No local onde um ataque israelense matou três paramédicos palestinos e um menino na cidade de Gaza, dia 4/1, a Anistia recolheu fragmentos de um míssil AGM114 Hellfire, fabricado pela empresa Hellfire Systems, de Orlando, empresa resultante de uma fusão entre as empresas Lockheed Martin e Boeing. Esse míssil é munição padrão dos helicópteros Apache.

A Anistia informa ter encontrado evidências de um novo tipo de míssil, aparentemente teleguiado, que explode em muitos fragmentos que são "pequenos cubos de metal, com arestas afiadas, com lados entre 2 e 4 mm²".

"Parecem projetados para causar o máximo possível de ferimentos. Muitos civis foram mortos por esse tipo de arma, entre os quais muitas crianças" – disse a Anistia.

Os foguetes palestinos eram de tipo Grad, 122 mm; ou Qassam, fabricados na Palestina, e arma improvisada de artilharia, sem cabeça explosiva, ou com espoleta feita de adubo químico e carregada com pregos e fragmentos de metal.

O arsenal dos palestinos tem "muito pequena escala, se comparado ao arsenal israelense", diz o relatório, que acrescenta que o armamento usado pelo Hizbóllah na guerra do Líbano em 2006 "não está ao alcance dos grupos da resistência na Palestina".

Israel, armado para a guerra

Os mísseis teleguiados israelenses são disparados dos helicópteros armados com lança - mísseis de 120 mm e mísseis Hellfire. Bombas maiores, guiadas a laser e outras são disparados dos jatos F-16. Também se usaram armas de lançamento de bombas de fósforo de 155 mm de fabricação norte-americana e israelense, que iluminam a área atacada, lançadas de pára-quedas. Houve muitas mortes provocadas por dardos de metal ("flechettes", de 4cm de comprimento, lançadas como bombas de fragmentação, de 120mm, disparadas de tanques).


O relatório "Fuelling conflict: Foreign arms supplies to Israel/Gaza", distribuído hoje, 23/2/2009, da AI (em inglês), pode ser lido em:

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