sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

A Recriação do Homem

(Fausto Wolff)

É claro que gostávamos dele.
Era um homem pobre, humilde, ofendido e maltratado
Como nós.
Era também corajoso e humano,
Muito humano, talvez humano demais.
Ficava com raiva, se comovia e chorava.
Mas o Livro não registra o seu riso.
Naquela época como hoje,
Não havia motivos para rir.
Há dois mil anos que gostamos dele
Porque fomos nós, os pobres, que o inventamos.
Não agüentávamos mais a tirania do Pai,
Do Pai aliado dos tiranos governantes,
Dono de uma religião contra a nossa independência;
Religião que nos mantinha de joelhos,
Diante do Algoz.
Não queríamos uma religião
Que só servia de consolo
Para as impostas privações.
Não queríamos uma religião
Que nos fazia aceitar com naturalidade
A nossa miséria,
Não queríamos uma religião
Que aliviava a culpa dos poderosos.
(Vivíamos num grande Nordeste chamado
Judéia, famintos e desesperados, sob as patas
dos cavalos do FMI do Império Romano.)
Gostávamos dele porque era filho
de uma bela adolescente virgem
E de um honesto carpinteiro de mãos calosas
Como as nossas.
Além disso,
Havia nascido numa manjedoura.
Contava fábulas lindas sobre uma vida melhor
Para todos nós.
Havia amor e comunismo entre nós que dividíamos
O pão, a lágrima, a esperança e o riso eventual.
Mas cedo os ricos e poderosos
Descobriram as vantagens da nossa religião.
Prenderam nosso deus simples e humano
E o trancaram num palácio.
Cobriram-no de jóias
E o afastaram de nós.
Fizeram dele um sócio-mercador.
Quando alguém da nossa tribo ousava reclamar,
O Poder explicava:

“Se ele que é Deus foi crucificado”,
Por que tu, mísero mortal,
Não queres sofrer aqui na terra
Quando sabes de antemão
Que terás toda a felicidade no céu?"

Protegidos pelas armas,
Como falavam bem os nossos tiranos!
E nós continuamos a agradecer aos senhores
Que por mais de dois mil anos nos obrigam a conviver
Com a fome, o desemprego, a peste, a miséria,
A brutalidade, a humilhação e o salário mínimo.

Dizem que um dia ele voltará.
Por isso sonhamos com Baltazar, Melchior e Gaspar
Como eles eram naquela época,
Bem diversos do que são hoje e atendem pelos nomes
De Lucro, Ganância e Poder.
Deixaram de ser reis para se transformarem
Em assistentes de Papai Noel.
E se esta bela história da Carochinha fosse verdade
(Como o é em alguns corações)
Senhores donos das pompas do mundo?

Se no dia do juízo Final, nós, os pobres,
Formos mesmo os primeiros?
Haverá um inferno suficientemente quente
Para aqueles que há dois milênios nos maltratam?

É fácil reverenciá-lo agora que ele está morto
E pode ser adorado sem riscos.
Mas nós nos lembramos de como ele era antes;
Antes que o roubassem de nós.
Um dia nos revoltaremos ao lado dele.
Ou sem ele e, se for preciso,
Até mesmo contra ele!

Hoje à noite, quando vocês estiverem
Abrindo presentes,
Bebendo champanhe
Como bons fiéis
Pensem bem antes de mandar o porteiro expulsar
Aquele crioulo sujo, desdentado, cheirando
A álcool, medo, humilhação e mijo.
Pode ser o juiz supremo disfarçado,
Aquele por quem tanto esperamos
E o qual vocês tanto temiam.
Pode ser o aniversariante

domingo, 19 de dezembro de 2010

Uma história na Palestina 4

por Rafiqa Salam
Palestina, dezembro de 2010
 
 
Nesta época começa um movimento na Palestina! É dezembro, mês que simboliza o nascimento de Jesus! Na Palestina há muitos palestinos cristãos e cidades de maioria cristã como Al Teba, Belém, Jerichó e Jerusalém, entre outras. Neste mês muitos gostariam de fazer a peregrinação cristã. Gostariam, mas não podem... Existem limites de circulação impostos pelo Estado de Israel aos palestinos. Existem carteiras de identificação que restringem o acesso  a determinadas cidades. Nos checkpoints, nas revistas, só vejo carteiras verdes para um lado, azuis para o outro, e destinos diferentes. Acessos são permitidos por cores nada coloridas... cores que segregam acessos às áreas  pós-invasão israelense em 1967 e às áreas pós-invasão israelense em 1948. Há distinção também para as placas dos carros. Automóveis com placa amarela podem trafegar em todas as áreas, já aqueles com placas brancas e verdes têm circulação restrita... Mas como limitar a fé das pessoas ao espaço territorial que  Israel impõe? Jesus  é palestino, nasceu na Palestina e andou por toda a Palestina, mas os palestinos fieis ao cristianismo não podem... Fico pensando... E se Jesus voltasse agora e visse que na Belém onde nasceu tem um muro?  Visse que em toda a Palestina tem muros, mais de 700 km de muros serpenteando as terras nas quais Ele andava livremente? E Ele não ia nem poder pular! Os muros têm 8 metros de altura! Como Jesus  se sentiria ao andar em apenas  8% do território que sobrou da Palestina? Logo Ele que andou em 100% do território livre, do Mediterrâneo ao Rio Jordão! Mar que Ele nadou, rio em que Ele se batizou! Como Jesus reagiria ao ver que um irmão seu, que mora em Jerichó, tem permissão para entrar apenas uma vez por ano no Rio Jordão? Que jamais vai poder nadar no Mar Mediterrâneo, pois este “pertence” ao Estado de Israel? Como  Jesus reagiria ao ver a humilhação diária vivida pelos palestinos nos checkpoints, tendo o direito de ir e vir negado? Vendo doentes, crianças e mulheres grávidas não podendo ir aos hospitais porque os soldados israelenses simplesmente negam a passagem? Penso e imagino a dor que Jesus sentiria ao ver as crianças palestinas sofrerem violências e privações, tendo sua infância roubada pelo Estado de Israel... Jesus choraria muito. Ele sabia da pureza das crianças e certa vez  disse: “O Reino dos Céus pertence aos que são semelhantes a elas” (Mt 19:14). E quando Ele visse as Oliveiras? Tanto Ele descansou  embaixo de um pé de Oliveira... quase não existem mais Oliveiras...os soldados israelenses cortam, arrancam as árvores, para prejudicar o sustento dos palestinos. Jesus iria gritar! Acho que Ele gritaria mais alto quando soubesse dos 11 mil presos políticos palestinos, que vivem nos cárceres israelenses sob condições desumanas, sem direito a advogados. Reclusos em prisões arbitrárias, punições sem julgamentos, detenções criminosas de  homens, adolescentes, crianças e mulheres que deram sua vida em defesa de sua terra!
 
Imagino a solidão de Jesus quando seus irmãos respondessem a  Ele que ali não estão todos os palestinos... Ali estão 5 milhões, teimosamente permanecendo, na resistência, alimentados pela verdade e pela justiça, mas que a violência israelense expulsou 6 milhões, são os refugiados espalhados pelo mundo... Como voltar? Não têm assegurado o direito de retorno...  Minha imaginação voa e meu coração dói... e continua a pensar... E quando Jesus chegasse em Jerichó?  E visse ao lado do  Monte da Volta do Messias uma grande base militar israelense! Com arsenal bélico digno da Nasa, com radar e etc. profanando o lugar sagrado, revelando que os israelenses não respeitam os lugares santos, que exploram através do turismo, Jesus seria tomado de uma decepção sem fim... Hoje, se Jesus voltasse  para a Palestina, em muito se  entristeceria, mas, certamente, ver que palestinos, sejam eles ateus, cristãos,  muçulmanos e de outros credos, não têm seu país, seu território livre, para viver em paz, na terra onde todos os profetas pregaram amor, paz, fraternidade, justiça, solidariedade, amizade, fé, seria uma dor imensurável, talvez perto do que Ele sofreu nas mãos dos  judeus que não O reconheceram como Filho de Deus e O crucificaram na cruz. Os sionistas continuam a massacrar os jesuses palestinos que resistem há 63 anos na defesa do seu país, da sua cultura, da sua história, da sua bandeira e do seus Natais na Terra Santa! Essa luta palestina por justiça e pela verdade deixa Jesus orgulhoso e feliz! Ele sabe que Seu sangue não foi em vão e que Sua mensagem foi entendida e é defendida e divulgada pelos cristãos palestinos e de todo o mundo!  Acompanhando meus passos pelas ruas de Jerusalém sitiada tenho a certeza como companhia: que  nossos corações serão tomados de alegria quando a Palestina for livre! Quando construirmos  o estado Palestino laico, independente, democrático e soberano! Uma Palestina única, onde viverão em harmonia e como cidadãos ateus, judeus, cristãos, muçulmanos, enfim, todos, de todos os credos e crenças, como era antes de 1948! Sou Cristã e desejo um Natal feliz para todos, sei que  o nosso verdadeiro Natal na Palestina Livre está próximo! Que venha 2011!!

Israel ordena demolição de mais casas em Jerusalém

Agencias 19/12/2010

                      O governo de Israel obriga mais um palestino em Jerusalém a demolir a sua casa de 96 m² construída em 2005, também com aplicação de multa de 96 mil Shekel israelense que vale R$ 42,5 mil

Na casa mora um casal com dois filhos, e a mãe e Irmã de Sr Shubaki propreitario da casa, 


sábado, 18 de dezembro de 2010

O verdadeiro anti-semitismo


                                 
 Por  Abdel Latif Hasan Abdel Latif, palestino, médico.


                        Anti-semitismo é um termo inexato para descrever  a perseguição sofrida por judeus na Europa, em especial durante o século XIX.

                        O termo é inexato porque a maioria dos judeus na Europa são descendentes de convertidos aos judaísmo no século IX e X. e principalmente dos khazares.

                         Os Khazares constituíam  um império de tribos turcas na Ásia central e Rússia, que adotou o judaísmo como religião oficial do império, dando origem à população judaica na Europa oriental, em especial Rússia e Polônia.

                        A perseguição contra judeus na Europa foi motivada por  questões religiosas, políticas e  sobretudo econômicas.

                        A situação atual modificou-se de forma radical.

                        Os judeus gozam de situação privilegiada em termos econômicos, culturais e políticos.  Não  sofrem restrições  de acesso a postos importantes e cobiçados.

                        Hoje, são os palestinos, árabes e muçulmanos, as grandes vítimas da perseguição, discriminação e massacres nas mãos dos novos anti-semitas – os “sionistas” e  simpatizantes.

                        Enquanto muitos estudiosos questionam a origem semita dos atuais judeus, não há dúvida alguma de que os árabes (gênero)  e  os palestinos (espécie)  são povos semitas, que nunca abandonaram sua terra, muito menos sua história na região.

                        O Estado sionista não apenas ocupou a Palestina Histórica e expulsou a maioria do seu povo desde 1948, mas discrimina os palestinos que continuam vivendo em suas casas e terras no que é hoje conhecido como Israel.

                        Exemplo disso  é uma declaração recente feita por centenas de rabinos israelenses. O “decreto” religioso proíbe aluguel  ou venda de casas para cidadãos árabes que vivem em Israel e ameaça aqueles que violarem essa ordem de serem isolados “excomungados”  e   punidos.

                        Segundo a bula religiosa, “qualquer um que venda ou alugue casa para árabes causa grande prejuízo aos judeus, uma vez que os goym tem estilo de vida diferente  do nosso e o objetivo deles é nos prejudicar sempre”.

                        Até hoje, mais de trezentos rabinos influentes em Israel assinaram o decreto.

                        O chefe do movimento, rabino Shmuel Eliahu, da cidade de Safad, é conhecido por suas declarações e posições racistas contra a minoria palestina em Israel.

                        O que causou o movimento do rabino é a presença de alguns alunos árabes,  que estudam em uma faculdade local e são vítimas de agressões racistas diárias por parte  da comunidade judaica da cidade.

                        A solução encontrada pelos religiosos judeus é proibir os árabes de morar na cidade.

                        Vale lembrar que Safad é uma cidade palestina, construída pelos cananitas, há três mil anos e seu nome em aramaico significa Fortaleza. Situa-se  no litoral  norte da Galiléia.

                        No  século XVI, um pequeno grupo de judeus religiosos, fugindo da perseguição na Espanha e em Portugal, após a expulsão dos árabes  da Andaluzia, instalou-se na cidade. Eles viviam em harmonia e paz com os árabes-palestinos da cidade até  o início do século XX.

A chegada dos novos imigrantes sionistas, com a intenção de expulsar os nativos e criar um Estado exclusivo para os judeus em toda Palestina,  deu início a um novo capítulo na História da cidade e da região.

Safad foi ocupada no início de maio de 1948 por forças militares isarelenses, poucos dias antes da criação do Estado judeu.

Sua população árabe-palestina foi expulsa e suas casas foram destruídas. A população de várias aldeias circunvizinhas  foi massacrada, como por exemplo, as aldeias de Saasa, Ein Zeitun e várias outras localidades.

Nas ruínas dessas aldeias, os sionistas construíram fazendas para os imigrantes judeus recém-chegados, parques nacionais ou simplesmente deixaram a terra abandonada.

Safad, hoje, é uma cidade totalmente judaica. Os árabes nativos da região não apenas foram expulsos e proibidos de retornar a suas terras, mas são proibidos de comprar ou alugar casas  e terras na cidade.

Para os religiosos judeus, a proibição baseia-se  no Torah.  Dizem que no Torah está escrito que “Deus  deu a terra de Israel  ao povo de Israel. O mundo é tão grande e Israel tão pequena, mas todos a cobiçam. Isso é injusto”. São as palavras do rabino Yusef Sheinin, um dos líderes do movimento.

A “justiça” desse rabino é estranha. Ele prega não apenas expulsar um povo de sua pátria, mas discriminar a  minoria desse povo que ainda vive na sua terra.

O que o mundo não deve aceitar e permitir é  uma “justiça” desse naipe, que ainda usurpa o nome de Deus para encobrir práticas de ódio.

Outro rabino do assentamento Beit Il, dentro dos territórios palestinos ocupados desde 1967,   líder do movimento  Gush Emunin, Shlomo Aviner, declarou que “os árabes são 25% dos cidadãos de Israel e não devemos permitir que criem raízes aqui”.

Os palestinos não precisam criar raízes na terra, porque suas raízes são a própria terra. A cidade de Safad é exemplo disso: uma cidade cananita milenar, com nome aramaico (Aram = Síria) e alma árabe, onde viviam antes da invasão dos sionistas, muçulmanos e cristãos e judeus, em um mesmo espaço, com respeito e harmonia.

Os sionistas transformaram Safad em um gueto.

Colonos,  que enfrentam dificuldades em criar laços com a terra e os povos onde vivem , falando de  raízes,  é  pura hipocrisia.

A bula dos rabinos de Israel mostra a crise que uma sociedade racista e colonialista enfrenta para se afirmar e auto-definir.

O racismo, discriminação, expansionismo e militarismo são instrumentos indispensáveis não apenas para construir essas comunidades coloniais, como também para mantê-las.

A discussão sobre  o decreto religioso envolveu vários setores da sociedade israelense: religiosos e seculares, da esquerda e  da direita. Os rabinos ditos  moderados emitiram opinião que se mostrou tão racista  quanto à  dos extremistas.

Um dos rabinos considerados moderados, Haim Drucman, tentou amenizar os efeitos das declarações dos rabinos favoráveis aos pogroms contra os palestinos dentro de Israel.

Segundo Drucman, “é necessário diferenciar entre árabes leais ao Estado Judeu e árabes não confiáveis”. “Os primeiros devem ter direitos e devem ser tratados de forma diferente, mas os outros devem ser expulsos”.  O rabino não explicou como ser leal a um Estado,  que exclui e se  define como não seu, exclusivo de outro grupo.

A minoria árabe-palestina do Estado judeu (25%) é considerada uma ameaça, “a bomba demográfica” e a única solução, segundo muitos políticos sionistas é a expulsão dos palestinos.

Israel não é Estado de  todos os seus cidadãos, como qualquer outro Estado normal do mundo, mas Estado de uma parcela da população, cidadãos judeus. Os árabes em Israel são cidadãos de terceira categoria, tratados como estrangeiros na sua própria terra,  e  temem a toda hora  serem expulsos de suas casas.

O que Israel quer de fato é  a redefinição de conceitos humanos básicos, como liberdade, direitos humanos, cidadania, igualdade e fraternidade.

A ideologia sionista pode ser definida como nazi-sionista, uma vez que baseia-se nos mesmos fundamentos nazistas da pureza racial e mito da supremacia e separação total entre grupos  e etnias diferentes. O decreto do rabinato é irmão das leis de Nuremberg.

Em um artigo publicado no jornal Israel Hoje, em 13/12/2010, a jornalista Amona Alon, sugeriu que é obrigação de Israel mostrar ao mundo que a desigualdade não é discriminação, mas apenas reflexo de diferenças entre povos diferentes. Os brancos da África do Sul não foram tão longe.

Segundo a jornalista, as medidas tomadas por Israel,  para  forçar seu caráter de exclusividade judaica, são necessárias e justificáveis, mesmo contrariando os ideais liberais. O que a jornalista sugere é que os judeus em Israel tem direitos que os não judeus não  podem ter.  Fim da isonomia. Sua lógica é distorcida, racista, retrógrada e oportunistas, já que certamente se qualquer outro Estado tomasse essas medidas discriminatórias contra os seus cidadãos judeus, seria acusado de  crime, racismo, perseguição anti-semita.

Em resumo, a lógica israelense  se funda nas seguintes asserções:

1º Tenho direito de ser racista e o mundo deve  aceitar isso, porque é a  maneira  da minha auto-afirmação;

2º É direito meu praticar a discriminação contra os árabes cidadãos de Israel, porque  é  a única forma de manter o caráter de exclusividade judaica do Estado.

3º É meu direito viver em guerra permanente, já que é a garantia da minha existência, porque a paz  verdadeira  é justa e isso representa ameaça a meus privilégios.

4ª Matar e causar sofrimento é a única maneira encontrada por Israel para sobreviver, já que precisa subjugar a população nativa, para manter seus privilégios.


Isso não é lógica, isso é patológico!  Essas  anomalias e taras ameaçam o mundo

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

UMA REFLEXÃO NECESSÁRIA :



Por: Maristela R.Santos Pinheiro

O povo palestino luta desesperadamente contra a assassina ocupação de seu território histórico há mais de 63 anos. Exibem ao mundo uma firmeza e uma garra própria dos povos que lutam por sua libertação, apesar do absoluto apoio da famosa “comunidade internacional” à Israel, que cumpre o papel estratégico de base militar cuja função é resguarda os interesses imperiais na área, rica em petróleo.

Durante décadas, quando ainda todos acreditavam na possibilidade da solução de dois estados, o espectro político local, que compunha o universo político social palestino, unitariamente defendeu que se cumprisse a resolução 181 da ONU que garantia , como compensação à resolução que criava arbitrariamente o Estado de Israel na Palestina histórica, a “criação” de um estado palestino ao lado dos territórios ocupados em 1948 por Israel.

Durante este período, era uma compreensão comum de que esta agenda poderia ser minimamente garantida, tanto do ponto de vista geográfico/territorial que envolve questões como soberania, independência econômica, militar, viabilidade política, etc., como do limite político possível, naquele momento, dada a correlação de forças que se seguiu a partir de 67. Em 15 de novembro de 1988, o Conselho Nacional Palestino proclamou a Independência do Estado Palestino, nos 22% do território histórico, ou seja nos territórios que compreende a Faixa de gaza, Cisjordânia e Jerusalém Este. Este ato teve o reconhecimento de 126 países.

No entanto, os EUA , UE e a “comunidade internacional” fizeram vistas grossas para essa agenda. Em política, isso tem um significado claro: estava dado o firme apoio imperial para que a formação de dois estados na Palestina histórica não ocorresse, quando era possível. Decorre daí que a ocupação de todo território, a política de limpeza étnica lenta, gradual , violenta e desumana na Cisjordânia e violentamente dramática em Gaza seguisse seu rumo da pior forma possível, contra todas as convenções e leis do direito público, civil e humano internacionais:

O sionismo estava, como sempre esteve, desde o início da ocupação, de mãos livres para agir dentro da Palestina histórica:

A construção de estradas em toda sua extensão aumenta o poder do exército sionista em todo território, os chekpoints montados nessas estradas – barreiras militares - impedem a livre circulação dos palestinos entre as cidades da Cisjordânia ou entre estas e Gaza, ou nos territórios ocupados em 1948. E são portas de entrada para as ocupações diárias das aldeias, para a cruel e fascista limpeza étnica que acontece em todo território. Em particular, neste momento, Jerusalém e Hebron são alvos prioritários da política que visa limpar o território árabe da presença árabe. Essas cidades sofrem com o esmagamento da cultura milenar árabe e com a destruição de bairros inteiros, como por exemplo a situação de El Bustan, bairro de Jerusalém declarado ilegal, onde vivem milhares de famílias, sob o argumento mitológico/falso de que o rei Davi brincava ali. Em nome dessa insanidade, o Estado expulsa e reprime violentamente a resistência do bairro, vitimando, inclusive crianças, de forma fatal.

As torturas aos presos, a denúncia de tráfico de órgãos, a prisão e assedio das crianças, com objetivo claro de quebrar as resistências dos pais nos Comitês Populares que insistem em protestar e resistir são uma rotina na vida dos palestinos.

Eles não tem direitos, seja social, político, civil, trabalhista ou humano. Para o Estado sionista construído no solo palestino, eles, os árabes não fazem parte da sociedade, não tem acesso nenhum a: saúde, educação, administrar as milionárias doações em dinheiro – administração e guarda fica a cargo de Israel que vai liberando o dinheiro de acordo com seus interesses junto a AP. Ou mesmo decidir sobre os programas das ONGs que necessariamente passa por autoridades assumidamente sionistas que dirigem todo o processo, prejudicando o acesso dos palestinos aos empregos, ou decidindo instalar industrias extremamente maléficas ao meio ambiente nos campos agricultáveis dos camponeses palestinos. Os 22% do território foram retalhados, como numa concha de retalhos, e ocupados de tal forma a destruir a organização social e a possibilidade de se conformar nele, um país.

Caros amigos e camaradas , amantes solidários dessa dura luta que trava o povo palestino! A situação política e humanitária na palestina ocupada sob o fuzil de um exército sionista muito bem armado, colonos muito bem armados com metralhadoras, milícias muito bem armadas toma proporções assustadoras, fascistas!

Na Palestina ocupada, o estado judeu, construído pela ONU, recepciona os colonos, estrangeiros judeus que chegam todos os dias no aeroporto, com passaporte, documentos de cidadão israelense, uma casa para morar , construída sob os escombros de um bairro palestino, escolas boa e barata para as crianças, emprego no exército e uma boa mesada durante um ou dois anos Se, por acaso o imigrante judeu tiver certa idade, já pode entrar na Palestina ocupada requerendo sua aposentadoria. Eles podem conformar milícias armadas e podem andar armados com metralhadoras.

Podem também, como acontece em Hebron/Cisjordânia incendiar e atirar contra uma casa palestina, assim se empenham, junto com o exército, na promoção da limpeza étnica e na construção de um Estado Judeu puro. Todos tem o compromisso em reproduzir as condições e a situação política que mantenha e siga garantindo seus privilégios. Contam com a garantia da impunidade por fazer da vida de cada família palestina um inferno!

Quando soube da notícia que o Estado brasileiro havia reconhecido o Estado Palestino desejei imensamente ter uma máquina do tempo. Mas, não existe máquina do tempo, assim como não existe acasos em política.

Busquei avidamente uma resposta para esse gesto tardio do governo Lula. Por que não fez isso há 8 anos atrás? Talvez, talvez ainda fizesse um pouco a diferença. Por que tomou essa atitude, no tempo que está esvaziando a gaveta e quando o que resta para os palestinos são cercas, muros, bloqueios, estradas judias, barreiras militares, colônias judias, exército, milícia e colonos judeus super armados e atirando para matar, e quando a linha verde , não passa de uma sombra no mapa, um pesadelo diário entre a vida, a morte ou a prisão?

Após algumas pesquisas atrás de respostas, me confrontei com alguns fatos que podem responder as nossas reflexões. (Não precisei ir ao sítio do Wikileaks, as consultas foram feitas no sitio do Itamaraty.)

· O Acordo de Livre Comércio (ALC) assinado em Montevidéu, em 18 de dezembro de 2007 é apresentado pelo governo brasileiro como o primeiro acordo do Mercosul com um parceiro extra-regional .

· Em 2008, o crescente intercâmbio bilateral com o Brasil atingiu o patamar histórico de US$1,6 bilhões , mais de três vezes superior ao que era em 2002.

· Durante a visita de Shimon Peres ao Brasil em novembro de 2009, foram assinados acordos nas áreas de cooperação jurídica, de turismo, de cooperação técnica triangular de co-produção cinematográfica.

· Em julho de 2009 , um Acordo bilateral sobre Serviços aéreos entre o Brasil e Israel , entre outras coisas libera o espaço aéreo brasileiro para Israel, veja o parágrafo 2.

“Com submissão às disposições deste Acordo, as empresas aéreas designadas por cada uma das Partes gozarão dos seguintes direitos:
a) sobrevoar o território da outra Parte sem pousar;
b) fazer escalas no território da outra Parte, para fins não comerciais; e
c) fazer escalas em pontos das rotas especificadas no Quadro de Rotas deste Acordo para embarcar ou desembarcar tráfego internacional de passageiros, bagagem, carga ou mala postal, separadamente ou em combinação.”
· Em julho de 2010, a Declaração conjunta da IV Cúpula Brasil-União Européia assinada pelos devidos representantes legais diz o seguinte, no artigo 18:

“Reconheceram os esforços mútuos em prol da paz no Oriente Médio e de uma solução de dois Estados, com dois Estados democráticos, Israel e Palestina, convivendo lado a lado em paz e segurança, e de uma paz abrangente no Oriente Médio, baseada nas Resoluções pertinentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas; os termos de referência da Conferência de Madrid, incluindo terra por paz; o “Mapa do Caminho”; e os acordos previamente alcançados pelas Partes na Iniciativa Árabe para a Paz. Instaram as Partes a se comprometerem sinceramente nas Conversações de Aproximação, com vistas a alcançar esse objetivo e trabalhar para a retomada de negociações bilaterais diretas que levem à resolução da disputa entre as partes em 24 meses.”
· Em março de 2010, o governo brasileiro recebe a Secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton e deste encontro sai um interessante “Comunicado conjunto” onde no penúltimo parágrafo as partes se compromete a:

“Ressaltaram que tanto Brasil quanto Estados Unidos estão comprometidos com abrangente processo de paz entre Israel e seus vizinhos árabes. Compartilham visão de uma região onde dois Estados democráticos e economicamente viáveis, Israel e Palestina, vivem lado a lado, em paz, dentro de fronteiras seguras e reconhecidas.”
Dá para perceber que o imperialismo estadunidense e europeu estão pontuando a questão dos dois estados na agenda das relações internacionais.

Se optarmos por acreditar nas intenções dessas declarações, sem levar em consideração que elas não respondem a realidade diária da cruel ocupação militar sionista em toda parte do território palestino, antes mesmo de agradecer a boa vontade do governo brasileiro, deveríamos agradecer ao imperialismo europeu e americano que estão “estranhamente” defendendo e buscando apoio internacional para essa posição, a de dois estados.

Mas minhas reflexões estão me empurrando para outro cenário, mais duro, mais triste, mais dramático....

Cenário onde os interesses e a agenda de luta do povo palestino não estão sendo levados em consideração nesse gesto do imperialismo, ao contrário, há nele uma perversidade estratégica que tem como um dos seus objetivos obrigar a AP sentar à mesa de negociações aceitando gentilmente as condições de Israel. Mas, obviamente, uma AP renascida e fortalecida na Palestina, pelo apoio internacional.

Por outro, mais ‘nobre’, preocupados com a dinâmica crescente da discussão sobre a legitimidade do “Estado judeu”, a estratégia poderia ser eficiente na medida que sua viabilidade débil, esquizofrênica, congelaria a situação dos palestinos fragmentados em aldeias e pequenas cidades sitiadas por estradas judias, exército e colônias do Estado judeu, sem uma palavra sobre o retorno dos refugiados, ou Jerusalém capital, sem soberania, sem direito a constituir defesa armada. Ou seja, todos se movimentam e tudo se mantém como está. Nada se altera!

Essa estratégia é, ainda, um bom argumento para mandar os 1,5 milhões de árabes que vivem dentro dos territórios ocupados em 1948, Israel, para “fora” . Dessa forma, o Estado judeu resolve definitivamente o incomodo declarado, motivo pela qual as instituições judias buscam uma solução, além do que fica, para todos os efeitos, naturalizado o “estado judeu”, somente para os judeus.

Ou ainda, interessa ao imperialismo alimentar retoricamente essa esperança, e manipular os sentimentos de todos que animados, deixam baixar a guarda para a injusta e criminosa situação que vive o povo palestino. Afinal, qualquer gesto político nesse sentido é desejado como uma saída.

Como efeito colateral da estratégia, os Estados, como o Brasil, Rússia, Índia, China, Uruguai, Argentina,vários países da Europa, etc... lavam suas inocentes mãos e podem continuar aumentando suas relações comerciais com Israel, desta vez ,sem culpas e cobranças.

Não, não vou compartilhar dos agradecimentos ao governo brasileiro, nem ao imperialismo americano , nem ao europeu.
Na Palestina já existe um Estado, mas ele é fascista! Ele é racista! Este Estado precisa ser combatido, derrotado, destruído completamente, como foi a Alemanha nazista.

Por uma Palestina livre , laica e soberana para todos.

Pelo retorno dos refugiados!

Boicote Israel
!

sábado, 11 de dezembro de 2010

Para fortalecer a solidariedade com o Povo Palestino


 
Quando o Brasil reconheceu o estado palestino nos territórios palestinos ocupados em 1967, sem condicionar este reconhecimento,  devemos entender este ato como um reconhecimento fundamental na luta do povo palestino, mas não significa o fim desta luta.

A luta do povo palestino não pode ser entendida de uma só maneira. Existem vários aspectos que devem ser considerados como o apoio dos países à luta pela conquistar dos seus direitos, como o direito ao retorno para seus lares e para suas terras que é  fundamental para o povo palestino. Nós, os palestinos, somos mais de 6 milhões de refugiados sem  direito de retornar as nossas casas e terras confiscadas, e este reconhecimento não vai mudar isso porque não tem valores jurídicos para a implementação do Estado palestino, Ou seja, a luta do povo palestino continua e o  reconhecimento do governo brasileiro  pode dar um fôlego à luta dos palestinos em todos os lugares no mundo.

Devemos aceitar que as posições das várias forças e entidades políticas, sobre o oriente médio,  seja no Brasil, como na Palestina e outros lugares do mundo, são variadas e diferentes. Mas isso não impede que trabalhemos juntos para levar ao conhecimento geral que os palestinos lutam pelo seus direitos, principalmente o direito de retorno, direito de autodeterminação e direito de construir seu Estado único e independente para todos. E quando a injustiça for reparada, os palestinos irão decidir como será. Desta forma, poderemos chegar  a paz que somente será possível quando a injustiça for reparada e os palestinos conquistarem seus direitos solapados.

A solidariedade com o povo palestino exige, para  fortalecer esta luta em vários sentidos através de ações, que encaminhemos o boicotar acadêmico e cultural, econômico e diplomático ao estado de Israel. Nesse sentido, não podemos esquecer que o Brasil assinou um acordo com governo de Israel que prevê  a troca de criminosos entre os dois países. Esperamos que o governo brasileiro ajude a levar os criminosos de guerra do estado de Israel para os tribunais, para que sejam julgados e condenados. cobramos do governo brasileiro, o fim de acordos econômicos bilaterais entre o Brasil e Israel, desta forma e com mais atitudes desta natureza, o Brasil demonstrará o apoio aos direitos do povo palestino.

Isolar o estado de Israel em nível mundial devia ser considerado uma iniciativa e um passo fundamental na luta de todas as entidades de solidariedade com o povo palestino. Visitar a Palestina,  entender a situação e observar as medidas tomadas pelo governo do estado sionista de Israel é  muito importante para fortalecer a solidariedade com este povo heróico. São mais de 8 mil presos políticos, em Jerusalém mais de 950 casas palestinas foram demolidas nos últimos 10 anos, a construção de unidades habitacionais para colonos judeus se mantém diariamente, checkpoints que dificulta a vida dos palestinos, o muro de vergonha que esta sendo construído (Muro de Apartheid) muro de discriminação etc. A solidariedade internacionalista é fundamental para  destruir  a natureza deste estado racista.

Vamos trabalhar juntos para ano de 2011; trabalhar para fortalecer a solidariedade com o povo palestino e sua luta; criar mais comitês de solidariedade nos estados e municípios brasileiros; vamos trabalhar para aprovar mais leis estaduais e municipais que consideram a data de 29 de novembro como Dia Internacional de Solidariedade com o Povo Palestino; vamos criar mais entidades que possam fortalecer os laços de amizade e solidariedade entre os dois povos.


Jadallah Safa
11 de dezembro de 2010

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Não matem o mensageiro por revelar verdades incómodas

WIKILEAKS merece protecção, não ameaças e ataques.
por Julian Assange [*]


Em 1958 o jovem Rupert Murdoch, então proprietário e editor do jornal The News, de Adelaide, escreveu: "Na corrida entre o segredo e a verdade, parece inevitável que a venda sempre vença".

A sua observação talvez reflicta o desmascaramento feito pelo seu pai, Keith Murdoch, de que tropas australianas estavam a ser sacrificadas inutilmente nas praias de Galipoli por comandantes britânicos incompetentes. Os britânicos tentaram calá-lo mas Keith Murdoch não foi silenciado e os seus esforços levaram ao término da desastrosa campanha de Galipoli.

Aproximadamente um século depois, WikiLeaks está também a publicar destemidamente factos que precisam ser tornados públicos.

Criei-me numa cidade rural em Queensland onde as pessoas falavam dos seus pensamentos directamente. Elas desconfiavam do governo como de algo que podia ser corrompido se não fosse vigiado cuidadosamente. Os dias negros de corrupção no governo de Queensland antes do inquérito Fitzgerald testemunham do que acontece quando políticos amordaçam os media que informam a verdade.

Estas coisas ficaram em mim. WikiLeaks foi criado em torno destes valores centrais. A ideia, concebida na Austrália, era utilizar tecnologias da Internet de novas maneiras a fim de relatar a verdade.

WikiLeaks cunhou um novo tipo de jornalismo: jornalismo científico. Trabalhamos com outros media para levar notícias às pessoas, assim como para provar que são verdadeiras. O jornalismo científico permite-lhe ler um artigo e então clicar online para ver o documento original em que se baseia. Esse é o modo como pode julgar por si próprio: Será verdadeiro este artigo? Será que o jornalista informou com rigor?

Sociedades democráticas precisam de meios de comunicação fortes e WikiLeaks faz parte desses media. Os media ajudam a manter o governo honesto. WikiLeaks revelou algumas verdades duras acerca das guerras do Iraque e Afeganistão, e desvendou notícias acerca da corrupção corporativa.

Há quem diga que sou anti-guerra: para que conste, não sou. Por vezes os países precisam ir à guerra e há guerras justas. Mas não há nada mais errado do que um governo mentir ao seu povo acerca daquelas guerras, pedindo então a estes mesmos cidadãos para porem as suas vidas e os seus impostos ao serviço daquelas mentiras. Se uma guerra é justificada, então digam a verdade e o povo decidirá se a apoia.

Se já leu algum dos registos da guerra do Afeganistão ou do Iraque, algum dos telegramas da embaixada dos EUA ou algumas das histórias acerca das coisas que WikiLeaks informou, considere quão importante é para todos os media ter capacidade para relatar estas coisas livremente.

WikLeaks não é o único divulgador dos telegramas de embaixadas dos EUA. Outros media, incluindo The Guardian britânico, The New York Times, El Pais na Espanha e Der Spiegel na Alemanha publicaram os mesmos telegramas.

Mas é o WikiLeaks, como coordenador destes outros grupos, que tem enfrentado os ataques e acusações mais brutais do governo dos EUA e dos seus acólitos. Fui acusado de traição, embora eu seja australiano e não cidadão dos EUA. Houve dúzias de apelos graves nos EUA para eu ser "removido" pelas forças especiais estado-unidenses. Sarah Palin diz que eu deveria ser "perseguido e capturado como Osama bin Laden", um projecto de republicano no Senado dos EUA procura declarar-me uma "ameaça transnacional" e desfazer-se de mim em conformidade. Um conselheiro do gabinete do primeiro-ministro do Canadá apelou na televisão nacional ao meu assassinato. Um bloguista americano apelou a que o meu filho de 20 anos, aqui na Austrália, fosse sequestrado e espancado por nenhuma outra razão senão a de atingir-me.

E os australianos deveriam observar com nenhum orgulho o deplorável estímulo a estes sentimentos por parte de Julia Gillard e seu governo. Os poderes do governo australiano parecem estar à plena disposição dos EUA quer para cancelar meu passaporte australiano ou espionar ou perseguir apoiantes do WikiLeaks. O procurador-geral australiano está a fazer tudo o que pode para ajudar uma investigação estado-unidense destinada claramente a enquadrar cidadãos australianos e despachá-los para os EUA.

O primeiro-ministro Gillard e a secretária de Estado Hillary Clinton não tiveram uma palavra de crítica para com as outras organizações de media. Isto acontece porque The Guardian, The New York Times e Der Spiegel são antigos e grandes, ao passo que WikiLeaks ainda é jovem e pequeno.

Nós somos os perdedores. O governo Gillard está a tentar matar o mensageiro porque não quer que a verdade seja revelada, incluindo informação acerca do seu próprio comportamento diplomático e político.

Terá havido alguma resposta do governo australiano às numerosas ameaças públicas de violência contra mim e outros colaboradores do WîkLeaks? Alguém poderia pensar que um primeiro-ministro australiano defendesse os seus cidadãos contra tais coisas, mas houve apenas afirmações de ilegalidade completamente não fundamentadas. O primeiro-ministro e especialmente o procurador-geral pretendem cumprir seus deveres com dignidade e acima da perturbação. Fique tranquilo, aqueles dois pretendem salvar as suas próprias peles. Eles não conseguirão.

Todas as vezes que WikiLeaks publica a verdade acerca de abusos cometidos por agências dos EUA, políticos australianos cantam um coro comprovadamente falso com o Departamento de Estado: "Você arriscará vidas! Segurança nacional! Você põe tropas em perigo!" Mas a seguir dizem que não há nada de importante no que WikiLeaks publica. Não pode ser ambas as coisas, uma ou outra. Qual é?

Nenhuma delas. WikiLeaks tem um historial de publicação quatro anos. Durante esse tempo mudámos governos, mas nem uma única pessoa, que se saiba, foi prejudicada. Mas os EUA, com a conivência do governo australiano, mataram milhares de pessoas só nestes últimos meses.

O secretário da Defesa dos EUA, Robert Gates, admitiu numa carta ao congresso estado-unidense que nenhumas fontes de inteligência ou métodos sensíveis haviam sido comprometidos pela revelação dos registos de guerra afegãos. O Pentágono declarou que não havia evidência de que as informações do WikiLeaks tivessem levado qualquer pessoa a ser prejudicada no Afeganistão. A NATO em Cabul disse à CNN que não podia encontrar uma única pessoa que precisasse de proteger. O Departamento da Defesa australiano disse o mesmo. Nenhuma tropa ou fonte australiana foi prejudicada por qualquer coisa que tivéssemos publicado.

Mas as nossas publicações estavam longe de serem não importantes. Os telegramas diplomáticos dos EUA revelam alguns factos estarrecedores:

Os EUA pediram aos seus diplomatas para roubar material humano pessoal e informação de responsáveis da ONU e de grupos de direitos humanos, incluindo DNA, impressões digitais, escanerização de íris, números de cartão de crédito, passwords de Internet e fotos de identificação, violando tratados internacionais. Presumivelmente, diplomatas australianos na ONU também podem ser atacados.

O rei Abdula da Arábia Saudita pediu que os EUA atacassem o Irão.

Responsáveis na Jordânia e no Bahrain querem que o programa nuclear do Irão seja travado por quaisquer meios disponíveis.

O inquérito do Iraque na Grã-Bretanha foi viciado para proteger "US interests".

A Suécia é um membro encoberto da NATO e a partilha da inteligência dos EUA é resguardada do parlamento.

Os EUA estão a agir de forma agressiva para conseguir que outros países recebam detidos libertados da Baia de Guantanamo. Barack Obama só concordou em encontrar-se com o presidente esloveno se a Eslovénia recebesse um prisioneiro. Ao nosso vizinho do Pacífico, Kiribati, foram oferecidos milhões de dólares para aceitar detidos.

Na sua memorável decisão no caso dos Pentagon Papers, o Supremo Tribunal dos EUA declarou: "só uma imprensa livre e sem restrições pode efectivamente revelar fraude no governo". Hoje, a tempestade vertiginosa em torno do WikiLeaks reforça a necessidade de defender o direito de todos os media revelarem a verdade.

08/Dezembro/2010

[*] Editor-chefe do WikiLeaks.
O original encontra-se em www.theaustralian.com.au/...
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

Carta de Fearab America ao presidente Lula‏


Exmo. Sr. Presidente Luis Inácio Lula da Silva
Brasília - DF
Muito nos orgulha Presidente Lula por passar da intenção para a ação.

Receba os nossos agradecimento e de todos os americano árabes do Brasil e da América do sul por seu ato de coragem. Vossa Excelência ao reconhecer as fronteiras legítimas, anteriores a 4 de junho de 1967 do Estado Palestino e apoiar com diversas decisões e medidas corajosas o povo irmão árabe palestino, está caminhando em direção à paz.

A paz justa que resultará no respeito à independencia e soberania do povo palestino

A diplomacia brasileira, independente e soberana, sob o vosso governo, é motivo de orgulho para todos nós brasileiros.
Atenciosamente
Claude Fahd Hajjar
Vice- Presidente de
Fearab América

Carta da comunidade palestina em Santa Catarina ao presidente Lula‏



Sua Excelência Luiz Inácio Lula Da Silva
Presidente da Republica Federativo do Brasil
 
Honra-me dirigir a vossa senhoria, em nome da comunidade palestina de Santa Catarina (SC) e em meu próprio nome, com uma saudação fraternal e expressar nossos sinceros agradecimentos por sua sabia, valiosa, corajosa e histórica decisão de reconhecer o estado da palestina.


Esta decisão e motivo de alegria e jubilo para os dois povos e certamente, para todos os amantes da paz e da justiça do mundo.

Senhor presidente:-


Os palestinos, tanto nos territórios palestinos ocupados como na diáspora, são orgulhosos da amizade e a solidariedade da grande nação brasileira, seu povo, seu governo e seu presidente.


Esperamos que a referida decisão seja seguida por atos concretos que conduzem  a materialização do estado da palestina e seu reconhecimento pela comunidade  internacional , para o bem  da justiça , a liberdade e a paz  para a humanidade inteira .

 Senhor presidente:- aceite nossa mais alta estima e consideração.


--------------------------------


Fawzi M.Y.El-Mashni


Florianópolis - SC, em 5 de dezembro de 2010. 

Carta do Instituto Jerusalém ao presidente Lula‏

Campinas, 03 de dezembro de 2010.
 
Excelentíssimo Presidente
  
Ao cumprimentá-lo, tenho a honra de agradecer-lhe em nome de nossos diretores e associados, bem como ao Chanceler Celso Amorim pelo histórico reconhecimento do Estado da Palestina com fronteiras existentes em 1967, livre, democrático, geograficamente coeso, economicamente viável e soberano.

A nossa felicidade é muito grande, pois o Brasil assume um papel relevante, de liderança nas Relações Internacionais, oferecendo oportunidades de ser seguido a muitos países, que com certeza o farão na busca da verdadeira paz e justiça cheguem ao Povo Palestino.

Sempre atuamos em conjunto com entidades democráticas brasileiras, partidos políticos, organizações sindicais, estudantis, das mulheres, professores, jornalistas, parlamentares, comitês de solidariedade e com os demais movimentos sociais, que nas questões de interesse do povo brasileiro, que dos oprimidos.

Na Palestina tive a honra de sentir o respeito, o amor e carinho que o povo palestino nutre por de Vossa Excelência por tudo que tem feito para minimizar a dor que sentem e lhe dar conforto e esperança da criação de seu Estado Palestino.

Todos estão orgulhosos desta decisão, que sem dúvida alguma encorajará muitos países da América Latina a seguir este exemplo que respeita todas as leis internacionais, Resoluções da ONU e Convenções de Genebra.

Consideramos esta medida de grande sabedoria política entre tantas que o Governo de Vossa Excelência possibilitou ao povo brasileiro.


Temos a certeza e a convicção que o novo governo da Presidente Dilma não só continuará esta política internacional, mas fortalecerá esta construção que todo o mundo reconhece e está seguindo, em benefício da justiça e da paz para um mundo melhor, mais justo e solidário.

As relações oficiais entre os governos do Brasil e d Palestina serão ampliados e os papéis das embaixadas terão uma função de maior valor na construção de novos projetos econômicos, sociais, culturais e turísticos.

Cumprimentamos também o Embaixador da Palestina no Brasil, Dr. Ibrahim Alzeben que sempre atuou de forma a ampliar a participação na cooperação e amizade entre brasileiros e árabes-palestinos.

Seremos sempre gratos a Vossa Excelência, ao Chanceler Celso Amorim, ao Governo Brasileiro como um todo e ao povo deste querido Brasil que acolheu nossos pais em onde estamos construindo nossas famílias com harmonia e muito amor plenamente integradas na sociedade brasileira.
 
Cordiais Saudações

Ali  El-Khatib
Superintendente do Instituto Jerusalém do Brasil – Ponto de Cultura Árabe

Carta do Mopat ao presidente Lula‏

Exmo. Sr. Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
 
Como movimento popular independente que atua no Brasil em defesa dos direitos elementares do povo palestino, consideramos louvável a iniciativa de reconhecimento do Estado palestino – somando-se a mais de cem países e à própria ONU (Organização das Nações Unidas), que desde sempre condenou a ocupação ilegal de territórios por Israel em 1967. A importância de o Brasil tomar a dianteira se torna evidente quando vemos que outros países do continente têm seguido seus passos.
Considerando seu papel enquanto liderança na região, contudo, não podemos deixar de expressar preocupação com ações governamentais que são contraditórias ao gesto simbólico. Ao mesmo tempo em que reconhece o Estado palestino, o Governo brasileiro se configura num dos principais parceiros comerciais da potência ocupante, o que lhe assegura vantagens competitivas e propicia que continue sua política de segregação. Em 2008, segundo informações constantes do site da Embaixada de Israel no Brasil, esse comércio bilateral movimentou valor superior a US$ 1,5 bilhão.
Além de ratificar o Tratado de Livre Comércio Israel-Mercosul, o Brasil tem firmado acordos de cooperação tecnológica e militares com aquele destino. Tais sustentam a situação atual em que direitos humanos fundamentais dos palestinos são violados cotidianamente. Nessa linha, a Polícia Federal adquiriu dois VANTs (veículos aéreos não tripulados) israelenses para monitoramento da fronteira e prevê a compra de pelo menos outros dez até final de 2014, integrando investimentos da ordem de R$ 655 milhões. Não é demais alertar que aeronaves do gênero foram utilizadas nos recentes ataques a Gaza, em dezembro de 2008 e janeiro de 2009, que culminaram na morte de cerca de 1.400 pessoas, incluindo mulheres e crianças, e na demolição de dezenas de casas. Vários outros acordos têm sido sinalizados tendo em vista a realização neste país da Copa do Mundo em 2014 e das Olimpíadas em 2016.
Desde 2005, o Brasil assumiu a quarta posição entre os importadores de armas de Israel no mundo. Ampliaram-se ainda os mercados e o número de empresas em diversos setores estratégicos, como telecomunicações e agronegócio. O que vai na contramão do chamado da sociedade civil palestina por boicotes, sanções e desinvestimentos ao Estado ocupante até que esse cumpra as leis internacionais e sejam garantidos os direitos inalienáveis do povo palestino.
Para que o louvável gesto do Governo brasileiro não se dilua no tempo, entendemos como crucial que se atrele a ações concretas que pressionem pelo fim da ocupação sionista, a mais longa da era contemporânea. Assim, deve vir conjugado com a ruptura imediata desses acordos e o desinvestimento em tecnologias que sustentam a opressão, segregação e usurpação de territórios. Aproveitando a sinalização positiva dada por esse Governo, ao final de seu mandato, reivindicamos que lidere esse movimento por justiça e direitos humanos. Iniciativas do gênero abalaram a estrutura do apartheid na África do Sul e obrigaram ao reconhecimento dos direitos da população negra naquele país, no ano de 1990.
Certos de que o Brasil pode fazer a diferença no caso palestino, agradecemos e subscrevemo-nos.
 
Movimento Palestina para Tod@s

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

“Peço aos árabes e ao mundo apoio à Palestina”







Sônia Inês Vendrame – Especial para o Site
Fotos: Yassine Ahmad Hijazi e Ahmad Fadel

As lágrimas percebidas ontem no rosto de palestinos e árabes não eram novas. Esse chorar a dor pelo oprimido já dura 63 anos. Mesmo assim, os causadores parecem pouco dispostos a rever o erro e recuar. Também não parecem cansados de enterrar o futuro em corpos jovens, o presente em moradores e a história, abatida a balas.
A Foz do Iguaçu presente na ação de repúdio ao cerco palestino, realizada na Câmara de Vereadores, viu mais do que emoção, ouviu o pensar dos representantes. Carregou um ramo de trigo, tão frágil quando separado do maço, quanto a vida que insiste em Gaza.
O cestinho de trigo mostrou-se valente quando unido, refletia força como as palavras do embaixador Bachar Yagui quando disse: “ser árabe é exigir da comunidade internacional a tomada de medidas imediatas e necessárias á erradicar o cerco injusto e desumano de Israel na faixa de Gaza”.
Das palavras do guia religioso da Mesquita Omar Ibn Khatab, xeque e doutor em teologia Mohsen Al-Husseini que aconselhou os filhos a “estar no evento”. “Hoje nada é mais importante do que estarmos aqui. Essa causa não é de uma etnia mas humanitária”.
Do presidente da Sociedade Árabe Palestina, Sael Atari que em forma de súplica contou o desespero da mãe que busca pelo filho na região destruída. Atari fazia de um exemplo, a realidade plana dos oprimidos em Gaza há mais de seis décadas.

Do vice-prefeito de Foz, Francisco Brasileiro pedindo a permanência do grito, dos manifestos para cessar a injustiça, a morte e a degradação não apenas do tecido humano, mas da ética mundial. “A realidade palestina tem de ser denunciada todos os dias”.
O vereador Nilton Bobato somou ao dizer do grupo. Pediu pela paz. Denunciou as mãos que acirram cada vez mais os grilhões sobre a vida impedida de ser vivida. O recontar da história pela jornalista Mônica Nasser lembrou o dia em que foi decretado o cerco à liberdade: em 29 de novembro de 1947.
A materialização fez-se presente na poesia do menino palestino Karam Rahman, 11. Expressou a dor em palavras inocentes, mas com a força de quem ainda sonha com a liberdade.
“Olhem para mim! Olhem para mim!”, pedia a jovem em voz e pele de palestino ao representar a vontade daqueles que sofre. Ganhou ajuda em nova poesia onde havia um refrão, o mesmo que levou os moradores de Foz a pedirem por Gaza.

Pronunciamento realizado hoje pelo Deputado Federal Ivan Valente no plenária da Câmara, repercutindo o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino.


30/11/2010 - 19:49

Em solidariedade ao Povo Palestino

Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,
Participei ontem, na Assembleia Legislativa de São Paulo, de um ato político organizado pela Frente em Defesa do Povo Palestino. Há exatos 33 anos, era aprovada a resolução 32/40 da Organização das Nações Unidas que definiu o 29 de novembro como Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino. Neste mesmo dia, 30 anos antes – portanto, em 1947 – , a mesma Assembléia Geral da ONU aprovava a Resolução nº 181, que decidiu pela partilha do território da Palestina histórica para o estabelecimento de um Estado judeu e um árabe, sem qualquer consulta aos habitantes locais.
Assim nasceu o Estado de Israel, sem que o mesmo fosse assegurado ao povo palestino, o que levou à expulsão de mais de 700 mil pessoas de suas casas e à destruição de centenas de vilarejos. Em 1948, quase a totalidade das terras palestinas (94%) foram tomadas militarmente pelo Estado de Israel. Hoje mais de seis milhões de palestinos vivem em campos de refugiados espalhadas pelos países árabe e mundo afora. Ainda hoje, Israel controla 65% da Cisjordânia e 40% da Faixa de Gaza, com seu exército e sua força paramilitar, os colonos, implementando um regime de terror.
Seis décadas depois, a região é assim marcada pela ocupação mais longa do período contemporâneo, aprofundada sob a marca do desrespeito aos acordos e tratados internacionais. Nas últimas décadas, foram inúmeras as resoluções adotadas, com base na Carta das Nações Unidas e na Lei Internacional, incluindo a lei humanitária internacional, que até hoje não foram implementadas devido à recusa e intransigência de Israel.
Desde 2002, um muro da vergonha corta a Cisjordânia ao meio. Os checkpoints e assentamentos sionistas se multiplicam. Estradas proibidas ao trânsito de palestinos são símbolos do apartheid que se configura no território ocupado. Em Gaza, 1,5 milhão de pessoas se espremem em 360km2, vítimas de um bloqueio criminoso que tem como resultados principais a fome e a miséria da população. Este ano, o mundo presenciou indignado o covarde ataque de soldados israelenses à frota humanitária que buscava, justamente, levar remédios e medicamentos a este povo. Tamanha barbárie não foi suficiente, no entanto, para por fim ao bloqueio à Faixa de Gaza.
Por trás das ações do exército de Israel está o financiamento dos bancos sediados em Nova York e a manipulação da cobertura jornalística das grandes redes de TV. Tudo respaldado pelo apoio explícito do império dos Estados Unidos.
É por isso, senhor Presidente, que neste dia 29 e ao longo desta semana ocorrem inúmeras manifestações de solidariedade e apoio à luta do povo palestino em todo o mundo. E também aqui no Brasil. É um período para chamar a atenção do planeta de que todos os direitos inalienáveis do povo palestino têm sido desrespeitados, como à autodeterminação, à saúde, à educação, ao ir e vir.
É um momento também para cobrar uma resposta consequente da comunidade internacional para a drástica situação na Palestina, com a realização de ações concretas que de fato levem à mudança dessa realidade. Não podemos manifestar nossa solidariedade apenas nos momentos em que ocorrem as grandes tragédias. É preciso afirmar permanentemente que só haverá paz no Oriente Médio com o reconhecimento do direito ao povo palestino a um Estado livre e soberano. Um povo que há 63 anos resiste heroicamente ante todas as arbitrariedades, de humilhações a bombas e torturas legalizadas.
Afirmamos também que não é possível consagrar nenhum processo de paz ante as campanhas colonizadoras israelenses. De fato, senhoras e senhores deputados, os assentamentos sionistas são mais uma, diante de tantas outras, flagrante e agressiva manifestação da ocupação de Israel.
Por tudo isso, nesta data histórica, fazemos questão de manifestar, mais uma vez, nosso compromisso com esta luta. Viva a resistência do povo Palestino! Palestina livre!
Muito obrigado.
Ivan Valente
Deputado Federal PSOL/SP

domingo, 28 de novembro de 2010

Uma história na Palestina 3

 
por Rafiqa Salam
Palestina, novembro de 2010
 
 
De todas as cidades que conheci, teve uma que, particularmente, mexeu muito comigo. É um sentimento estranho, nunca tinha estado lá, e agora eu pisava num lugar que não existia, mas já existiu. Esse paradoxo eu só vivi por um instante, na verdade por um dia que parecia, pelo seu peso,  ter mais do que 24 horas.


O que dizer dos sentimentos dos palestinos que vivem cotidianamente esse paradoxo! Vivem num país que existe, mas o mundo já o tirou do mapa! Fazem seus afazeres diários, como qualquer povo, amam, tem suas famílias, trabalham, comercializam, mas têm que segurar nas mãos uma cédula que traz a bandeira do país invasor... Parece difícil entender por que não ter uma moeda com  as lindas cores preta, branca, verde e vermelha  da bandeira  Palestina? 

 
Impossível mesmo é aceitar que eu pisava num lugar que era uma cidade viva e agora é um descampado. Um lugar que tem a existência do hoje calcada na eliminação do ontem.... Que, para se consolidar, teve que expulsar, desalojar e arrancar famílias de suas casas, mas não de suas raízes históricas! 

 
 
Ando por terras que querem que eu enxergue um Parque Nacional , autopistas perfeitas, áreas de lavouras e assentamentos judaicos, querem que eu veja o Estado de Israel! 
 
Mas só consigo ver o bater dos corações palestinos, como uma cadência, animadora, anunciando o retorno.... Vejo ali a Palestina livre... Mas meu devaneio é quebrado pela voz do motorista, chamando para voltar, temos hora para entrar e sair! Temos que sair da Palestina de 1948, passar pelo checkpoint e entrar no que restou da Palestina pós-1967, complicado de entender, imagina de ver!! 

 
Aliás, como entender a ocupação sionista de Israel? O único país no mundo que se denomina Estado, oficialmente, inclusive no nome: Estado de Israel. Um nome que agrega ação: é um Estado que sempre está em mudança de estado – e não estou fazendo trocadilho. Avanços na expansão territorial: Israel tem suas fronteiras em constante movimento! Não tem uma Constituição! Não tem  nenhuma  lei que descreve a sua  área físico-geográfica, pois ela é proporcionalmente elástica à sua força de ocupação... Ocupa áreas da Palestina, Síria, Líbano... Já ocupou Egito, Jordânia e até águas internacionais!! 
 
A cidade que mexeu comigo, até 1948, se chamava Qaqun. Uma linda aldeia, com campos de terras férteis, plantações, casas simples que eram o lar de 2 mil pessoas, tão perto do Mar Mediterrâneo, a apenas 8km de distância. E saber que foi justo por essas águas que os grupos terroristas judeus como Haganah e Stern expulsaram à força e com violência brutal os nativos, palestinos que até hoje sonham com o regresso a sua terra natal! Um sonho impedido pelo pesadelo de não poderem pisarem onde eu estava. Depois de viverem como refugiados em cidades próximas como Tulkarem, Nablus e terras mais longínquas, mas não mais tranquilas, como Síria, Líbano, Kuwait e Jordânia, achei que  fotos, pedras e terra poderiam ser compartilhados com aqueles que dali nunca saíram. 

Então, bem longe dali,  vi o amor, que transcende a tudo, se materializar. Vi um palestino que nasceu em Qaqun e, aos 13 anos, juntamente com sua família, foi forçado a sair e abandonar sua casa e terras. Ele, que está impedido de pisar onde nasceu, abriu um lindo sorriso e beijou a sua terra! A terra de Qaqun agora em suas mãos! Sua filha lhe presenteou com a  terra de Qaqun! Mãos calejadas, apertando as mãos de sua filha, que trouxe para ele mais do que alegria, trouxe o  retorno a sua terra natal! 
 
Senti em meu coração que fui abençoada por essa linda cena, revigorada, desejo também ser  testemunha da Palestina livre!