sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Terrorismo político organizado: O massacre norueguês, o Estado, a mídia e Israel

Pie de foto: La AUF pide boicotear a Israel. Jonas Gahr Store, Ministro de Asuntos Exteriores de Noruega, fue recibido el jueves en el campamento de verano de la AUF que se desarrolla en Utøya(Reuters).

por James Petras*

"Deixem-nos então combater em conjunto com Israel, com nossos irmãos sionistas contra todos os anti-sionistas, contra todos os marxistas culturais/multicutralistas".

Manifesto de Anders Behring Breivik

"... existem mais duas células na minha organização"...

Ander Behring Breivik sob custódia policial (Reuters 7/25/11)

O atentado à bomba do gabinete do primeiro-ministro norueguês em 22/Julho/2011, Jen Stoltenberg, do Partido Trabalhista, o qual matou oito civis, e o subsequente assassinato político de 68 activistas desarmados da Juventude do Partido Trabalhista na Ilha Utoeya, a apenas 20 minutos de Oslo, pelo militante neo-fascista cristão-sionista, levanta questões fundamentais acerca do crescimento das ligações entre a extrema direita legal, a mídia "de referência", a política norueguesa, Israel e o terrorismo de extrema direita.

A mídia e a ascensão do terrorismo de direita:

Os principais jornais de língua inglesa, The New York Times (NYT), o Washington Post (WP), o Wall Street Journal e o Financial Times (FT), bem como o presidente Obama, culparam "extremistas islâmicos", desde os primeiros relatórios policiais dos assassinatos, publicando um série de manchetes incendiárias (e falsas) e reportagens, etiquetando o evento como o "11/Set da Noruega", o qual refletia a motivação ideológica e justificação mencionada pelo próprio assassino político cristão-sionista, Anders Behring Breivik. Na primeira página do Financial Times (de Londres) de 23-24/Julho, lia-se "Temores do extremismo islâmico: O pior ataque na Europa desde 2005". Obama imediatamente citou o ataque terrorista na Noruega para mais uma vez justificar suas guerras além-mar contra países muçulmanos. O FF, NYT, WP e WSJ ativaram seus auto-intitulados "peritos", os quais debateram acerca de quais líderes ou movimentos árabes/islâmicos foram responsáveis – apesar de informações da imprensa norueguesa da "prisão de um homem nórdico em uniforme de polícia".

Evidentemente, a mídia e a elite política dos EUA estavam ansiosos por utilizar o atentado bombista e os assassinatos para justificar guerras imperiais em curso além-mar, ignorando o florescimento de organizações internas de extrema direita e indivíduos violentos que são a consequência da propaganda de ódio oficial islamofóbica.

Quando Anders Breivik, um conhecido extremista neo-fascista, entregou suas armas à polícia norueguesa, sem resistência, e reivindicou o crédito pelo atentado à bomba e o massacre, teve início a segunda fase do encobrimento oficial. De imediato, ele foi descrito como "um solitário lobo assassino", o qual "atuou sozinho" (BBC, 24/Julho/2011) ou como mentalmente demente, minimizando suas redes políticas, seus mentores ideológicos e compromissos com americanos, europeus e israelenses, que o levaram aos seus atos de terrorismo. Ainda mais ultrajante, a mídia e dirigentes ignoraram o fato de que este ataque terrorista complexo e com múltiplas fases estava além da capacidade de uma pessoa "demente".

Anders Behring Breivik foi membro de um partido político de extrema-direita, o Partido do Progresso, e colaborador e contribuidor de um sítio web abertamente neo-nazi. Ele frequentemente centrava seu ódio sobre o Partido Trabalhista governante pela sua relativa tolerância de imigrantes. Despreza imigrantes, especialmente muçulmanos, e era um ardente apoiante cristão-sionista da repressão e terror israelense contra o povo palestino. Sua ação criminosa foi essencialmente política e integrada numa rede política muito mais vasta.

A elite política e os meios de comunicação fizeram todo o possível para negar o entrecruzamento de ligações entre islamófobos ideológicos "legais", como os sionistas americanos Daniel Pipes, David Horowitz, Robert Spencer e Pamela Geller, o Partido da Liberdade da extrema-direita holandesa, dirigido pelo entriguista Geert Wilders e seus homólogos no Partido do Progresso norueguês que se mobiliza contra a "ameaça muçulmana". Os terroristas da "ação directa" tomam inspiração em partidos eleitorais, como o Partido do Progresso, o qual recruta e doutrina ativistas, como Behring Breivik, os quais deixam então a "estrada eleitoral" para executarem suas carnificinas sangrentas, permitindo aos promotores do ódio "respeitáveis" condená-lo hipocritamente... após a afronta.

O assassino fascista: Um super-homem solitário viaja mais rápido do que uma bala contra a polícia que se move mais devagar do que uma tartaruga reumática:

O caso do "terrorista lobo solitário" desafia a credibilidade. É um tecido de mentiras utilizadas para encobrir cumplicidade do estado, má conduta da inteligência e a aguda viragem à direita tanto na política interna como externa de países da OTAN.

Não há qualquer base para aceitar a afirmação inicial de Breivik de que atuou só devido a várias razões relevantes: Primeiro, o carro bomba, que devastou o centro de Oslo, era uma arma altamente complexa que exige perícia e coordenação – da espécie disponível para estados ou serviços de inteligência, como o Mossad, o qual se especializa em carros bombas devastadores. Amadores, como Breivik, sem treino em explosivos, habitualmente explodem-se a si próprios ou falta-lhes a qualificação necessária para conectar os dispositivos eletrônicos de temporização ou detonadores remotos (como provaram fracassados "sapatos" e "cuecas" dos bombistas da Times Square).

Em segundo lugar, os pormenores de (a) movimentar a bomba, (b) obter (roubando) um veículo, (c) colocar o engenho no local estratégico, (d) detonar com êxito e (e) então vestir um elaborado uniforme da polícia especial com um arsenal de centenas de munições e conduzir em outro veículo para a ilha de Utoeya, (f) esperar pacientemente enquanto armado até os dentes por um ferry boat, (g) cruzar-se com outros passageiros no seu uniforme de polícia, (h) acercar-se dos ativistas da Juventude Trabalhista e começar o massacre de grande número de jovens desarmados e finalmente (i) liquidar os feridos e caçar aqueles que tentavam esconder-se ou nadar para longe – não é atividade de um fanático solitário. Mesmo a combinação de um Super-homem, Einstein e um atirados de classe mundial não podiam executar tais tarefas.

A mídia e os líderes da OTAN devem encarar o público como passivos estúpidos ao esperar que acreditem que Anders Behring Breivik "atuou só". Ele está disposto a aguentar uma sentença de 20 anos de prisão, pois sustenta que a sua ação coletiva é a fagulha que incendiará seus camaradas e promoverá a agenda dos partidos violentos e legais de extrema-direita. Frente a um juiz norueguês, em 25 de Julho, ele declarou publicamente a existência de "mais duas células na minha organização". De acordo com testemunhas na Ilha Utoeya, foram ouvidos tiros de duas armas distintas vindos de diferentes direções durante o massacre. A polícia, dizem eles, está a ... "investigar". Não é preciso dizer que a polícia nada encontrou; ao invés disso, simularam um "show" para encobrir a sua inação com a invasão de duas casas longe do massacre e rapidamente libertaram os suspeitos.

Contudo, a mais grave implicação política da ação terrorista é a ostensiva cumplicidade de altos responsáveis da polícia. A polícia levou 90 minutos para chegar a Ilha Utoeya, localizada a menos de 20 milhas [32 km] de Oslo, 12 minutos de helicóptero e 25 a 30 minutos de carro e barco. A demora permitiu aos assassinos da extrema-direita utilizaram toda a munição, maximizando a mortes de jovens, ativistas anti-fascistas, e devastando o movimento trabalhista juvenil. O chefe de polícia, Sveinung Sponheim, deu a mais fraca das desculpas, afirmando "problemas com transporte". Sponheim argumentou que não estava pronto um helicóptero e que "não podiam encontrar um barco" (Associated Press, 24/Julho/2011).

Mas havia um helicóptero disponível. Ele conseguiu voar a Utoeya e filmar a carnificina em curso, e mais da metade dos noruegueses, um povo marítimo há milénios, possui ou tem acesso a um barco. Uma força policial, confrontada com o que o primeiro-ministro chama a "pior atrocidade desde a ocupação nazi", a mover-se ao ritmo de uma tartaruga reumática para resgatar jovens ativistas, levanta a suspeita de algum nível de cumplicidade. A questão óbvia que se levanta é o grau em que a ideologia do extremismo de direita – neo-fascismo – penetrou a polícia e as forças de segurança, especialmente os escalões superiores. Este nível de "inatividade" levanta mais questões do que respostas. O que sugere que os sociais-democratas só controlam parte do governo – o legislativo, ao passo que os neo-fascistas influenciam o aparelho de estado.

O fato claro é que a polícia não salvou uma única vida. Quando finalmente chegou, Anders Behring Breivik havia esgotado a sua munição e rendeu-se à polícia. A polícia literalmente não disparou um único tiro; ela nem mesmo teve de caçar ou capturar o assassino. Um cenário quase coreografado: centenas de feridos, 68 desarmados ativistas pacíficos mortos e o movimento da juventude trabalhista dizimado.

A polícia pode afirmar "crime resolvido" enquanto a mídia tagarela acerca de um "assassino solitário". A extrema-direita tem um "mártir" para mascarar um novo avanço na sua cruzada anti-muçulmana e pró Israel. (Recorda o celebrado fascista israelense-americano, assassino em massa, Dr. Baruch Goldstein, que massacrou dúzias de palestinos desarmados, homens e rapazes e um pregador, em 1994).

Apenas dois dias antes dos assassínios políticos, o responsável do Movimento da Juventude do Partido Trabalhista, Eskil Pederson, deu uma entrevista ao Dagbladet, o segundo maior tablóide da Noruega, na qual anunciava um "embargo econômico unilateral a Israel por parte da Noruega" (Gilad Atzmon, 24/Julho/2011).

O fato que importa é que os militares noruegueses não têm problemas em despachar rapidamente 500 tropas para o Afeganistão, a milhares de quilómetros e proporcionar seis jatos e pilotos da Força Aérea Norueguesa para bombardear e aterrorizar a Líbia. E ainda assim eles não podem encontrar um helicóptero ou um simples barco para transportar a sua polícia algumas centenas de metros para impedir um ato terrorista interno da direita – cujo comportamento assassino estava a ser descrito segundo a segundo pelas jovens vítimas aterrorizadas nos seus telemóveis aos seus pais desesperados.

As raízes imperiais do fascismo interno: Conclusão

Claramente, as decisões da Noruega e outros países escandinavos de participar nas cruzadas imperiais dos EUA contra muçulmanos e especialmente árabes no Médio Oriente excitaram e revigoraram a direita neo-fascista. Eles agora querem "trazer a guerra para casa": querem que a Noruega vá mais além, "expurgar a nação, pela expulsão de muçulmanos. Eles querem "enviar uma mensagem" ao Partido Trabalhista: Ou aceita uma plena agenda neo-fascista a favor de Israel ou aguarda mais massacres, mais seguidores de Anders Behring Breivik.

O "Partido do Progresso" é agora o segundo maior partido político na Noruega. Se uma coligação "conservadora" derrotar os trabalhistas, neo-fascistas provavelmente terão assento no governo. Quem sabe, após uns poucos anos de bom comportamento, eles possam encontrar uma desculpa para comutar a sentença do seu ex-camarada ... ou proclamá-lo mentalmente reabilitado e livre.

O que é claramente necessário é a retirada imediata de todas as tropas de guerras imperiais e um combate sistemático, coerente e organizado contra terroristas internos e seus padrinhos intelectuais na América, Israel e Europa. A Juventude Trabalhista deve ir em frente com o seu pedido de que o governo trabalhista, sob o primeiro-ministro Jen Stoltenberg, reconheça a nação da Palestina e implemente um boicote total a bens e serviços de Israel. Uma campanha de educação política nacional e internacional deve se organizar para revelar as ligações entre fascistas eleitorais respeitáveis e terroristas violentos. Os mártires da Juventude Trabalhista da Ilha de Utoeya deveriam ser guardados no coração e os seus ideais ensinados em todas as escolas. Seus inimigos e apoiantes de extrema-direita, abertos, encobertos ou diretamente cúmplices, deveriam ser revelados e condenados. A melhor arma contra o renovado ataque neo-fascista é uma ofensiva política e educacional, assumindo as tradições de combate anti-fascista e anti-Quisling (o notório colaborador nazi da Noruega) dos seus avós. Não é demasiado tarde – se o Partido Trabalhista, os sindicatos noruegueses e a juventude anti-fascista atuarem agora antes do dilúvio do fascismo ressurgente.

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O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=25839

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/petras/petras_31jul11.html

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