segunda-feira, 16 de julho de 2012

Síria, centro da guerra pelo gás


Da geopolítica do petróleo para a do gás



Por Imad Fawzi Shueibi
Imad Fawzi Shueibi:  geopolítico e filósofo. Presidente do centro de documentação e estudos estratégicos de Damasco - Síria.





 agressão midiática e militar contra  Síria está diretamente relacionada com a concorrência global pelos recursos energéticos, explica o Professor Imad Shuebi no magistral  artigo que apresentamos hoje.
Nesse exato momento em que assistindo ao colapso da zona do euro, e que uma grave crise econômica levou os Estados Unidos a acumular uma dívida superior a 14.940 bilhões de dólares; no  momento em que a influência americana declina em contraste com os países emergentes que conformam o Brics, se faz evidente que a  chave para o exito econômico e o predomínio político reside principalmente no controle da energia do século XXI:  o gás
A Síria tornou-se alvo  justamente por estar no meio do mais importante reservatório de gás do planeta. O petróleo foi a causa das guerras do século XX. Hoje estamos vivendo  o surgimento de uma nova era: a da guerras do gás.


Após a queda  da União Soviética, ficou claro para os russos que a corrida  armamentista  havia lhes prejudicado em demasia  , sobretudo no campo energético, onde  faltou a energia  necessária ao processo de modernização industrial do país. Os  Estados Unidos, por outro lado, tinham conseguido se desenvolver e impor, sem muitas dificuldades,  sua política internacional nesta área graças a sua presença por décadas nas áreas de petróleo. Os russos decidiram, em seguida,  posicionar-se nas  fontes de energia, tanto nas que produzem petróleo,  como nas empresas de produção de gás. Considerando que, devido à sua distribuição internacional, o setor de petróleo não oferecia boas perspectivas, Moscou apostou  pelo gás , por sua produção, seu transporte e sua comercialização em larga escala. Tudo começou em 1995, quando Vladimir Putin traçou a estratégia da Gazprom: partindo desde as áreas de produção de gás da Rússia até Azerbaidjão, Turcomenistão, Irã (para comercialização), até o Oriente Médio. A verdade é que os projetos North Stream e South Stream  demonstraram os esforços de Vladimir Putin e seu governo de situar  a Rússia na arena internacional  na área energética,  que já desempenha um papel importante na economia européia, que, durante as próximas décadas,  dependerá do gás como alternativa ao petróleo ou como complemento deste, quando deu prioridade ao gás, em detrimento do petróleo.
A partir desse contexto, era urgente para Washington implementar  seu próprio projeto:  Nabbuco , uma estratégia que concorria com a dos  russos e que jogava para desempenhar um papel decisivo na determinação da estratégia e política energética para os próximos 100 anos.

Fato é que o gás será a principal fonte de energia do século XXI, uma alternativa diante da redução das reservas mundiais de petróleo e, ao mesmo tempo, uma fonte de energia limpa.O controle das zonas gasíferos no mundo disputado entre as antigas potências e as emergentes é o elemento que dá origem a um conflito internacional com manifestações de caráter regional.

É evidente que a Rússia  aprendeu com as  lições do passado, pelo menos no que se refere aquilo que,  do ponto de vista da economia,   contribuiu para o  colapso da União Soviética , que foi, precisamente,  a falta de controle dos recursos de energia  indispensáveis para   o desenvolvimento da estrutura industrial.  A Rússia compreendeu  que o gás está destinado a ser a fonte de energia do próximo século.


A historia da “partida de xadrez” do gás

Vladimir Putin y Alexei Miller, presidente de Gazprom.

Um primeiro olhar para o mapa do gás revela que este recurso está localizado nas seguintes regiões, o mapa diz respeito tanto à situação dos depósitos como ao acesso as áreas de consumo:
1.  Rússia: Vyborg e Beregvya
2.  Anexo  a  Rússia: Turcomenistão
3.  Nos arredores mais ou menos imediatos da Rússia: Azerbaidjão e Irã
4.  Ex influência da Rússia: Geórgia
5.  Mediterrâneo Oriental: Síria e Líbano
6.  Catar e Egito.

Moscou trabalhou rapidamente sobre dois eixos: o primeiro foi a criação de um projeto sino-russo  de longo prazo, com bases no  crescimento econômico do Bloco de Shangai; o segundo foi garantir o controle das reservas de gás. Com este desenho,  foram  assentadas as bases dos projetos North Stream e South Stream que se confronta com o projeto americano Nabucco, projeto apoiado pela União Europeia, com vistas ao gás do mar Negro e do Azerbaidjão. Uma corrida estratégica para o controle  das reservas de gás se  estabeleceu  entre os dois projetos distintos.


Os Projetos da Rússia:

O projeto North Stream conecta diretamente a Rússia com a Alemanha através do mar Báltico, até Weinberg e Sassnitz, sem passar pela Bielorússia. O projeto South Stream começa na Rússia, atravessa o mar Negro até a Bulgária e se divide passando pela  Grécia e pelo Sul da Itália, por um lado, e pela Hungria e a Áustria, por outro lado.


O projeto dos Estados Unidos:

O projeto Nabucco  parte da Ásia Central e dos arredores do mar Negro, passando através da Turquia - onde situa-se a infra-estrutura de armazenamento - , e corta a Bulgária, passa pela Roménia, Hungria e chega até a Áustria, de onde é direcionado para a República Checa, Croácia, Eslovênia e Itália. Originalmente, deveria passar pela Grécia, idéia que foi abandonada devido à pressão da Turquia.
Por suposição, "Nabucco" deveria ser o concorrente para os projetos dos russos. Nabucco estava previsto para 2014, mas diversos problemas técnicos provocaram seu adiamento até 2017. A partir desse adiamento, o projeto Russo começou a ganhar  a batalha pelo gás, mas cada  parte trata  sempre de estender seu próprio projeto para novas áreas.
Isso tem haver, por um lado com o gás iraniano, que os Estados Unidos pretendia incorporar ao projeto Nabucco conectando-o ao ponto de armazenamento de Erzurum, na Turquia. E, também, com o gás vindo do Mediterrâneo Oriental, ou seja, Síria, Líbano e Israel.

Em julho de 2011, Iran firmou vários acordos para o transporte do seu gás através do Iraque e da Síria. Por conseguinte, Síria tornou-se o principal centro de armazenagem e de produção, vinculado, também,  com as reservas do Líbano. Se abre assim um espaço geográfico, estratégico e  energético completamente novo, que abarca Iran, Iraque, Síria e o Líbano.

Os obstáculos que  esse novo  projeto (Nabucco) enfrenta,  há mais de um ano, dão uma idéia do grau de intensidade na luta que o império está travando  pelo controle da Síria e do Líbano. Ao mesmo tempo, esclarece o papel da França, que considera o Mediterrâneo Oriental  sua própria zona de influência histórica, por conseguinte,  destinada a satisfazer os interesses franceses, logo, isso justifica precisamente, recuperar o terreno perdido desde II Guerra Mundial. Em outras palavras, a França pretende desempenhar um papel importante no mundo do gás, para isto já adquiriu um tipo de “seguro saúde”, com a  Líbia, agora,  pretende obter um «seguros de vida» que somente as riquezas da Síria e do Líbano podem proporcionar. Turquia, por seu lado, se sente excluída desta guerra do gás devido ao atraso do projeto Nabucco e porque não tem nada a ver com os projetos South e North Stream. O gás do Mediterrâneo Oriental parece lhe escapar inexoravelmente a medida que se afasta do projecto Nabucco.


O Eixo Moscou-Berlim

 Gerhard Schroeder e Alexei Miller. Em 30 de março de 2006, ex-chanceler alemão foi nomeado chefe da construção do North Stream.

Para realizar os dois projetos, Moscou criou a empresa Gazprom, em 1990. Alemanha, ansiosa por se livrar de uma vez por todas das consequências da Segunda Guerra Mundial , se preparou para se juntar aos dois projetos, tanto em termos de instalações e de revisão do gasoduto norte e as instalações de armazenamento do duto de South Stream em sua área de influência, principalmente na Áustria. 
A empresa Gazprom foi fundada com a colaboração de Hans-Joachim Gornig, um alemão conhecido em Moscou, ex-vice presidente da Companhia alemã de Petróleo e gás industrial que supervisionou a construção da rede de gasodutos RDA . Até outubro de 2011, o diretor da Gazprom foi Vladimir Kotenev, ex-embaixador da Rússia na Alemanha. 
Gazprom assinou diversas transações com empresas alemãs, em primeiro lugar com aquelas que cooperam com o projeto North Stream, como as gigantes  E.ON, do setor de energia, e  BASF, do setor da indústria química. No caso da E.ON, existem cláusulas que garantem tarifas preferenciais quando há alta dos preços. Isso significa uma espécie de subsídio “político” da Rússia às empresas de energia alemãs. 
Moscou aproveitou a liberalização dos mercados europeus do gás para forçá-los a desconectar as rede de distribuição das instalações de produção. Superados os confrontos antigos entre a Rússia e Berlim , abriu-se uma fase de cooperação econômica baseada em facilitar a enorme dívida que pesava sobre os ombros da Alemanha, de uma Europa excessivamente  endividada pelo domínio  americano. Se trata de uma Alemanha que considera que o espaço germânico (Alemanha, Áustria, República Checa e Suíça) está destinado a converter-se no centro da Europa, sem ter de suportar as conseqüências do envelhecimento de todo o continente, ou da queda de outra superpotência. 
As  iniciativas alemãs de Gazprom empresa conjunta (joint venture) da Wingas com Wintershall, uma subsidiária da BASF,  é a maior produtora de petróleo e gás da Alemanha e controla 18% do mercado de gás. Gazprom outorgou aos seus principais parceiros alemãs participação em seus ativos russos, nunca visto anteriormente. Assim, BASF e E.ON controlam cada uma  cerca de um quarto dos campos de gás de  Lujno-Rousskoie  que alimentarão em grande parte o circuito North Stream.  Não será coincidência se a equivalente alemã da Gazprom, chamado de "Gazprom a germânica" chegar a ser proprietária de 40% da empresa austríaca Austrian Centrex Co, especializada em armazenamento de gás e se destina a ampliar-se até Chipre. 
Esta expansão não é certamente do agrado da Turquia, país ansioso por sua  participação no projeto Nabucco . Participação que consistiria em  armazenar, comercializar e transportar um volume de gás que chegaria a 31.000 milhões de metros cúbicos de gás por ano, cifra que poderia crescer para 40.000 milhões ao ano, um projeto que faz com que  Ancara seja cada vez mais dependente das decisões Washington e da OTAN , sobretudo tendo em conta as várias recusas aos seus pedidos de adesão à União Européia. 

Os vínculos estratégicos determinados pelo  gás são cada vez mais decisivos na arena política : o lobby de Moscou junto ao Partido Social Democrata alemão, na  Renânia do Norte-Westfália, onde há uma  importante base industrial , centro do conglomerado alemão RWE,  fornecedor de eletricidade e onde se situa uma subsidiária da E.ON 
Hans-Joseph Fell, responsável pela política de energia dos Verdes, reconheceu a existência dessa influência. Segundo ele, as 4 empresas alemãs vinculadas à Rússia têm um papel importante na definição da política energética alemã. Estas empresas contam com a Comissão de Relações Econômicas da Europa Oriental, - isto é, com  empresas que mantêm contatos econômicos muito próximo com a Rússia e com os países do antigo bloco soviético -  Comisão que dispõe , por sua vez, de uma rede muito complexa  de influências sobre os ministros e a opinião pública. Na Alemanha,  a discrição é a regra no que diz respeito à crescente influência da Rússia, com base no princípio de que é altamente necessário melhorar a "segurança energética" na Europa.
É interessante notar que a Alemanha considera que a política da União Européia destinada a resolver a crise do euro pode prejudicar os investimentos Germano-Russos . Esta razão, entre outras, explica a relutância da Alemanha para o resgate do euro, moeda  muito sobrecarregada pelas dívidas da Europa, apesar do bloco germânico poder suportar essas dívidas. Além disso, sempre que os demais países  europeus se opõem à sua política com a Rússia, a Alemanha declara que os planos utópicos da Europa não são viáveis ​​e que , inclusive,  poderiam  levar a Rússia a vender  seu gás na Ásia, o que colocaria em risco a segurança energética da Europa. 

Este casamento por interesses entre os Germânicos e os russos  está enraizado no legado da Guerra Fria:  3 milhões de russos vivem atualmente na Alemanha, representando a maior comunidade estrangeira desse país,  depois da comunidade turca. Putin também era favorável  a utilização da rede de  responsáveis da RDA,  que favoreceu os interesses das empresas russas na Alemanha, sem mencionar o recrutamento de ex-agentes da Stassi, como diretores de pessoal e finanças  da Gazprom Germania, assim como o diretor financeiro do Consórcio North Stream, Warnig Matthias , quem, segundo o Wall Street Journal , ajudou  Putin recrutar espiões em Dresde, na época em que o próprio Putin era agente da KGB. É certo, no entanto, que o uso que a Rússia tem dado as suas  antigas relações não tem sido prejudicial para a Alemanha, uma vez que os interesses de ambas as partes têm sido beneficiados sem favoritismo para qualquer lado.

O projeto North Stream , a principal ligação entre a Rússia e a Alemanha, foi inaugurado recentemente com um condutor que custou 4,700 milhões de euros. Apesar deste condutor ligar a Rússia com a Alemanha, dado o reconhecimento dos europeus  do fato de este projeto garantir a segurança energética da Europa, França e Holanda foram forçados a declarar que era de fato um "projeto europeu" . É importante mencionar, nesse sentido que o Sr.. Lindner, diretor-executivo do Comitê Alemão das Relações Econômicas com os Países da Europa Oriental declarou, com toda a seriedade do mundo que se tratava  realmente  de "um projeto europeu e não de um projeto alemão e que [o projeto] não encerraria  a Alemanha em maior dependência da Rússia”. Esta declaração ressalta a inquietação provocada  pelo aumento da influência russa na Alemanha. A verdade é que o projeto North Stream é, pela sua estrutura, moscovita e não europeu. 
Os russos podem paralisar a sua vontade a distribuição de energia na Polônia e em vários países , isso sem falar que terão todas as condições  de vender o gás para a melhor oferta. No entanto, a Alemanha é de muita importância para a  estratégia da Rússia, como plataforma que necessita para  desenvolver sua estratégia continental, especialmente considerando que a Gazprom Germania participa de 25 projetos cruzados, em países como a Grã-Bretanha, Itália , Turquia, Hungria, entre outros. Isto nos leva a crer que a Gazprom está prestes a se tornar, em pouco tempo,  uma das maiores empresas do mundo, se não se tornar a mais importante.


Um novo mapa da Europa e, em seguida, um novo mapa do mundo

Os gasodutos North Stream, South Stream y Nabucco

Os dirigentes da Gazprom  não só desenvolveram seu projeto, como  também conseguiram conter o projeto Nabucco. Gazprom detém 30% do projeto envolvendo a construção de uma segunda linha condutora de gás para o leste, seguindo aproximadamente a mesma rota prevista do projeto Nabucco. Os próprios partidários dessa  segunda condutora confessam que se trata de  um projeto "político" destinado a proporcionar uma demonstração de força ao travar e até mesmo bloquear o projecto Nabucco. Moscou se esforçou , também, por comprar gás da Ásia central e no mar Cáspio para enterrar este projeto e ridicularizar Washington politicamente, economicamente e estrategicamente.
Gazprom está explorando instalações vinculadas ao gás na Áustria, ou seja, no entorno estratégico da Alemanha, além de alugar instalações na Grã-Bretanha e na França. São, no entanto, as importantes estruturas de armazenamento na Áustria, que serão usadas para redesenhar o mapa  energético de Europa, já que irão prover a Eslovênia, a Eslováquia, a Croácia, a Hungria, a Itália e a Alemanha. A essas instalações deve ser adicionado o centro de armazenamento que Gazprom está construindo em Katrina, com a cooperação da Alemanha,  capacitando desta forma a exportação de gás para os principais centros de consumo na Europa Ocidental.

A Gazprom criou  uma instalação comum de armazenamento com Sérvia para fornecer gás à Bósnia-Herzegovina e a própria Sérvia. Também em curso, a realização de estudos de viabilidade sobre métodos de armazenamento semelhantes na República Checa, Roménia, Bélgica, Grã-Bretanha, Eslováquia, Turquia, Grécia e, inclusive, na  França. 
A Gazprom reforça a posição de Moscou, provedor de 41% do gás consumido na Europa. Isto representa uma mudança substancial nas relações entre o Oriente e o Ocidente, a curto, médio e longo prazo. Também indica um declínio da influência estadunidense, representada pelos escudos antimísseis, e se verifica o  estabelecimento de uma nova organização internacional cujo pilar fundamental será a gás. Tudo isso explica a intensificação da luta pelo gás, desde a costa oriental do Mediterrâneo até o Oriente Médio.

Nabucco y Turquia em  dificuldades 

Carente de fontes de abastecimento e sem clientes identificados, Nabuccos segue em atraso


Era de supor que Nabucco transportaria gás até a  Áustria  através de 3 900 km do território turco e que estava projetado para fornecer anualmente, para os mercados europeus, 31 000 milhões de m3 de gás natural provenientes do Oriente Médio e da bacia do mar Cáspio. A difícil  situação da coalizão OTAN/EUA/França para eliminar os obstáculos aos seus interesses em matéria de abastecimento de gás no Oriente Médio, principalmente na Síria e no Líbano, reside na necessidade de assegurar a estabilidade e o consentimento do entorno quando se fala de infra-estruturas e investimentos que requerem a indústria do gás. A resposta Síria foi firmar contrato que autoriza a passagem do gás iraniano em seu território, passando através do Iraque. A batalha é, portanto, centrada em torno do gás sírio e libanês. Ele irá alimentar a Nabucco ou South Stream ??
O consórcio Nabucco é composto por várias empresas: a alemã REW, a austríaca OML, a turca  Botas, a búlgara Energy Holding Company e a romena Transgaz. Há 5 Anos,  os custos iniciais foram estimados em 11.200 milhões de dólares, mas até o ano 2017 poderia chegar a 21.400 milhões. Isso levanta inúmeras questões à sua viabilidade econômica já que Gazprom tem contratos com vários países que deveriam alimentar a Nabucco, que já não pode contar com os excedentes do Turcomenistão, sobretudo após as tentativas sem sucesso para capturar o gás iraniano. Esse último fator é um dos segredos que são desconhecidos sobre a batalha por Irã, país que ultrapassou  a linha vermelha em seu desafio aos Estados Unidos e Europa ao escolher o Iraque e a Síria como rotas para o trajeto de uma parte de seu gás.

Assim, a maior esperança de Nabucco é o abastecimento com o gás do Azerbaijão e o reserva de Shah Deniz, convertido em quase a única fonte de aprovisionamento de um projeto que parece ter fracassado sem ter começado. Isso é o que se segue, por um lado, da aceleração da assinatura de contratos que Moscou concluiu para a compra de fontes inicialmente destinadas a Nabucco e das dificuldades surgidas, por outro lado, ao  tratar de impor mudanças geopolíticas no Irã, Síria e Líbano. E tudo isto ocorre num momento em que a Turquia reclama sua participação no projeto Nabucco, quer seja mediante um contrato com o Azerbaijão para a compra de 6.000 milhões de m ³ de gás em 2017 ou através da anexação da Síria e do Líbano, com a esperança de impedir o trânsito do petróleo iraniano ou receber uma parte da riqueza gasífera do Líbano e da Síria. Parece que a possibilidade de  ter um lugar na nova ordem mundial exige prestar certa quantidade de serviços, que vão do apoio militar até servir de base ao dispositivo estratégico do escudo antimisseis.
Talvez a principal ameaça para o Nabucco seja a tentativa russa de faze-lo fracassar através da negociação de contratos mais vantajosos a favor da Gazprom para North Stream e South Stream, que invalidaria os esforços dos Estados Unidos e da Europa, diminuiria a influência de ambos e perturbaria a política energética dessas concorrentes no Irã e/ou no Mediterrâneo. Além disso, Gazprom poderia tornar-se um dos investidores ou operadores mais importantes das novas reservasde gás na Síria e no Líbano. Não por acaso, em 16 de agosto de 2011, o Ministro de Petróleo da Síria anunciou a descoberta de um poço de gás em Qara perto de Homs, cuja capacidade seria de 400 000 m ³ por dia (146 milhões de m ³ por ano), para não mencionar a importância do gás Mediterrâneo existente.

Os projetos North Stream e South Stream , por conseguinte, reduziu a influência política dos Estados Unidos, que agora parece ter ficado para trás. Os sintomas de hostilidade entre os Estados europeus e a Rússia foram atenuados, mas a Polônia e os Estados Unidos não parecem dispostos a renunciar. No final de outubro de 2011, estes dois países anunciaram a alteração de sua política de energia como conseqüência da descoberta de reservas européias de carvão que deveriam diminuir a dependência à Rússia e ao Médio Oriente. Parece  ser uma meta ambiciosa, mas só possível a longo prazo devido a inúmeras etapas previas  exigidas  para a comercialização já que se trata de um  tipo de carvão encontrados em rochas  sedimentares a milhares de metros abaixo da terra, que requer o uso de técnicas hidráulicas de fratura e alta pressão para liberar o gás e sem falar ou  considerar os riscos para o ambiente.

A participação da China


 Organização de Cooperação de Shangai, conformada por Russia, China, Kazajstán, Kirguistán, Tayikistán y Uzbekistán

A cooperação sino-russo no campo energético  é o motor da parceria estratégica entre os dois gigantes. De acordo com especialistas, constitue, inclusive,  "base" do duplo veto em defesa da  Síria no Conselho de Segurança.

Esta operação não  tem que ver unicamente com o abastecimento da China em condições preferenciais. China participa  diretamente com a distribuição de gás, através da aquisição de ativos  e de instalações, bem como em um projeto de controle conjunto das redes de distribuição. Paralelamente, Moscou mostra sua flexibilidade nos preços do gás, desde que tenha acesso ao ambicionado mercado interno chinês.Se tem garantido, portanto, que os peritos russos e chineses trabalhem juntos nos seguintes  campos: « Coordenação de estratégias energéticas, Previsão e prospecção, Desenvolvimento dos  mercados, Eficiência energética e Fontes alternativas de energia».

Outros interesses estratégicos comuns estão relacionados com os riscos que representa o projeto americano de 'escudo antimísseis'. Washington tem envolvido não apenas o Japão e Coréia do Sul, mas no início de setembro de 2011, convidou, também,  a Índia a aderir ao projeto. Isto traz como conseqüência que as preocupações de ambos os países se cruzam no momento que Washington trata de reativar sua estratégia na Ásia central ou em seja na Rota da Seda

Essa estratégia é a mesma que George Bush havia empreendido (o projeto da Grande Ásia Central) com vistas a contrariar, com a colaboração da Turquia,  a influência da Rússia e da China, resolver a situação no Afeganistão até 2014 e impor  a força militar da OTAN em toda região. O Uzbequistão já sinalizou que  poderia acomodar a OTAN, e Vladimir Putin tem avaliado  que o que poderia fazer fracassar as investidas do ocidente e impedir que os Estados Unidos prejudique a Rússia seria a expansão do espaço Russia-Kazajstán - Bielorrússia, em cooperação com Pequim.

O panorama dos mecanismos da atual luta internacional  dá  idéia do processo existente de formação de uma nova ordem internacional, com base na luta pela supremacia militar e cujo elemento central é a energia,  com o gás em primeiro lugar.



O gás de Síria
A «revolução siria» é uma encenação midiática que esconde a intervenção  militar ocidental para a conquista do gás.

Quando Israel empreendeu  a extração de petróleo e gás, a partir de 2009, ficou claro que a bacia do Mediterrânea  se havia somado ao jogo e que haveria duas possibilidades: Síria seria  alvo de um ataque ou toda a região viveria em paz, pois se supõe que o século XXI seja o século da energia limpa.

De acordo com o Washington Institute for Near East Policy (WINEP, Think-Tank do AIPAC), a bacia do Mediterrânea contém as maiores reservas de gás e é, precisamente,  na Síria onde se localizam as mais importantes. Este mesmo Instituto também emitiu a hipótese de que a batalha entre a Turquia e Chipre se  intensificará porque a Turquia não pode aceitar a perda do projecto Nabucco (apesar do contrato assinado com Moscou em Dezembro de 2011 para o transporte de grande parte do gás  de South Stream através da Turquia).

A revelação do segredo do gás sírio dá uma idéia da importância do que está realmente em jogo. Quem tenha o controle da Síria poderá controlar o Médio Oriente. E a partir da Síria, portão da Ásia, terá  em suas mãos a chave da Rússia e, também, da China, através da “Rota da Seda”, assim você poderá dominar o mundo neste século, já que é o século do gás.

É esta  a razão pela qual os signatários do acordo de Damasco, que permite que o gás iraniano passe pelo Iraque e chegue ao Mediterrâneo, criando um novo espaço geopolítico e cortando a linha vital do Projeto Nabucco, declararam na época que "A Síria é a chave da nova era".







Artigos que tratam do mesmo tema na Red Voltaire:


 «Suspende Estados Unidos sus planes de guerra convencional contra Damasco y Teherán», Red Voltaire, enero 2012.
 «¿Nueva guerra de Israel contra Líbano por el gas?», Alfredo Jalife-Rahme, Red Voltaire, 09 de agosto de 2010.
 «La nueva importancia geopolítica de Lubmin», F. William Engdhal, Red Voltaire, 19 de septiembre de 2010.
 «Cambio crucial en la geopolítica de oleoductos», M. K. Bhadrakumar, Red Voltaire, 08 de febrero de 2010 
Fontes:

Original:
La Syrie, centre de la guerre du gaz au Proche-Orient
Imad Fawzi Shueibi. Réseau Voltaire | Damas (Syrie) | 8 mai 2012.

http://www.voltairenet.org/La-Syrie-centre-de-la-guerre-du
En Español:
Siria, centro de la guerra del gas en el Medio Oriente. por Imad Fawzi Shueibi
Red Voltaire | Damasco (Siria) | 13 de mayo de 2012

http://www.voltairenet.org/Siria-centro-de-la-guerra-del-gas



 Postado do sítio:http://ciaramc.org/ciar/boletines/cr_bol433.htm





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