segunda-feira, 1 de abril de 2013

Encruzilhadas Perigosas: A ameaça de uma guerra nuclear preventiva dirigida contra o Irã



Por mais de uma década Irã vem sendo obstinadamente acusado de estar desenvolvendo armas nucleares, e isso sem evidências. A República Islâmica do Irã é continuamente representada pela mídia ocidental como uma ameaça a segurança de Israel e do mundo ocidental.
Numa amarga ironia, a Comunidade de Inteligência dos Estados Unidos em relação a alegada capacidade de armas nucleares do Irã, vem refutando as barragens de desinformação, assim como as declarações belicosas provenientes da Casa Branca. A Avaliação do Serviço de Inteligência Nacional de 2007, NIE na sigla inglesa, declarava que: “julga-se com grande confiança que no outono de 2003, Teerã  tenha suspendido seu programa de armas nucleares.” (2007 Avaliação do Serviço de Inteligência Nacional   Irã: Intenções e capacidades nucleares; Novembro de 2007, Veja também “Departamento do Diretor de Inteligência Nacional”, ODNI na sigla inglesa. [1]
“Nós avaliamos com uma certa confiança que Teerã não tenha retomado seu programa de armas nucleares, até quando dos meados de 2007, mas não sabemos se atualmente tenha intenção de desenvolver armas nucleares.
- Nós continuamos a avaliar com uma confiança indo de moderada a alta, que Irã não possuí atualmente uma arma nuclear.
- A decisão de Teerã de suspender seu programa de armas nucleares sugere que os iranianos estarão menos determinados a desenvolver armas nucleares do que nós estivemos julgando desde 2005.  A nossa avaliação de que o programa tivesse sido suspendido em resposta as pressões internacionais, sugere que o Irã poderia ser mais vulnerável a influências, na questão, do que tínhamos julgado previamente ” (2007 Avaliação do Serviço de Inteligência Nacional, Irã: Intenções e capacidades nucleares; Novembro de 2007) [2]
Em fevereiro de 2011, o Diretor da Inteligência Nacional James R. Clapper (foto)
- quando da apresentação da Avaliação do Serviço de Inteligência Nacional de 2011 (NIE) para o Comitê de Inteligência do Senado – foi confidenciado – com alguma hesitação – que a República Islâmica do Irã não estaria procurando desenvolver uma capacidade para armas nucleares: “nós não sabemos se depois de um tempo Irã irá decidir-se por construir armas nucleares.”
O NIE de 2011 confirma em grande parte os resultados obtidos pela comunidade dos serviços de inteligência dos Estados Unidos no seu NIE de 2007, que continuava, de acordo com o “The New York Times”, a ser de que “a perspectiva das 16 agências dos serviços de inteligência, age em consenso geral.”
A doutrina da guerra nuclear preventiva do pós- 9/11
Tendo sido primeiramente formulada na administração de Bush, através da “Revisão da Postura Nuclear” de 2002,  a doutrina da guerra nuclear preventiva, que se integra na Guerra Global ao Terrorismo, começou a tomar forma imediatamente depois da guerra do Iraque.  Um ataque nuclear de prevenção `defensiva´ contra o Irã, e isso através de usar armas nucleares táticas, foi apresentado como uma forma de destruir o não-existente programa de armas nucleares da República Islâmica do Irã.
Os chamados `mini nukes´, ou seja, pequenas armas nucleares possíveis de serem transportadas numa mala, numa mochila, ou em qualquer outro compartimento pequeno, foram caracterizados como a `arma ideal´ para se conduzir ataques nucleares preventivos.
Em 2003 os mini nukes, constituídos de bombas contendo ogivas ou pontas nucleares capazes de arrebentar abrigos antiaéreos de grande solidez e de maior ou menor profundidade, foram re-categorizadas pelo Senado dos Estados Unidos como bona fide armamentos convencionais. [Bona Fide sendo usado como um conceito que indica intenções honestas  independentemente dos resultados que essas possam trazer]. A nova definição de ogivas nucleares obscureceu a distinção entre armamentos convencionais e nucleares.
O Senador Edward Kennedy, na ocasião, acusou a administração de Bush por ter desenvolvido “uma geração de armas nucleares mais usáveis”. Através de uma campanha que listou o apoio de cientistas nucleares “de autoridade”, os mini-nukes foram apresentados como instrumentos de paz, em vez de instrumentos de guerra.
“Administradores oficiais argumentam que armas nucleares de baixo rendimento, como os mini nukes, seriam necessárias como ameaças dignas de crédito a poderem ser usadas contra estados “sem eira nem beira” [Irã, Coréia do Norte]. A lógica é de que as armas nucleares existentes são muito destrutivas para serem usadas, excepto numa guerra nuclear total. Potenciais inimigos compreendem isso e portanto não consideram uma ameaça de retaliação nuclear como digna de crédito. Entretanto, armas nucleares de baixo rendimento, como os mini nukes, sendo menos destrutivas, poderiam ser concebidas como usáveis. Isso as faria mais efetivas como ameaça credível.” (Opponents Surprised By Elimination of  Nuke Research Funds, Defense News, 29 de Novembro, 2004)
Numa lógica extremamente invertida armas nucleares são apresentadas como meios de construção da paz e de prevenção contra `estragos colaterais´. O Pentágono confidenciou a esse respeito, que os mini-nukes seriam `inofensivos aos civís´ porque a explosão iria `ser feita abaixo da terra´. No entanto, cada um desses mini-nukes constituí em termos de explosão e de potencial chuva radioativa  – uma grande parcela da bomba que caiu sobre Hiroshima em 1945.
Avaliações dos rendimentos das bombas de Nagasaki e Hiroshima indicam que esses seriam de 21.000, e de 15.000 toneladas, respectivamente. Mini-nukes tem um rendimento, quanto a capacidade explosiva, entre 1/3 e 6 vezes a bomba de Hiroshima.
Seguindo a “luz verde” do Senado em 2003, o qual apresentou os mini nukes como `bombas humanitárias´ uma mudança importante na doutrina das armas nucleares foi desenvolvida. Os nukes de baixa-rentabilidade foram aceitos para `uso em campos de batalha´. Em contraste com os avisos em maços de cigarros (veja a foto proposta para a marca da Administração para Alimentos e Drogas), os elementos `consultivos´ sobre os `perigos das armas nucleares para a saúde humana´ já não são mais incluídos nos manuais militares. Esses manuais foram revisados. Essa `nova´geração de armas nucleares táticas é considerada como segura, sem perigo, assim como inócua. Os perigos da radiação nuclear já não são mais reconhecidos como tal. Não há mais impedimentos, ou obstáculos políticos para o uso de bombas termonucleares de baixo rendimento.
A `comunidade internacional´ endossa a guerra nuclear em nome de uma Paz Mundial.
Mini-nukes: O sistema preferido de armamentos para uma `guerra nuclear preventiva´
Enquanto relatórios apresentam uma tendência de descrever as bombas B61 como uma relíquia da guerra fria, a realidade se apresenta de maneira diferente: os mini-nukes são os sistemas de armamentos preferidos da doutrina da guerra nuclear preventiva. Eles deverão ser usados em teatros de guerras convencionais, contra "terroristas" e "estados patrocinadores de terrorismo", inclusive a República Islâmica do Irã.
Planos concretos para deslanchar um ataque nuclear preventivo contra o Irã tem estado na mesa de projetos do Pentágono desde 2004. Um ataque nuclear preventivo consistiria em dispor armas nucleares táticas B61 dirigidas contra o Irã. Planeja-se que o ataque deverá ser ativado a partir de bases militares na Europa Ocidental, Turquia e Israel.
Em 2007  a OTAN confirmou seu apoio à doutrina nuclear preventiva dos Estados Unidos num relatório intitulado "A caminho de uma grande estratégia para um mundo incerto: Renovando associações transatlânticas". [3]
O relatório (que tem como autores os ex- chefes de equipe dos sectores de defesa dos EUA, Reino Unido, Alemanha, França e Países Baixos e que foi patrocinado pela Fundação Noaber da Holanda) propõe o uso de armas nucleares num ataque preventivo, de carácter não-retaliatório mas sim de carácter ofensivo iniciador (`first strike´)  contra países não-nucleares. Declaravam então que esse seria:
“o  intrumento ideal para uma resposta assimétrica – ao mesmo tempo também que o melhor instrumento  para uma escalação. Eles são também mais do que um instrumento, porque transformam a natureza de um conflito e alargam o seu alcance do regional para o global. Lamentávelmente, armas nucleares – e com elas a opção de usá-las pela primeira vez – são indispensáveis,  uma vez que simplesmente não há prospectos para um mundo não-nuclear.” (Ibid, p. 96-97, ênfases acrescentadas)
De acordo com os autores Irã constitui uma ameaça estratégica de principal importância – não só para Israel, “o qual ameaçou de destruir, mas também para toda a região.” (Ibid, p.45) O que é necessário é que Aliança Atlântica “restaure através de uma  escalação [militar] a capacidade de dissuasão.”
Nesse contexto o relatório endossado tanto pela OTAN como pelo Pentágono, contempla:
“a dominância da escalação, o uso de um saco cheio de cenouras e cacetetes – e realmente de todos os instrumentos suaves e severos,  indo de protestos diplomáticos a armas nucleares.” (Report, p.96, ênfases acrescentadas)
Em dezembro de 2011, menos de um ano depois da publicação da Avaliação do Serviço de Inteligência Nacional (NIE) de 2011, avaliação essa que sublinhava que Irã não tinha um programa de armas nucleares, uma "não opção para fora da mesa de projetos" numa agenda dirigida contra o Irã, foi avançada pela administração de Obama.
O que representavam-se aqui mentalmente era uma postura militar planejada e coordenada pelo conjunto EUA-OTAN-Israel em relação ao Irã. Foi entendido, como foi confidenciado pelo ex Secretário da Defesa Leon Panetta, que Israel não iria agir unilateralmente contra o Irã. No caso de um ataque ao Irã, a “luz verde” deveria ser garantida por Washington.
Qualquer operação militar contra o Irã por parte de Israel precisa de ser coordenada com os Estados Unidos e ter seu apoio”, disse Panetta.
Os vários componentes da operação militar iriam estar firmemente abaixo do Comando dos Estados Unidos e ser coordenados pelo Pentágono e pelo USSTRATCOM, na base Offutt da Força Aérea em Nebrasca. [4]
Ações militares por parte de Israel seriam levadas a cabo em estreita coordenação com o Pentágono. A estrutura de comando da operação é centralizada e ao fim e ao cabo, Washington decide se, e quando deslanchar uma ofensiva militar.
Em Março de 2013  a resolução em relação ao Irã de "todas as opções" estava na agenda durante a visita oficial a Israel. Enquanto uma abordagem integrada EUA-OTAN-Israel em resposta "aos perigos de um Irã armado com armas nucleares" tenha sido reafirmada, o tom da discussão ia na direção de uma ação militar contra o Irã.
A visita de Obama a Israel foi precedida por altos níveis de consultações bi-laterais, incluindo a visita do Chefe de Equipe da IDF( Exército de Israel) Benny Gantz a Washington, em fevereiro, para discussões relacionadas ao Irã e a Síria com o Presidente do Conjunto dos Chefes de Equipe dos Estados Unidos, o General Martin Dempsey. Benny Gantz foi acompanhado pelo Major General Aviv Kochavi, diretor do Serviço de Inteligência Militar da IDF, no encontro com os seus contrapartes americanos. O novo chefe do Pentágono, Chuck Hagel, estará visitando Israel em abril, como parte de um encontro-de-continuação.
“Tweeters apontaram para o fato de que quando Obama tirou o seu paletó, Netanyahu imediatamente imitou o presidente. Tudo parecia muito bem coordenado. (Foto de twitter.com user @netanyahu)
No curso da visita de Obama, o primeiro-ministro Netanyahu reiterou a necessidade para “uma ameaça de ação militar clara e digna de crédito [contra o Irã],” enquanto confidenciando que Israel poderia agir unilateralmente. A esse respeito vale a pena notar que em agosto de 2012, uns poucos meses antes das eleições presidenciais nos Estados Unidos, uma fuga de informação vinda de um documento de instruções e informações da IDF (traduzido do hebraico) tinha revelado os detalhes do  “ataque de choque e pavor”  proposto por Netanyahu contra o Irã.
“O ataque de Israel será aberto por um ataque coordenado, que inclui um cyber-ataque sem precedentes … Uma barragem de dezenas de mísseis balísticos seriam lançados de Israel em direção ao Irã … vindos dos submarinos de Israel na vizinhança do Golfo Pérsico. Os mísseis estariam armados com elementos altamente explosivos equipados com pontas reforçadas, projetadas especialmente para penetrar alvos robustos e de grande dureza. … Uma barragem de centenas de mísseis de diversas distâncias irá abater sistemas de comando e controle, instalações de pesquisa e desenvolvimentos de projetos, … entre os alvos aprovados para ataque –   Shihab 3 e Sejil,  silos de mísseis balísticos, tanques de armazenamento para componentes químicos dos combustíveis para foguetes, instalações industriais que produzam sistemas para controle de mísseis, plantas de produção de centrífugas e outros.” – ênfases acrescentadas. [5]
Os detalhes do ataque mencionado na fuga de informação do documento de informações e instruções da IDF acima mencionado, pertencem somente ao uso de sistemas de armamentos convencionais.
Esse artigo foi originalmente publicado em RT Op- Edge.
Michel Chossudovsky
Global Research 26 de março de 2013
RT Op- Edge 25 de Março de 2013

Tradução Anna Malm – *Licenciatura: Economia e Psicologia; Bacharelado: Ciência Política e Economia.Notas.
[1] (2007 National Intelligence Estimate Iran: Nuclear Intentions and Capabilities; November 2007, See also Office of the Director of National Intelligence (ODNI)
[2] (2007 National Intelligence Estimate Iran: Nuclear Intentions and Capabilities; November 2007)
[3] ‘Towards a Grand Strategy for an Uncertain World: Renewing Transatlantic Partnership’
[4] US Strategic Command Headquarters (USSTRATCOM) at the Offutt Air Force base in Nebraska
[5] (Quoted in Richard Silverstein, Netanyahu’s Secret War Plan: Leaked Document Outlines Israel’s ‘Shock and Awe’ Plan to Attack Iran, Tikun Olam and Global Research, August 16, 2012, emphasis added).

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