quarta-feira, 27 de março de 2013

Mensagem do Partido Árabe Socialista Baath sobre a crise na Síria e o papel negativo da Liga Árabe






Partido Árabe Socialista Baath
Liderança Nacional

Mensagem da Liderança Nacional para os partidos estrangeiros amigos
sobre a atual crise na Síria
e o papel negativo adotado pela Liga Árabe para lidar com esta crise.

A cerca de dois anos, a República Árabe da Síria vem enfrentando uma agressão  americano - sionista que visa atingir  seu povo, territórios, posição nacional e seu papel de defender as causas da nação.
Os árabes, as potências internacionais, regionais e as forças estrangeiras são responsáveis ​​por essa agressão, liderada pelos Estados Unidos da América e executada por grupos armados terroristas que destroem, matam e sequestram pessoas.
O papel principal destas potências estrangeiras é impor sanções econômicas, utilizando-se de uma campanha de mídia enganosa e do fornecimento de dinheiro, armas e elementos de combate devidamente treinados para as gangues armadas dentro da Síria.
A atuação e a posição da Liga Árabe abrem um perigoso precedente em sua história, porque desde o início e até agora, ela vem atuando de forma negativa, participando diretamente na destruição da Síria ao invés de ajuda-la a encontrar uma solução para crise, desde o momento em que suspendeu a participação da Síria como membro na Liga até o recente reconhecimento da oposição externa representada pela coalizão, cuja vontade é controlada pelas potências estrangeiras que intervêm em assuntos internos sírios e, finalmente, a resolução do Conselho da Liga, de 6 de março, sobre a concessão do assento sírio na Liga à esta coalizão e seu pedido de  intervenção estrangeira na Síria.
Portanto, a Direção Nacional do Partido Socialista Árabe Baath gostaria de apresentar esclarecimentos sobre essas agressões e sobre as repercussões e os perigos das resoluções da Liga Árabe sobre a segurança nacional árabe e a estabilidade de toda região:
- As resoluções da Liga, especialmente as que se referem a armar a oposição síria e à ocupação do assento da Síria na Liga Árabe pelo representante da oposição externa, constituem um perigoso precedente na história da Liga e na atuação árabe conjunta e uma violação de suas normas, procedimentos e princípios. Contradizem, totalmente, as suas disposições e caráter, particularmente no que se refere à manutenção da segurança e estabilidade dos Estados membros, que são a base principal para a construção da Liga.
- Através desta resolução, a Liga afirma estar amarrada ao suporte político negativo das monarquias dos sheikhs, em termos de dinheiro, petróleo e gás do Catar e da Arábia Saudita que, perversamente, se esforçam para esconder a verdade sobre o terrorismo organizado que ocorre na Síria e a instigação externa, dirigida por círculos ocidentais, que querem impedir a solução pacífica da crise, rejeitar quaisquer planos internacionais ou os esforços para resolver a crise na Síria de forma pacífica.
- Esta resolução pretende fragmentar e enfraquecer a Síria árabe, que é a base da resistência e da libertação. Tal resolução não pode ser isolada dos contextos das resoluções anteriores, mas sim conclui o curso da falsa acusação e da negação do papel histórico árabe da Síria na criação desta Liga e em suas atividades e seus esforços para resolver os problemas na grande nação árabe.
- A resolução apoia o terrorismo e os grupos armados que têm diferentes nomenclaturas. Alguns deles são uma extensão da Al Qaeda. Ela contradiz os esforços que são feitos para encontrar uma solução política para a crise síria. É uma tentativa de obstruir o programa político, plano de trabalho e ideias construtivas apresentadas por Sua Excelência o Presidente Bashar Al Assad, no dia seis de janeiro último, que estabelece as bases de um amplo diálogo nacional que leva à busca de soluções adequadas para a crise síria, que estejam em harmonia com o princípio da soberania nacional, tratando-se da regra no relacionamento entre as nações.
- A resolução leva a um roubo do papel da Liga de ser uma combinação-quadro, onde ninguém tem o direito de se sobrepor em seu objetivo de alcançar propostas políticas que determinados países árabes querem alcançar,  encabeçados pelo Qatar e pela Arábia Saudita, em conluio com alguns estados conhecidos na região.
- A resolução não tem legitimidade, especialmente porque vários países árabes a enxergam com reservas. É considerada nula devido a não permissibilidade de retirar o reconhecimento de um governo legítimo de um Estado membro da Liga, especialmente quando este país é membro fundador da Liga e também a ilegalidade de qualquer resolução referente ao reconhecimento de uma organização que finge representar um dos Estados membros da Liga.
- A resolução é uma agressão flagrante, de acordo com as disposições das resoluções da Assembleia Geral da ONU, relativas a dar uma definição específica para o significado de agressão.

Caros amigos,
A Liderança Nacional do Partido Socialista Àrabe Baath está surpresa com a atitude vergonhosa por tais resoluções da Liga, que servem à agenda sionista americana, que quer redesenhar o mapa da nossa região árabe, como um Sykes-Picot II, com o objetivo de transformar o sonho de uma nação árabe em cantões dispersos. Tal passo em direção à Síria, na próxima 24ª. Cúpula Árabe, é considerado um precedente perigoso. É semelhante a uma declaração de guerra contra a Síria e seu povo, país que dedicou todo o seu potencial para ajudar seus irmãos árabes durante as crises e as guerras que enfrentaram. Isso exige um movimento internacional eficaz para condenar e abortar este passo.
Conclamamos os partidos e organizações amigas para se posicionarem ao nosso lado, contra o agressivo ataque sionista à Síria árabe, acabar com a crise na Síria e a movimentarem-se rapidamente, tanto no âmbito oficial quanto em nível popular, para expor as práticas do Conselho da Liga Árabe e plano traçado por alguns de seus membros e a tomar as medidas necessárias contra este Conselho.
A Direção Nacional do PASB (BASP) conclama os partidos amigos ​​para assumir posições responsáveis ​​e práticas contra este ataque atroz ao sacramento da Síria, de forma flagrante, selvagem e  uma violação dos valores árabes e humanitários e a desmascarar a natureza e a verdade sobre este plano, que não tem como alvo somente Síria e sua segurança, mas também a segurança e a estabilidade mundial.

                                                            Liderança Nacional
                                          Partido Árabe Socialista Baath

Liga Árabe autoriza seus membros a armar os rebeldes sírios




Na 24ª cúpula anual da Liga Árabe, realizada em Doha, no Qatar, os países árabes concordaram com o direito de cada Estado-Membro em fornecer, de acordo com a sua vontade, todos os meios, incluindo militares aos grupos armados sírios. 
Em esta reunião, o líder das Forças da Coalizão Nacional da Revolução e da oposição síria (CNFROS) Moaz Ahmed al-Khatib, pediu que a oposição síria ocupasse o assento do governo de Damasco, em outras organizações internacionais, incluindo a Organização das Nações Unidas (ONU).
Além disso, solicitou o apoio dos EUA em proteger as áreas do norte, onde os rebeldes conseguiram avanços significantes com o apoio dos misseis Patriot terra-ar ao mesmo tempo em que afirma contraditoriamente que o futuro da Síria não deve ser determinado por estrangeiros.
Em tempo. Os misseis Patriot terra-ar são fornecidos pelos Estados Unidos.

Postado do http://www.iranews.com.br/noticias.php?codnoticia=9633

terça-feira, 26 de março de 2013

Para as mulheres iraquianas a promessa dos EUA de democracia é tudo menos liberdade



Foto: Em 2008, uma mulher iraquiana passa ao lado de um soldado britânico e de um veículo militar com um cartaz com um dólar impresso em que está escrito em árabe “Podes conseguir algum dinheiro em troca de alguma informação”. Foto de Essam al-Sudani/AFP/Getty Images.
Uma década depois da invasão do Iraque liderada pelos Estados Unidos, a destruição causada pela ocupação estrangeira e pelo regime resultante teve um impacto amplo sobre o cotidiano dos iraquianos – o exemplo mais alarmante disto é a violência contra as mulheres. Ao mesmo tempo, a política do regime sectário em vestes religiosas está a levar as mulheres a perderem os seus direitos que tinham ganho com muito esforço: o emprego, a liberdade de movimento, o casamento civil, os benefícios sociais e o direito à educação e à saúde.
Apesar disto, as mulheres tentam sobreviver e procuram proteção para si e para as suas famílias. Mas, para muitas mulheres, a violência que enfrentam provem da mesma instituição que deveria garantir a sua segurança – o Governo. Os altos funcionários do regime iraquiano fazem eco das mesmas negações que as autoridades de ocupação britânicas e americanas, afirmam que existem muito poucas mulheres iraquianas detidas ou nenhuma mesmo. Uma quantidade cada vez maior de organizações de direitos humanos internacionais e iraquianas dão conta de uma realidade bem diferente.
A difícil situação que as mulheres iraquianas detidas atravessam foi o ponto de partida para os protestos generalizados que se fizeram sentir em muitas províncias iraquianas desde 25 de dezembro de 2012. O tratamento que as mulheres receberam por parte das forças de segurança é uma ferida aberta que permanece rodeada de secretismo, especialmente desde 2003. Têm ocorrido detenções rotineiras de mulheres como reféns – uma tática para obrigar os seus homens a se renderem às forças de segurança, ou a confessarem crimes que lhes são imputados. Nos cartazes e painéis levados por milhares de manifestantes vêm-se as fotografias de mulheres encarceradas que pedem justiça.
Segundo o deputado iraquiano Mohamed al-Dainy, entre 2003 e 2007 ocorreram 1053 casos de violações documentadas, cometidas por soldados da coligação e forças iraquianas. Os advogados que defenderam as mulheres detidas afirmam que as práticas de detenção britânicas entre 2003 e 2008 incluíram assassínios ilegais, agressões, dissimulações, privação do sono, nudez forçada e a humilhações sexuais que em muitos casos afetaram mulheres e crianças. Os advogados das detidas afirmam que os abusos eram endêmicos decorrentes do “sistema, controlo, cultura e treino” do exército britânico
Estas mesmas forças de ocupação deram instrução às forças iraquianas. Muitas vezes ocorreram abusos sob a supervisão de comandantes norte-americanos que não estavam dispostos a intervir, como anunciou o Washington Post:
“De todo o derramamento de sangue no Iraque, nada pode ser mais perturbador que a campanha de tortura e assassinato levada a cabo pelas forças de polícia treinadas pelos Estados Unidos da América”
No período que se seguiu a Abu Ghraib os prisioneiros foram entregues às forças iraquianas. Isto permitiu-lhes torturá-los, enquanto as forças de coligação poderiam negar qualquer responsabilidade.
Hoje o Iraque pode orgulhar-se de ter uma das mais altas taxas de execução de sentença de morte do mundo. Num único dia, 19 de janeiro de 2012, 34 pessoas foram executadas, incluindo duas mulheres. 
Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, [1] considerou esse acontecimento como chocante:“Dada a falta de transparência nos processos judiciais, as principais preocupações sobre o processo e a justiça dos julgamentos, e a ampla gama de crimes para os quais a pena de morte pode ser imposta no Iraque.”
Não é de estranhar que dez anos depois da invasão a organização sediada nos EUA, Humans Rights Watch, tenha acusado as autoridades iraquianas de “violar com impunidade os direitos dos cidadãos iraquianos mais vulneráveis, especialmente as mulheres e os presos”. Este parecer da HRW é confirmado pelo comité de direitos humanos e da mulher, família e crianças do próprio parlamento iraquiano que concluiu que existem 1030 mulheres iraquianas detidas que estão sujeitas a abusos generalizados, entres eles ameaças de violação.
Em resposta a estas acusações o Primeiro-ministro Nouri al-Maliki ameaçou “deter aqueles membros do parlamento que tenham falado de violência contra as mulheres detidas”. Entretanto, o vice-Primeiro Ministro Hussain al-Shahristani reconheceu que existem 13000 presos sob custódia por ofensas terroristas, porém só de passagem fez menção às mulheres detidas:
“Transferimos todas as detidas para prisões nas suas províncias de origem”.
 Estas declarações de Al-Shahristani são apenas mais uma na longa lista de declarações contraditórias e equivocadas feitas pelos mais altos dirigentes do regime, desde a declaração de al-Maliki, que afirmou que “há apenas um punhado de mulheres terroristas”, desde a sua promessa contraditório de que iria perdoar todas as “prisioneiras detidas sem mandado judicial ou em vez de um parente do sexo masculino que tinha cometido um crime”. A esta declaração seguiu-se um desfile de nove mulheres vestidas de preto, dos pés à cabeça, no canal oficial do Estado, al-Iraqiya, como um gesto da “boa vontade” do regime.
Os ativistas e as organizações de direitos humanos iraquianas calculam que existam cerca de 5 000 mulheres encarceradas. A verdade vai-se sabendo pouco a pouco. Há umas semanas foram libertadas 168 presas e foi prometido que seriam libertadas mais 32. Porém ninguém foi levado à justiça com acusação de tortura, violação ou de abusos.
Era suposto isto tudo não ser assim. Foi o que prometeram às mulheres iraquianas.
Depois da invasão do Iraque criou-se um sistema de cotas para garantir que pelo menos 25 % dos membros do Parlamento eram mulheres. Na altura esta medida foi aplaudida como uma grande conquista do “Novo Iraque”, pois no regime do partido Baas a representação feminina era de apenas 8%. Porém esta estatística simbólica tem servido com frequência para encobrir os crimes do regime contra as mulheres.
Na realidade desde que a lei de cotas foi aprovada o Governo de al-Maliki tem renunciado a cota estabelecida para os postos do Governo: dos 44 ministérios só há uma ministra. Mas mesmo esta nomeação contém uma ironia cruel: o ministra dos Assuntos das Mulheres, al-Zaidi Ibtihal não hesita em afirmar:
“Sou contra a igualdade entre homens e mulheres. Se as mulheres fossem iguais aos homens, elas iriam perder muito”
O que talvez seja menos surpreendente é o facto de muitas organizações de mulheres tenham pedido o fim do ministério para os Assuntos das Mulheres depois da ministra ter adotado uma postura contra os direitos das mulheres em vez de se debater em favor destes.
Os direitos humanos, incluindo os das mulheres, são a prova decisiva da democracia. As declarações dos altos cargos iraquianos, incluindo as do Primeiro-ministro, demonstram que – contrariamente ao que muitos iraquianos haviam esperado – na realidade os “libertadores” estabeleceram as condições para que a injustiça continue. E isto, por sua vez, dá origem ao extremismo.
[1] Ver “O Iraque anunciou 21 execuções num só dia”, http://www.rebelion.org/noticia.php?id=163404
De: Haifa Zangana

http://www.globalresearch.ca/para-as-mulheres-iraquianas-a-promessa-dos-eua-de-democracia-e-tudo-menos-liberdade/5327273
Traduzido para Global Research por Filipe T. Moreira

sexta-feira, 22 de março de 2013

Invasão do Iraque pelos EUA completa 10 anos de impunidade

Tropas dos EUA invadem o Iraque em 20 de março de 2003 (US Army)


Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho
A invasão do Iraque pelos Estados Unidos completa 10 anos. A decisão tomada pelo então presidente George W. Bush  foi unilateral e ilegal, mas não sofreu consequências. Por isso, ele conseguiu manter por anos a fio uma guerra imperialista que custou milhões de vidas aos iraquianos, cometendo crimes contra a humanidade até hoje impunes.

A decisão de Bush inseriu-se em um contexto internacional dominado pela Doutrina Bush, que foi caracterizada pelo empenho por um mundo unipolar, de políticas unilaterais e imperialistas que tinham como único objetivo o estabelecimento irrefutável da hegemonia estadunidense sobre o mundo.

A convicção arrogante de que o país é um poder hegemônico que deve ordenar mundo (principalmente quando vendo seus amplos, ambíguos e instrumentais "interesses nacionais" ameaçados) foi a base da política externa estadunidense, mas que ainda precisava de aliados.
Dias antes da invasão, os EUA organizaram o ensaio de legitimação para a sua decisão unilateral e imperialista com a Cimeira dos Açores, realizada em 16 de março, em que se reuniu com os então primeiros-ministros Tony Blair (Reino Unido) e José María Aznar (Espanha), por exemplo.

No dia seguinte, Bush deu um "ultimatum" para que o presidente iraquiano Saddam Hussein e sua família deixassem o Iraque em 48 horas. Não correspondido, com o final do prazo o então presidente anunciou que iniciaria ataques aéreos e que enviaria 250.000 soldados ao Iraque, o que aconteceu gradualmente.

Depois de votarem contra a resolução de guerra levada pelos EUA ao Conselho de Segurança da ONU, a França e outros países europeus viram-se ameaçados pela afirmação de Bush, ainda nos Açores (quando já previa uma guerra), de que aquele seria "o momento da verdade".

O apoio do Reino Unido (o principal aliado dos EUA então) custou caro politicamente para o então primeiro-ministro Tony Blair, que além de contrariar os protestos da população civil, contrariou também o seu próprio Partido Trabalhista: cerca de 160 dos seus parlamentares haviam votado contra a iniciativa do governo de juntar-se à guerra dos EUA.

Já há uma série de estatísticas e avaliações, em relatórios complexos, discursos e avaliações de políticas de Estado, mas ainda nenhuma explicação plausível para a Guerra no Iraque, iniciada unilateralmente e de forma ilegal há exatos 10 anos pelos Estados Unidos contra aquele país.

De 2001 a 2013, neste novo século já iniciado por uma política internacional dominada pelo imperialismo estadunidense (através da instrumental "guerra contra o terror" que criou raízes no imaginário norte-americano e, depois, de seus aliados europeus), os EUA gastaram ou comprometeram-se com obrigações que somaram 3,1 trilhões de dólares em guerras no Afeganistão, Iraque e Paquistão. O custo total é ainda mais alto quando considerados os gastos relacionados com a guerra no Departamento de Segurança Interna, e se calculados os juros dos empréstimos feitos para pagar pelas guerras.

A motivação declarada em diversos discursos era a suposta existência de armas de destruição em massa, para começar, depois a "guerra contra o terror", e também a derrubada de um "ditador", na figura odiada pelo então presidente dos EUA, a do presidente Saddam Hussein.

"Comemorações" na mídia

Jornais como The New York Times, nesta "comemoração" dos 10 anos desde a invasão, publicaram infográficos sobre as mortes relacionadas à guerra, separando-as por "forças americanas", "forças de outras coalizões", "forças iraquianas". Ficam faltando os civis, porém, as maiores vítimas.

Ainda, há separações por causas, como "fogo amigo", "fogo inimigo", "ataque suicida", entre outras, e há inclusive uma categoria que mereceria análise, pois aglomera as causas "não hostil/acidental/suicídio".

Oficialmente, para os EUA, a guerra terminou no dia 15 de dezembro de 2011, de acordo com anúncios do presidente Barack Obama, desde a sua primeira vitória eleitoral, em 2008. Foi quando as últimas forças estadunidenses (especificamente, as engajadas em combate direto com os iraquianos) foram retiradas. Entre 2003 e 2012, no total, contabiliza-se a morte de 4.480 soldados, mas as consequências afetam milhões de pessoas nos EUA indiretamente, e incluem também a invalidez de vários ex-combatentes e o stress pós-traumático diagnosticado em grande parte deles.

O aniversário da invasão do Iraque resultou em numerosos documentos, relatórios, declarações e matérias de jornal, como a do New York Times, que se propôs a publicar uma série com as declarações de soldados que estiveram na guerra, contando como isso mudou as suas vidas.

Provavelmente, porém, a semana de "eventos comemorativos" terminará antes que jornais como este possam ouvir "como a guerra afetou as vidas" não dos soldados, mas da população civil do país invadido.

O escritor norte-americano David Swanson, em seu relatório "A guerra do Iraque entre os piores eventos do Mundo" (Iraq's War Among the World's Worst Events, ainda sem tradução para o português) lembrou também dos 22 anos da Operação Tempestade no Deserto (ou da Guerra do Golfo, de 1990), que precedeu a "Operação Libertação do Iraque" (cuja sigla em inglês é OIL, em alusão ao interesse dos EUA pela região, o petróleo, segundo Swanson), também chamada de Segunda Guerra do Golfo.

Impacto real da Guerra (dos EUA) no Iraque

Neste 20 de março de 2013, porém, para a população invadida, não há muito para comemorar, apesar da "retirada" oficial das tropas invasoras ter sido anunciada há dois anos. O governo atual do primeiro-ministro Nouri al-Maliki (praticamente instalado pelos EUA) tem sido acusado pela população civil de autoritarismo, de patrocinar execuções sumárias, prisões arbitrárias, tortura e estupro, de acordo com uma matéria da emissora árabe Al-Jazeera.

De acordo com números que Swanson recolheu de vários informes, o Iraque perdeu cerca de 1,4 milhões de vidas como resultado da OIL, o que representou 5% da sua população. Esta cifra não chega a se comparar às perdas sofridas pela França (1%) e dos EUA (0,3%), por exemplo, durante a Segunda Guerra Mundial.

As mortes de estadunidenses nesta guerra não chegam a representar 0,3% das mortes totais, o que pode ser explicado, para começar, com o hábito dos EUA de invadir e agredir diretamente países que ficam longe da sua vizinhança, quase como um "plano estratégico" perfeito, para além de instrumental, dados os seus interesses políticos e econômicos na região onde mais tem investido militarmente: o Oriente Médio.

Como se já não bastasse, lembra Swanson, também resultaram da OIL cerca de 4 milhões de feridos e 4,5 milhões de refugiados, que tiveram de fugir não só para os países vizinhos como também para outras regiões.

Além disso, de acordo com a base de dados sueca do Instituto Internacional de Pesquisas da Paz de Estocolmo (Sipri, da sigla em inglês), há também entre 2,3 milhões e 2,6 milhões de pessoas que foram forçadas a deslocar-se internamente (por isso, não são contadas como refugiadas), número reduzido a 1,3 milhão pelas estimativas da ONU, que só contabiliza os que foram inscritos pelas autoridades iraquianas desde 2006.

Os custos materiais também não escaparam de maior análise. Para além da infraestrutura atual, a Unesco também denunciou a destruição de sítios arqueológicos e outros patrimônios históricos de extrema importância, como é de costume em guerras tão devastadoras. Em artigo publicado na Folha de S.Paulo na véspera deste aniversário, nesta terça-feira (19), o especialista em estudos árabes e islâmicos Paulo Daniel Farah também menciona os danos ao patrimônio cultural do Iraque, que se situa na antiga Mesopotâmia.

Farah lembra que, "referência cultural nos anos 1970, o Iraque abriga milhares de sítios arqueológicos que foram submetidos à pilhagem e ao contrabando, junto com toda uma memória coletiva humana."

Ainda antes disso, desde o embargo imposto ao país em 1990, que começou com a Resolução 661 do Conselho de Segurança da ONU (adotada naquele mesmo ano), houve "saques sistemáticos e organizados ao patrimônio material iraquiano que colocam em risco grave a história da humanidade", afirma Farah.

A invasão iniciada em 2003, entretanto, só agravou a vulnerabilidade a esses saques. "Menos de duas semanas após a invasão norte-americana, muitas dessas obras já se encontravam nos Estados Unidos e na Europa", como afirma o arqueólogo sírio Ahmad Serrie, citado por Farah.

Performances e custos da guerra 

A invasão de 2003 incluiu, de acordo com Swanson, 29.200 ataques aéreos, fora os 3.900 realizados nos oito anos seguintes. As forças militares estadunidenses tiveram em seus alvos tanto civis quanto jornalistas, hospitais e ambulâncias.

Além disso, como já denunciado por várias organizações internacionais, o exército dos EUA também fez uso do que se pode chamar de "armas de destruição em massa", como as bombas de racimo, fósforo branco, urânio empobrecido e um novo tipo de napalm (substância que também usou na sua Guerra contra o Vietnã, na década de 1970), em áreas urbanas densamente habitadas.

Mais de um desses recursos já são proibidos por convenções internacionais, e o seu uso configura "crimes de guerra" e até "crimes contra a humanidade", sob o direito internacional humanitário. Mas isso não preocupa os Estados Unidos, pois não seria a primeira nem a última vez.

O resultado, como também já conhecido de outras guerras, foi o aumento das taxas de câncer, de mortalidade infantil, entre outras. As fontes de água, as plantas de tratamento de esgoto, hospitais, pontes e plantas de energia elétrica foram devastadas, e a maior parte continua sem conserto.

Ainda antes da guerra iniciada em 2003, uma guerra econômica contra o país já havia deteriorado o sistema de saúde e nutrição, como relembra Swanson, "através das mais abrangentes sanções econômicas já impostas na história moderna."

Não é difícil também para os analistas econômicos encontrarem indícios de uma intencionalidade comercial da guerra empreendida pelos EUA, não só pelo tema do complexo industrial-militar, que encontra terreno bastante fértil para ser desenvolvido, como também pelos esforços de "reconstrução" do Iraque, que garantiram contratos milionários com construtoras.

Reconstrução do Iraque

Ainda assim, Swanson afirma que o dinheiro gasto pelos Estados Unidos na "reconstrução" era sempre menos de 10% do que era gasto com a destruição, e a maior parte nunca foi realmente posta em uso construtivo. Ao menos um terço foi gasto em "segurança", enquanto muito do resto foi gasto em corrupção pelos militares e funcionários dos EUA.

Em uma análise do fator social, ainda, o jornalista lembra que os iraquianos que poderiam ajudar na reconstrução do país tiveram de fugir durante a guerra. O Iraque tinha as melhores universidades da Ásia ocidental durante a década de 1990, mas agora é um expoente do analfabetismo, com uma população de professores, em Bagdá, reduzida em 80%.

Contribuindo para a instabilidade e os conflitos internos, durante anos as forças ocupantes fragmentaram a sociedade, encorajando a violência e a divisão étnica e sectária, como dita o costume dos impérios coloniais e modernos. Diversos cientistas políticos já identificaram esforços concretos neste sentido.

Swanson afirma ainda que "enquanto a dramática escalada da violência" esperada com a retirada dos EUA não se realizou, o Iraque ainda tem de lidar com a instabilidade interna, as tensões regionais e, claro, o ressentimento generalizado contra os estadunidenses, exatamente o oposto do que os EUA declararam como objetivo para tornar o país mais seguro.

"Se os EUA tivessem pegado os 5 trilhões de dólares e, ao invés de destruir o Iraque, tivessem escolhido fazer algo bom com isso, em casa ou no exterior, imagine as possibilidades", diz Swanson, que lembra que a ONU teria declarado, por exemplo, que 30 bilhões de dólares por ano acabariam com a fome no mundo.
Mesmo assim, a Casa Branca também publicou seu próprio infográfico, onde figuram, é claro, as "promessas cumpridas" com relação à guerra. Obama caracterizou o fim de uma "missão de combate" em setembro de 2011, com a remoção de 100.000 soldados, de acordo com um acordo assinado em 2008, entre os EUA e o Iraque ("Acordo sobre o status das Forças estadunidenses e iraquianas").

Entretanto, isso não pressupôs, na verdade, a retirada total das tropas, que seguem presentes ainda que sob um mandato diferente, como os já conhecidos treinamentos das forças de segurança iraquianas. Para objetores estadunidenses, ainda, as tropas que continuaram no país servem também para apoiar o governo do primeiro-ministro Nouri al-Maliki, em mais uma intervenção política de bastidores, outra especialidade dos EUA.

Segundo a Casa Branca, o objetivo é encontrar uma forma de "acabar responsavelmente" com a guerra. Entretanto, talvez o plano devesse ser, daqui para frente, como "responsavelmente manter-se fora dela", ou como respeitar a soberania alheia.

A estratégia frequente de divisões sectárias e a instigação da violência supostamente baseada em diferenças identitárias (portanto, diferenças culturais instrumentalizadas de acordo com objetivos políticos) também foi posta em prática pelos EUA de Bush durante a sua invasão.

Depois, restou ao presidente Obama a tarefa igualmente assentada na ingerência de telefonar ao governo iraquiano para apelar para um governo de unidade nacional, mais especificamente pedindo ao presidente que se demitisse para dar lugar a um novo candidato que os EUA já tinham nomeado. A alternativa seria aceitar a presença de tropas estadunidenses por mais tempo, e apesar de ambas as "opções" terem sido negadas, assim é a situação atual do Iraque.


http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=dc1d3cb9517bda57aacd65f5b1986c6e&cod=11201
Postado : http://port.pravda.ru/mundo/20-03-2013/34414-invasao_iraque-0/

Obama chega a Israel e reafirma "laços eternos" em discurso



22.03.2013
 
Obama chega a Israel e reafirma









Obama foi recebido pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu na chegada a Israel ( Foto The New York Times)
A primeira visita oficial do presidente dos Estados Unidos Barack Obama a Israel, iniciada nesta quarta-feira (20), foi precedida de várias análises sobre a postura dos EUA com relação à guerra de Israel contra a Palestina e à sua postura beligerante com relação aos seus vizinhos. Mesmo assim, em seu primeiro discurso após a chegada, Obama reafirmou apenas o apoio incondicional a Israel. 
Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho
Os Estados Unidos vêm tomando uma postura histórica de herdeiros tardios do Reino Unido, ao apoiar incondicionalmente um Estado de Israel governado por sionistas. Depois de contar principalmente com o apoio britânico colonialista para se estabelecer ilegal, imperial e criminosamente na Palestina, agora Israel tem os sucessivos presidentes estadunidenses como garantidores de continuidade impune da sua política agressiva.
Obama desceu do avião presidencial em Israel nesta tarde para uma visita em que o objetivo principal, segundo oficiais do governo, é "ouvir" e "fortalecer laços" com os israelenses.O governo israelense acaba de ser composto, já que a reeleição de Benjamin Netanyahucomo primeiro-ministro em janeiro deu ao seu partido Likud (em coalizão antecipada com o partido Yisrael Beitenu) apenas 20 dos 120 assentos no parlamento (Knesset). Assim, Netanyahu teve grande dificuldade para angariar o apoio de outros partidos, o que conseguiu apenas no passado final de semana, após ter pedido a prorrogação do prazo que tinha para isso.
Como anúncio direto desta intenção, por tanto, uma das primeiras declarações do presidente foi, depois de uma série de referências históricas e religiosas demagógicas, a "identidade" entre os EUA e Israel:
Juntamo-nos a Israel porque dividimos uma história comum, [somos] patriotas determinados a 'ser um povo livre em nossa terra', pioneiros que forjaram uma nação, heróis que se sacrificaram para preservar nossa liberdade, e imigrantes de todos os cantos do mundo que renovaram constantemente nossas sociedades diversas (...). Estamos juntos porque somos democracias.
De certa forma, Obama pincelou um tanto por cima alguns pontos até reais sobre os judeus que fugiam de um antissemitismo ferrenho no século 19 e início do século 20 e que, por isso, foram habilmente manipulados para aceitar o sionismo, mesmo que em detrimento da expropriação, expulsão e violação dos direitos de um povo que não conheciam, ou que não queriam conhecer: o povo palestino.
Porém, além de ser inaceitável e ultrajante a tentativa de romantizar o que foi uma colonização e um imperialismo criminoso e extremamente opressivo (a construção gradual e o estabelecimento oficial do Estado de Israel), Obama ainda finaliza com um detalhe profundamente incorreto: a afirmação de que Israel é uma democracia.
O próprio jornalista israelense Gideon Levy disse, por exemplo, que Israel é um dos países mais racistas do mundo, "com paredes que separam territórios, uma política de apartheid; (Israel) trai os valores fundamentais do movimento de direitos civis que tornaram possível o milagre Obama", em alusão ao movimento civil de 2008 dos que apoiaram a eleição do primeiro presidente negro da história dos EUA.

"Laços inquebrantáveis" entre as duas nações
Obama desceu também dizendo algo já óbvio: "deixe-me dizer da forma mais clara que posso: Os Estados Unidos da América está ao lado de Israel porque é parte do nosso interesse nacional securitário fundamental estar com Israel."
Já é histórica e basilar para um círculo vicioso a ligação dos EUA com os sionistas, tanto interna (através do grupo de pressão judeu diretamente ligado a todos os âmbitos da política estadunidense, o Aipac) quanto externamente. Israel também serve aos EUA como uma base militar, uma frente avançada para a influência e a pressão que querem exercer no Oriente Médio. É bastante possível, assim, que a afirmação óbvia do presidente tenha sido ainda uma exigência do próprio Aipac, com quem Obama reuniu-se dias antes da sua visita.
Mas Obama continua neste mesmo tom, e disse que vê a visita "como uma oportunidade de reafirmar os laços inquebrantáveis entre as nossas nações, de declarar novamente o compromisso persistente da América com a segurança de Israel, e para falar diretamente com o povo de Israel e com seus vizinhos."
Também não é a primeira vez que Obama reafirma outra postura histórica dos EUA de colocar, tanto em discurso quanto na prática, a "segurança" de Israel acima de tudo, principalmente acima dos direitos repetidamente reconhecidos pela ONU à autodeterminação do povo palestino. Pior ainda, mesmo que a suposta "segurança" israelense, de acordo com as políticas nacionais, pressuponha necessariamente a violação diária, constante e repetida dos direitos humanos mais básicos de todo o povo palestino.
Os assentamentos israelenses em terras palestinas; as prisões arbitrárias já institucionalizadas legalmente através do mecanismo de uma "detenção administrativa", que permite a prisão de palestinos "suspeitos" de ações violentas (ou seja, que incluem grande parte das práticas de resistência desse povo) por períodos renováveis de seis meses sem julgamento; a destruição sistemática de casas e cultivos; a construção de estradas e muros de segregação; entre outras práticas diárias de humilhação têm recebido a conivência e a cumplicidade criminosa das maiores potências mundiais.
E é assim mesmo que Obama disse orgulhar-se de estar em Israel, do fato de que os EUA foram os primeiros a reconhecer este país, em 1948, mesmo que a violência em que este evento se desenvolveu já fosse conhecida então, embora sistematicamente silenciada (a estratégia de negar a existência de um povo especificamente palestino, por exemplo, foi bem estabelecida e generalizada até muito recente).
A visita de Obama deverá servir para abordar temas como o conflito armado interno na Síria, o programa nuclear iraniano, e de forma menos eficiente e mais retórica, segundo analistas políticos, as negociações de paz com os palestinos. Entretanto, está prevista a reunião com representantes da Palestina, de Israel e da vizinha Jordânia. Um oficial da Autoridade Palestina já havia dito, em fevereiro, que "se tem alguém que pode mudar a postura de Israel, é Obama".
Porém, a sensação generalizada de descrédito quanto ao compromisso de Obama com uma solução ao conflito tem dominado tanto a mídia regional quanto os próprios palestinos. As negociações para uma solução de "dois Estados", por exemplo, estão em estagnadas ao menos desde 2010. Mesmo assim, ela sempre foi retórica e vazia, uma vez que Israel já existe oficialmente e continua impedindo a concretização de um Estado da Palestina com sucessivas ocupações territoriais, por exemplo.
Ainda, outra justificativa para essa sensação de descrédito foi a conclusão do discurso, em que Obama disse, de forma um tanto piegas, que "a Estrela de David [símbolo religioso e nacional israelense] e nossas estrelas e faixas esvoaçam juntas neste dia. É por isso que estou confiante em declarar que a nossa aliança é eterna, é para sempre: lanetzach [eterna]".
Postado: http://port.pravda.ru/mundo/22-03-2013/34416-obama_israel-0/

sexta-feira, 15 de março de 2013

CAMINHADA EM DEFESA DA SOBERANIA DA SÍRIA EM SÃO PAULO


A estratégia dos EUA na Síria falhou






Comentário de internauta (na mesma página)
Te Pu Win ·  Top Commenter · Toronto, Ontario

Fazer de Assad o vilão é tolice ‘jornalística’ simplória, pessoal. Sugiro que aproveitem o tempo e leiam um pouco sobre o Líbano. Antes de 1967, Beirute era a “Veneza do Oriente Médio”, elo de ligação entre a Europa e o mundo árabe. O ataque de Israel aos países árabes mudou essa equação para todo o meio século seguinte, que foi de guerra e sangue. Os israelenses incitaram os cristãos libaneses, o que resultou na destruição da sociedade deles, o que destruiu Beirute.
Lembram o massacre de Sabra e Shatila, em que palestinos foram assassinados nos campos de refugiados? Foi crime instigado por Ariel Sharon. E Israel continuou a agredir o Líbano – até os bombardeios bem recentes.
Com essa ação, Israel provocou reação cada vez mais extremista. Quantos outros civis inocentes foram mortos
é informação que a imprensa-empresa oligárquica ocidental esconde.
Façam avançar o filme até o Iraque, a Síria e o Irã, e vocês verão o mesmo padrão vil, com Israel a incitar cada vez mais violência e mais guerra,
sempre aos gritos de “querem destruir Israel” (e por isso seria preciso demonizar meio mundo, sem parar).
 Os EUA estão-se comportando como vassalos de Israel e, por isso, perdem amigos por todo o planeta.

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*Por Sean Fenley 

Quando a senadora Kirsten Gillibrand sabatinava o ex-senador de Nebraska Chuck Hagel, na audiência no Senado para a confirmação do ex-senador como secretário de Defesa, ela mencionou armas químicas e Síria.

Acho que a boa senadora Gillibrand precisaria ser informada de que a verdadeira ameaça não é a Síria, mas o chamado ‘exército sírio livre’ e suas armas químicas. Foram e continuam a ser apoiados por aliados dos EUA, como Arábia Saudita e Qatar, estados wahhabistas que reprimem as mulheres e nada sabem de liberdades civis e direitos democráticos. São estados antidiluvianos, já maduros para primaveras árabes, à espera de que alguma genuína democracia brote por ali. A Arábia Saudita invadiu o vizinho Bahrain, e não se cansa de reprimir movimentos revolucionários de base também ali.

A Síria é sociedade complexa, onde convivem diferentes religiões e seitas, muito mais bem protegidas, todas elas, sob o governo árabe nacionalista de Bashar al-Assad, do que algum dia seriam sob governo de algum estado salafista ou da Fraternidade Muçulmana, fascistas que aspiram a ocupar o lugar do presidente Bashar – algum estado como o Egito de Mohamed Morsi (do qual todos os cristãos coptas já se afastaram).

Temo muito pelos alawitas, os drusos e os cristãos sírios: os melquitas, siríacos, maronitas, caldaicos e outros grupos, no caso de esses assassinos salafistas e wahhabis, apoiados pelos mais retrógrados governos aliados dos EUA, chegarem ao poder. Laurent Fabius, ministro de Relações Exteriores da França, disse que “Não podemos permitir que a Síria degenere num conflito de milícias”. Gerard Araud, representante permanente da França na ONU, disse que “Estamos criando uma Somália, no coração do Oriente Médio.”

A melhor saída é exigir que Arábia Saudita e Qatar ponham fim ao seu projeto de desestabilização de toda aquela região. A única saída é uma solução política não violenta, que assegure que os sunitas fundamentalistas não cheguem ao poder. Os siríacos/aramaicos – que falam aramaico, a língua de Jesus Cristo – querem um diálogo entre todos os grupos sem precondições; querem o cessar-fogo; querem o fim da importação e do contrabando de todo e qualquer armamento estrangeiro; querem o fim das sanções econômicas; e querem o fim do recrutamento de milicianos estrangeiros mercenários para guerrear contra o país deles e dentro do país deles.

Moaz al-Khatib, que lidera a Coalizão Nacional Síria – o grupo de exilados que apoia a intervenção armada contra o governo sírio, e que são apoiados pelo ocidente e pelos países do Golfo –,  já fala, agora, também, de conversações com Bashar al-Assad. Vários grupos civis que rejeitaram a luta armada e se opõem à intervenção estrangeira na Síria também são favoráveis a um imediato cessar-fogo e a uma solução negociada.

Os EUA e a OTAN que recolham imediatamente aos canis os seus cães de guerra (a Turquia também se misturou nesse mix sórdido). Que todos procuremos pensar com a cabeça limpa, em vez de só pensar em derrubar um governo cujos principais ‘defeitos’ são ser independente de EUA e OTAN; não dar rédea livre às empresas daqueles países; não se deixar manobrar como fantoches.

A Síria, aliada ao Hezbollah e ao Irã, está além de qualquer possibilidade de ser comandada pelo ocidente, mas também é imperativo que os fundamentalistas sunitas não consigam chegar ao poder.

Em vez de fixarem-se em objetivos geopolíticos caolhos e capengas, sempre atentos exclusivamente ao interesse de Israel, EUA e OTAN têm de começar a trabalhar imediatamente na direção de uma solução política, e já! Têm de deixar de crer, exclusivamente, na força das armas. Essa estratégia é depravada, é ignóbil e, em todos os casos, obedece ao comando de gente que, em matéria de negociação política, só conhece o ‘argumento’ dos esquadrões da morte e da selvageria mais brutal e que, como já se lê de várias fontes confiáveis, já se aliou, até, aos terroristas.

* Sean Fenley é autor independente, que trabalha para implantar alguma sanidade no presente e no futuro político dos EUA, entre os militares dos EUA e nas políticas externa e doméstica dos EUA. Escreve e publica em vários websites e veículos da imprensa não-empresa em todo o mundo.

segunda-feira, 11 de março de 2013

A guerra que você não vê

Neste documentário, John Pilger expõe como os grandes meios de comunicação dos países imperialistas (assim como seus representantes nos países periféricos) manipulam as informações com o objetivo de justificar suas guerras de rapina e outras políticas contrárias aos interesses das maiorias populares. 

John Pilger revela como estes meios agem de modo orquestrado para beneficiar as políticas imperialistas dos Estados Unidos, por exemplo, e de seus agentes no Oriente Médio (Israel). 

A vida humana nada conta para estas potências imperialistas (ou sub-imperialistas) nem para a mídia que as defende. 

Nada está por cima dos interesses econômicos ou estratégicos militares dos estados e grupos econômicos que exercem a hegemonia política no planeta. 

As cenas das atrocidades cometidas no Iraque, no Afeganistão e na Palestina são amostras do grau de perversidade a que se pode chegar com o objetivo de garantir privilégios.

Chavez, o desafio e a esperança


por Miguel Urbano Rodrigues

Tudo começou a mudar em Roma com Júlio Cesar, na opinião de Theodor Mommsen. Não exagerou o historiador alemão, premio Nobel de Literatura. 


Num contexto civilizacional muito diferente, poderia afirmar-se o mesmo de Hugo Chavez, tomando como referência a América Latina.

A breve e tempestuosa passagem pela vida deste venezuelano deixa marcas inapagáveis não apenas na história do seu país, mas na atitude perante o futuro dos povos a sul do Rio Bravo. Nada vai permanecer igual ao que era antes de Chavez.

Desde a vitória da Revolução Cubana que o Hemisfério não era fustigado por um tsunami social e político comparável ao desencadeado pelo soldado que retomou o desafio da unidade latino-americana de Bolívar. Mas qualquer analogia seria descabida. Ele não repetiu, inovou.

Hugo Chavez apareceu de repente na História como uma inflorescência. O obscuro oficial de paraquedistas que acompanhara enojado a repressão do Caracazo saiu do anonimato em 1992 como líder de uma rebelião militar contra o governo de Carlos Andrés Pérez. A tentativa de golpe de Estado foi esmagada e Chavez cumpriu dois anos de prisão.

O cárcere foi para ele um tempo de estudo e reflexão. A sua admiração por Bolívar, o herói quase mítico das guerras de libertação e pioneiro da unidade latino-americana, encaminhou-o para um projeto ambicioso: libertar a Venezuela da dominação imperialista e levar à vitória, pela via institucional, uma revolução que fizesse do povo o sujeito da História. O sonho parecia utópico porque a Venezuela era então uma semicolónia dos EUA que controlavam não somente o petróleo como os mecanismos do poder.

Mas ocorreu o que os partidos da oligarquia e Washington tinham por impossível. O tenente-coronel mestiço, desprezado pela oligarquia, fundou o Movimento V República e um mês após as eleições legislativas apresentou-se como candidato às eleições presidenciais. O seu discurso surpreendeu e empolgou as massas por diferente de tudo o que se ouvia dos políticos desde os tempos de Ezequiel Zamora, o único general revolucionário posterior a Bolivar.

Parecia impossível mas aconteceu: Hugo Chavez foi eleito presidente da República em dezembro de 1998.

Rapidamente tomou consciência de uma realidade enunciada por Lenine após a vitória da Revolução de Outubro: a conquista da Presidência fora uma tarefa muito mais fácil do que aquela que se propunha a empreender: a transição do capitalismo dependente, hegemonizado pelos EUA, para uma Venezuela soberana, rumo a uma revolução de contornos ainda por definir.

Dois golpes de Estado, montados e financiados pelos EUA, confrontaram Chavez com crises inesperadas.

O primeiro, em 2002, foi um golpe militar que contou com a participação activa de generais e dezenas de altas patentes das Forças Armadas. O Presidente, salvo pela mobilização popular, compreendeu que, afinal, o corpo de oficiais era permeável à ofensiva ideológica do imperialismo e da grande burguesia.

Uma segunda intentona, o lock -out, quase paralisou o país e demonstrou que a PDVESA, a gigantesca empresa petrolífera só nominalmente era nacional, pois os seus dirigentes e muitos quadros estavam identificados com a oposição e o grande capital financeiro internacional.

Em ambos os golpes estiveram envolvidos generais que haviam sido companheiros de Chavez.

Também entre os civis, logo nos primeiros anos, foram numerosas as deserções. O caso mais expressivo terá sido o de Miquilena, o ex-ministro do Interior, inicialmente visto como conselheiro íntimo do Presidente.

Uma deserção chocante, posterior, foi a do general Baduel, cuja atitude firme como comandante de uma unidade de paraquedistas contribuíra para a derrota do golpe de 2002.

No Parlamento, logo na primeira legislatura, muitos deputados mudaram de campo, passando à oposição.

Aprovada e promulgada uma nova Constituição, Chavez venceu sucessivas eleições.

Mas apercebeu-se de uma evidência: sem organização revolucionária que lhe assuma os objectivos e com eles se identifique não há revolução que possa atingir as metas propostas.

Mas qual o rumo da Revolução Bolivariana? No terreno da ideologia a definição tardou. Era uma revolução democrática e nacional, anti-imperialista.

Creio que foi em 2004, pela primeira vez, que Hugo Chavez, dirigindo-se em Caracas a um Encontro de Intelectuais em Defesa da Humanidade, deixou implícita a opção pelo socialismo.

Até então fora muito cauteloso na abordagem de temas ideológicos, consciente de que no chavismo cabiam tendências muito diferenciadas e até incompatíveis.

A criação de um partido da Revolução tornou-se uma necessidade quando a opção pelo socialismo foi oficializada.

O Partido Socialista Unido da Venezuela –

PSUV - nasceu porém numa atmosfera polémica, criado de cima para baixo. O número de filiados atingiu rapidamente um total impressionante. Nele entraram cidadãos que, embora declarando ser chavistas não querem que o país se encaminhe para o socialismo.

O Presidente exigiu que todos os partidos que apoiavam a revolução se dissolvessem, integrando-se no PSUV.

Não atendeu a esse apelo o Partido Comunista da Venezuela. Reiterando o seu apoio total à Revolução Bolivariana e ao seu presidente, o PCV esclareceu que não faria sentido dissolver-se para se integrar num partido no qual muitos dirigentes consideravam obsoleto o marxismo-leninismo, e, invocando o Socialismo do Século XXI, criticavam com dureza princípios e valores inseparáveis do seu combate como comunistas.

Ao regressar de Caracas, do VIII Encontro de Intelectuais em Defesa da Humanidade, escrevi então: «A fórmula do Socialismo no século XXI é equívoca e enganadora. Lembra um balão vazio. O núcleo teórico e programático não existe praticamente. O mal está no ataque irresponsável aos clássicos do marxismo, desencadeado sobretudo por alguns intelectuais latino americanos. Para eles, o pensamento de Marx, Engels e Lenine, toda a obra teórica sobre o socialismo científico tornou-se uma velharia cuja superação se apresentaria como exigência da História».

Cabe lembrar que a fundação do PSUV coincidiu com o auge da campanha de apologia do chamado Socialismo do Século XXI, apresentado como alternativa ao capitalismo neoliberal, alternativa que estaria já a tomar forma na Venezuela e na Bolívia e dai irradiaria para todo o mundo.

Nesse contexto de insensatez, académicos de prestígio afirmaram no encontro citado que a Venezuela se encontraria numa fase avançada da transição para o socialismo e a Bolívia de Evo Morales teria iniciado essa etapa.

POLÍTICA EXTERNA 
Com excepção dos efeitos da complexa relação com a Colômbia e os elogios a governantes liberais europeus, inclusive a Sócrates e Sarkozy, a política externa de Chavez foi desde o inicio muito positiva, sobretudo pela firmeza e coragem que caracterizaram a confrontação com o imperialismo estado-unidense.

No tocante à America Latina, a sua estratégia, sempre inspirada em Bolivar, visou o reforço da solidariedade entre países irmãos com regimes políticos diferentes. Foi decisiva a sua intervenção no debate que findou com o fim do projecto recolonizador da ALCA que os EUA pretendiam impor. A Alternativa Bolivariana para as Americas, ALBA, bem como a criação da UNASUL, do Banco do Sul e da Petrocaribe assinalaram avanços da estratégia anti-imperialista. Transparente foi também a sua atitude internacionalista, manifestada na solidariedade permanente com governos como o do Irão que não se submetem á dominação imperial dos EUA.

Palavras e atitudes que lhe valeram ferozes críticas – chamou «diabo» a George Bush ao discursar na Assembleia-Geral das Nações Unidas – expressaram ímpetos da sua personalidade. Mas, contrariamente ao que afirma a oposição interna e externa, actuou sempre com frieza e serenidade quando tomou decisões de significado estratégico.

A TRANSIÇÃO DIFÍCIL 
Era inevitável que a decisão de romper gradualmente com o capitalismo seria fonte de grandes problemas num país como a Venezuela que era quase um feudo dos EUA.

As comparações que os media ocidentais estabelecem com Cuba são absurdas. Tudo está a ser muito mais difícil na Venezuela.

Após a vitória da Revolução em 1959, a burguesia cubana emigrou maciçamente para Miami. Na Venezuela ela ficou no país e não foi expropriada. Durante muito tempo manteve o controlo do Poder Judicial, da central sindical reaccionária pré existente, e de importantes sectores do estado. A absolvição dos militares golpistas foi esclarecedora da mentalidade de um amplo leque da magistratura.

Distorcem a realidade os media que insistem em apresentar um panorama alarmante da economia do país.

Num contexto histórico muito desfavorável, hostilizada pelos governos de Bush e Obama, a Revolução Bolivariana realizou sob uma ofensiva permanente da oligarquia crioula, conquistas muito importantes. O que surpreende não é aquilo que não foi possível realizar; mas sim o terem conseguido tanto numa atmosfera de guerra não declarada, em cenário de uma luta de classes que somente terá um precedente no Chile de Allende.

O analfabetismo, antes elevadíssimo, foi praticamente erradicado. Nas escolas públicas o ensino é gratuito. Num país onde o sector editorial era quase inexistente, o Estado distribuiu gratuitamente desde o início da Revolução dezenas de milhões de livros de autores nacionais e estrangeiros. Somente do D.Quijote de la Mancha, de Cervantes, foram distribuídos mais de um milhão de exemplares. Novas universidades foram criadas e o total de estudantes nas públicas ronda os 2 milhões, com maioria de jovens de origem não burguesa.

A assistência médica gratuita, antes inexistente, abrange hoje a totalidade da população.

Nessa política humanista, as Misiones, programas sociais, desempenham um papel fundamental. A Mision Mercal,por exemplo, atende a preços subsidiados 10 milhões de pobres em 1500 lojas do Estado e mercados abertos. AMision Barrio Adentro desenvolve um trabalho insubstituível no campo da saúde. Mais de vinte cinco mil médicos e enfermeiros cubanos levaram Saúde a milhões de trabalhadores que a ela não tinham acesso.

O governo estimulou os Consejos Locales de Planificacion e os Consejos Comunales concebidos para estimular a participação popular.

Numa das minhas passagens por Caracas passei uma manhã no Nucleo de Desarrollo Endogeno Fabricio Ojeda,na Paroquia de Gramoven. Ali funciona uma cooperativa que produz vestuário, calçado, cerâmica, legumes, e vende alimentos subsidiados, dispondo ainda de um centro cultural e de uma clínica que é um pequeno hospital.

Em Maracaibo e Maturin tive a oportunidade em 2011 de visitar Projectos Urbanísticos – autênticas Cidades Comunitárias - construídas no âmbito de um acordo com a República Islâmica do Irão. Nessas jornadas convivi com os moradores, homens e mulheres empenhados em construir a Venezuela socialista.

DESAFIOS 
Não obstante a ofensiva contra revolucionária da oposição, agora liderada pelo milionário Henrique Capriles, a situação financeira do país está controlada. As reservas oficiais aumentaram muito apesar das flutuações do preço do petróleo.

As reservas de hidrocarbonetos são das maiores do mundo.

Mas a insistência de alguns ministros e dirigentes do PSUV em apresentar a Venezuela como país em transição acelerada para o socialismo, deturpa a realidade.

Com excepção do petróleo, a contribuição do sector privado para o PIB é amplamente maioritária. É ele que controla o comércio e quatro quintos das importações.

Conforme os economistas Remy Herrera, de França e Paulo Nakatamy, do Brasil, salientaram num importante ensaio, o aparelho do Estado permanece capitalista; o Banco Central é autónomo e a saída ilegal de capitais atinge um volume considerável. O mercado negro estimula o açambarcamento e a escassez periódica de produtos essenciais. O salário mínimo é o mais elevado da América Latina, mas como o custo de vida é altíssimo não satisfaz as necessidades básicas dos trabalhadores.

O sistema mediático é hegemonicamente controlado pela oposição.

Na última década o peso do sector mercantil privado aumentou, enquanto o do público caiu. A percentagem correspondente à remuneração do trabalho também diminuiu, enquanto a relativa à remuneração do capital cresceu.

A transição para o socialismo é, portanto, ainda incipiente num contexto em que o modo de produção, as relações de produção e as estruturas económicas continuam a ser fundamentalmente capitalistas.

As contradições de Caracas, um desumanizado polvo urbano de 4 milhões de habitantes, ajudaram-me a compreender as tremendas dificuldades que o processo revolucionário enfrenta na sua lenta marcha rumo ao socialismo.

Não obstante os governos de Hugo Chavez terem reduzido drasticamente os índices da pobreza, apesar da melhora das condições de vida de milhões de trabalhadores, a herança do passado pesa muito. A Venezuela é ainda um país onde subsiste uma desigualdade social afrontosa da condição humana. Contrastando com o espetáculo degradante dos casebres que emolduram a cintura de morros de Caracas, a exibição insolente de riqueza nas urbanizações de luxo da grande burguesia excede o que vi no México, em São Paulo, em Buenos Aires e no Rio, em condomínios fechados que são o paraíso de multimilionários.

Chavez anunciou com o seu desafio humanista o homem novo sonhado pelos revolucionários marxistas. Mas o contacto com as angustiantes contradições da Venezuela bolivariana fortaleceram a minha convicção de que o homem novo somente pode tornar-se realidade após a erradicação do capitalismo e do imperialismo.

CONCLUSÃO 
Como definir e situar o revolucionário Hugo Chavez?

Não e fácil a resposta porque ele não se ajusta a qualquer figurino conhecido.

Optou pelo Socialismo, imprimindo à Revolução um rumo que poucos esperavam.

Não foi um marxista, nem um socialista utópico. Nunca escondeu a força do seu sentimento cristão católico, mesmo entrando em choque quase permanente com a hierarquia da Igreja do seu país.

Mesmo companheiros que sempre o admiraram atribuem-lhe um excesso de voluntarismo. Não lhes faltará razão.

Se ele apresenta afinidades idiossincráticas na sua trajetória de revolucionário carismático e humanista, com grandes personagens da História da América Latina, não creio que seja com Bolivar, o seu génio tutelar. Como líder de massas que fascinou os oprimidos do seu povo e por eles foi amado e compreendido, ele me faz pensar em grandes caudilhos como o uruguaio Artigas, os mexicanos Pancho Villa e Emiliano Zapata.

Quando me perguntam para onde se encaminha a Venezuela, órfã de Chavez, recuso o tema. Não cultivo os exercícios de futurologia nem a especulação histórica.

É imprevisível o amanhã do seu povo, mas não duvido de que a História avançará se a obra sobreviver ao seu criador.

Hugo Chavez restituiu a esperança não apenas aos seus compatriotas. Restituiu-a aos povos da América Latina, humilhada e imperializada.

Desaparecido fisicamente, já deu entrada no panteão dos heróis do Continente.
O original encontra-se no suplemento do Público de 10/Março/2013. 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/