quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Como os EUA e a UE manipulam a consciência pública – O caso de Montenegro

por Ion Todescu



Trabalhei neste texto durante longo tempo, colecionando meticulosamente bocados de informação peça por peça a fim de apresentar um quadro abrangente.

É bem sabido que os EUA utilizam uma rede complexa de organizações não governamentais para manipular a consciência pública em múltiplos países por todo o mundo. As ONGs também desempenham um papel chave na preparação de revoluções coloridas.

Nestes últimos meses acompanhei de perto os acontecimentos no Montenegro, um pequeno país apreensivo quanto aos esforços que fazem os seus "parceiros" da NATO (OTAN) para integrar aquele estado balcânico na aliança. Bem, ficará muito surpreendido ao descobrir a escala desses esforços.

Seria insuficiente dizer que uma rede de organizações controladas do estrangeiro está ativa em Montenegro. Não se trata apenas de uma rede, é um sistema por si próprio, uma "rede de redes".

Este esquema ilustra a ligações estruturais entre os agentes de influência que tentam manipular e lavar os cérebros dos cidadãos montenegrinos:





Como pode ver, estruturas governamentais, ONGs, media e entidades comerciais estão envolvidas no processo contra natura de puxar o Montenegro para dentro da OTAN.

O processo é coordenado pelo Congresso dos EUA e pelo Departamento de Estado através da USAID, NED, NDI, Open Society Foundation, companhias consultoras Orion Strategies e RIF Group, enquanto a OTAN utiliza a sua Divisão de Diplomacia Pública e os países europeus atuam através das suas embaixadas.

O organismo coordenador sobre o terreno é representado pelo Conselho para o Ingresso na NATO (OTAN) do Parlamento com o conselheiro do primeiro-ministro para Assuntos Estrangeiros, Vesko Garcevic, como Coordenador Nacional para a OTAN.

O Conselho estabeleceu um grupo de comunicação de 12 membros diretamente responsável por criar apoio público de Montenegro para o acesso à OTAN. Os membros chave são os seguintes:

-Olivera Dukanovic, coordenador de relações com os media
-Ana Dragic, administrador do setor ONGs
-Valentina Radulovic Scepanovic, administrador de partidos políticos e administração local

O grupo de comunicação assinou um memorando com mais de 60 ONGs montenegrinas para impulsionar suas iniciativas e criar ferramentas para manipular a opinião pública. Portanto, criou uma rede em grande escala e em desenvolvimento constante. Ele continua a atrair novos membros e a constituir unidades para atingir as mentes do público montenegrino a partir de múltiplos ângulos sob a cobertura de atividades sociais. Isto resultou numa complexa estrutura hierárquica com grandes ONGs a distribuírem tarefas entre organizações mais pequenas.

Eis as maiores ONGs no Montenegro:

-Network for Affirmation of the NGO Sector (MANS), director executivo Vanja Calovic
-Atlantic Council of Montenegro, presidente Savo Kentera
-Youth Atlantic Treaty Association (YATA) in Montenegro, presidente Vladan Balaban
-Center for Democratic Transition, director executivo Dragan Koprivica
-Center for Monitoring and Research
-Alfa Center
-Foundation for the Development of Northern Montenegro

Naturalmente, nenhuma campanha de informação pode ter êxito sem os media. A cada dia as cabeças dos montenegrinos são lavadas a fundo com programas de entrevistas, vídeos promocionais, artigos de jornais e mensagens na net advogando a ideia da adesão à OTAN.

A opinião pública é trapaceada pelos canais nacionais de TV, TVCG 1 e TVCG 2, Pink Media Group, TV Vijesti, Prva crnogorska televizija, MBC, RTV Atlas, NTV Montena; pelos jornais Dan, Vijesti, Pobjeda, Dnevne Novine, Blic Montenegro, Informer; pelos sítios web de notícias Cafe Del Montenegro, Vijesti, Radio and Television of Montenegro, etc.

Mensalmente, o conjunto dos canais de TV apresenta 15 a 25 programas de apoio à OTAN e o conjunto de todos os jornais publicam não menos do que 40-50 editoriais por mês.

O dinheiro vem das embaixadas dos EUA e de países europeus (especificamente do Reino Unido, Holanda e Noruega), USAID, NED, NDI, Konrad Adenauer Foundation, Marshall Foundation, Rockefeller Foundation, Open Society Foundation, Balkan Trust for Democracy, ONGs globais tais como Transparency International, etc.

O acesso do Montenegro à OTAN também é considerado benéfico pelas corporações multinacionais. Esta é a razão porque a Coca-Cola, Microsoft, Diners Club, T-mobile and Media Developmetn Loan Fund estão  financiando agressivamente o setor não-governamental do país e as campanhas de publicidade da OTAN.

Para entender o papel dos investimentos estrangeiros na propaganda pelo ingresso na OTAN  pode-se dar uma olhadela à escala de financiamento estrangeiro de uma das ONGs montenegrinas, como o Center for Democratic Transition. Obtive os dados para 2009. Apenas oito mil euros, do total de 160 mil, foram concedidos pelas estruturas governamentais do Montenegro.


Fonte de financiamento Montante
National Democratic Institute................................................... US$60.000
Embaixada da Holanda..................................................................... €36.140
Foundation Open Society in Montenegro...................................... €12.000
OSCE mission to Montenegro ....................................................... €16.000
OTAN Public Diplomacy Division.................................................... €8.000
USAID ...........................................................................................US$30.000
Governo do Montenegro .....................................................................€3.000
Parlamento do Montenegro................................................................. €5.000
Companhias privadas.......................................................................... €20.000
Total Cerca de................................................................................... €160.000


As campanhas publicitárias contínuas louvando a OTAN e ignorando os bombardeamentos de Montenegro em 1999 não são a única coisa em que investidores estrangeiros gastam dinheiro. Os manipuladores não receiam jogar sujo.

A ONG MANS coleciona informação que compromete responsáveis do governo e autoridades. Assim, o interesse de governos ocidentais e europeus e de estruturas não governamentais no funcionamento desta organização poderia ser explicado pelo seu desejo de obter informação que lhes permita influenciar a liderança do Montenegro.

Além disso, este ano vídeos de eminente figuras públicas montenegrinas apelando à adesão à NATO foram difundidas na TV e distribuídas na web. Posteriormente muitos dos que falaram retrataram-se das suas palavras, declarando que estavam desinformados acerca do objetivo real dos vídeos. Aqui está um trecho da retratação feito pelo conhecido dono de restaurantes Krsto Niklanovic: https://www.youtube.com/watch?v=I90nWUuWY6U

As 
As autoridades do Montenegro perseguem aqueles que se opõem à orientação pró OTAN e pune os dissidentes. Em Abril último, Marko Milacic, um ativista do Movimento pela Neutralidade do Montenegro, foi preso. Os que se opõem à adesão à OTAN vivem sob constante supervisão da polícia e são detidos periodicamente.

Entretanto, protestos em massa na capital montenegrina mostram que o processo de remoldagem da opinião pública no sentido de apagar estereótipos anti-OTAN não é tão simples.

Isso é confirmado pelos inquéritos de opinião efetuados pela companhia de internacional de pesquisa IPSOS Strategic Marketing no período de Fevereiro de 2013 a Outubro de 2015. Quando indagada, "se efetuado hoje, como votaria num referendo sobre a adesão à NATO (OTAN)", a maioria dos montenegrinos manifestou-se contra a adesão.


Dez 2013
Jan 2014
Fev 2014
Mar 2014
Abr 2014
Mai 2014
Jun 2014
Jul 2014
Ago 2014
Set 2014
A favor
36%
37%
41%
42%
43%
39%
39%
37%
36%
33%
Contra
46%
43%
42%
45%
44%
47%
43%
44%
46%
50%
Abst.
18%
20%
17%
13%
13%
14%
18%
19%
18%
17%



Out 2014
Nov 2014
Dez 2014
Jan 2015
Fev 2015
Mar 2015
Abr 2015
Mai 2015
Jun 2015
Jul 2015
Por
32%
35%
34%
32%
37%
32%
36%
36%
47%
52%
Contra
50%
48%
51%
49%
48%
54%
53%
53%
41%
46%
Abst.
18%
17%
15%
19%
15%
14%
11%
11%
12%
2%


Deve-se prestar atenção às medidas tomadas pelo IPSOS antes da reunião de ministros de Negócios Estrangeiros da OTAN, em 1 de Dezembro, quando  Montenegro foi oficialmente convidado a aderir à OTAN. Os dados do IPSOS afirmam que o número de votos pela adesão à OTAN subiu drasticamente em Outubro, ao passo que o número de abstenções declinou. Tudo aponta para uma fraude.

Desde que  Montenegro recuperou sua independência,  os EUA e a UE criaram um sistema hierárquico de camadas múltiplas que compreende estruturas e organizações múltiplas a fim de reformular a consciência pública dos montenegrinos e garantir que o país adira à NATO. Esta complexa "rede de redes" engolfou estruturas governamentais, ONGs e companhias comercial para trabalharem para um objetivo único. Este método demonstrou ter êxito na Ucrânia, onde os EUA e a UE alcançaram seus objetivos. Quanto ao Montenegro, só o tempo dirá.

12/Dezembro/2015O original encontra-se em thesaker.is/how-u-s-and-eu-manipulate-public-consciousness-montenegro/

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

Alerta de uma guerra iminente e a resposta a-histórica que ignora a urgência dessa ameaça


Um importante apelo, solidamente fundamentado política e ideologicamente, vindo do movimento da paz nos EUA. Mesmo no interior da superpotência imperialista levantam-se lúcidas vozes apelando à defesa da paz e da própria sobrevivência da humanidade.



Carta aberta do Conselho da Paz dos EUA


A todos os  Amigos e Camaradas do Movimento da Paz

Queridos Amigos e Camaradas na Paz:
Como bem sabeis, o nosso mundo encontra-se face a uma conjuntura criticamente perigosa: a da possibilidade de um confronto entre a OTAN, chefiada pelos EUA, e a Rússia. Os militares das duas superpotências nucleares estão de novo frente a frente, desta vez na Europa de Leste, em particular na Ucrânia, e na Síria. E as tensões aumentam a cada dia que passa.
De certa forma, podemos dizer que uma guerra mundial está já em curso. Governos de 15 países estão atualmente a bombardear a Síria. Incluem sete países aliados na OTAN: EUA, Grã-Bretanha, França, Turquia, Canadá, Bélgica e Holanda. Incluem também aliados dos EUA que não integram a OTAN: Israel, Qatar, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Jordânia, Bahrein, e Austrália; e, muito recentemente, a Rússia.
Outra perigosa guerra decorre nas fronteiras ocidentais da Rússia. A OTAN vem expandindo as suas forças em países que fazem fronteira com a Rússia. Todos os governos fronteiriços estão agora a permitir a presença da OTAN e das forças armadas dos EUA no seu território, onde vêm tendo lugar ameaçadores manobras militares da OTAN a poucos quilómetros de distância de importantes cidades russas. Certamente que esta situação vem causando uma forte tensão no governo russo, tal como naturalmente sucederia com o governo dos EUA, se forças russas estivessem estacionadas nas suas fronteiras com o México e o Canadá, realizando manobras militares a poucos quilómetros de importantes cidades norte-americanas.
Cada uma, ou ambas estas situações podem facilmente conduzir a um confronto direto entre os EUA e seus aliados da OTAN por um lado, e a Rússia por outro, confronto que pode escalar até uma guerra nuclear com desastrosas consequências.
É à luz desta perigosa situação que nos dirigimos aos nossos amigos e camaradas do movimento anti-nuclear e da paz. Parece-nos que muitos dos nossos aliados no movimento não estão a dar a devida atenção aos perigos que hoje ameaçam toda a humanidade numa escala global, e estão a limitar as suas reações apenas ao protesto face a esta ou aquela ação por parte deste ou daquele interveniente. Na melhor das hipóteses, estão a praguejar contra os EUA e a Rússia, criticando ambos os lados por ambos contribuírem para a escalada da tensão. Na nossa opinião, trata-se de uma resposta passiva, a-histórica, e sobretudo ineficaz que ignora a urgência da ameaça existente.
Mais ainda: ao distribuir a culpas por ambos os lados, oculta as causas reais.
Mas as raízes da atual crise vão muito mais fundo do que os recentes conflitos na Síria e na Ucrânia. Remontam à destruição da União soviética em 1991 e ao desejo dos EUA, enquanto única superpotência existente, de dominar unilateralmente o mundo inteiro. Este facto é declarado com grande franqueza num documento publicado pelos neo-cons em Setembro de 2000, intitulado “Rebuilding America’s Defenses: Strategy, Forces and Resources For a New Century,” (“Reconstruindo as Defesas da América: Estratégia, Forças e Recursos para Um Novo Século”) no qual a actual política externa dos EUA se baseia (perdoem-nos a extensão da citação):
“Os Estados Unidos não se deparam no presente com qualquer rival global. A grande estratégia dos EUA deveria ter por objetivo preservar e prolongar tão longe quanto possível no futuro esta posição vantajosa. Existem, contudo, Estados potencialmente poderosos insatisfeitos com a situação actual e desejosos de a alterar…”
A tarefa atual [da força militar] é de…contrariar a ascensão de uma nova grande potência competidora, de defender regiões-chave na Europa, Ásia Oriental e no Médio-Oriente, e de preservar a supremacia dos EUA…Nos dias de hoje, essa mesma segurança pode ser adquirida ao nível do “retalho” (retail level), incitando adversários regionais a atuar segundo formas que protegem os interesses e os princípios dos EUA…”
“É hoje amplamente compreendido que a infirmação e outras novas tecnologias…estão a criar uma dinâmica que pode pôr em causa a capacidade dos EUA exercerem o seu dominante poder militar. Rivais potenciais como a China estão ansiosos por explorar amplamente essas tecnologias transformadoras, enquanto adversários como o Irã, o Iraque e a Coreia do Norte estão a acelerar o desenvolvimento de misseis balísticos e armas nucleares como dissuasores da intervenção dos EUA em regiões que procuram dominar….Se se pretende manter e expandir uma paz americana, ela tem de ter sólido alicerce numa inquestionada supremacia militar dos EUA…”
“A realidade do mundo de hoje é que não existe uma varinha mágica com a qual as armas nucleares sejam eliminadas…e que a dissuasão da sua utilização requer uma sólida e dominante capacidade nuclear dos EUA …”
As armas nucleares permanecem um componente crítico do poder militar dos EUA…”Acresce que poderá existir a necessidade de desenvolver uma nova família de armas nucleares adequadas a novos quadros de requisitos militares, tais como a necessidade de atingir instalações subterrâneas reforçadas e muito profundas que estão a ser construídas por muitos dos nossos adversários potenciais….não há que ter vergonha da superioridade nuclear dos EUA; ela constituirá, pelo contrário, um elemento essencial para a preservação da liderança dos EUA…”
“Manter ou restaurar uma ordem favorável em regiões do mundo como a Europa, o Médio Oriente e a Ásia Oriental atribui uma responsabilidade única às forças armadas dos EUA…”
Antes de tudo, mais do que da ONU, exigem liderança política dos EUA…nem podem os EUA assumir uma posição de neutralidade do tipo da da ONU; a preponderância do poder dos EUA é tão grande e os seus interesses globais são tão amplos que não pode pretender ser indiferente à evolução política nos Balcãs, no Golfo Pérsico ou mesmo quando instala forças em África…forças americanas devem permanecer destacadas no estrangeiro em grande número…A negligência ou o desinvestimento em missões de polícia …encorajará pequenos tiranos a desafiar os interesses e ideais dos EUA. E o fracasso na preparação dos desafios do futuro assegurará que a actual Pax Americana tem um fim prematuro…”
“É importante que a OTAN não seja substituída pela União Europeia, deixando os EUA sem uma intervenção nos assuntos de segurança europeus…”
“A longo prazo, poderá verificar-se que o Irã constitui uma ameaça tão grande para os interesses dos EUA como o Iraque. E mesmo que as relações Irã-EUA viessem a melhorar, a permanência de forças avançadas dos EUA na região constituiria ainda um elemento essencial para a estratégia de segurança dos EUA dados os seus interesses permanentes na região…”
“O valor do poder terrestre continua a ser do interesse de uma superpotência global, cujos interesses de segurança assentam sobre…a capacidade de vencer guerras. Ao mesmo tempo que manteve o seu papel combatente, o exército dos EUA adquiriu no decurso da última década novas missões – no mais imediato…a defesa dos interesses dos EUA no Golfo Pérsico e no Médio Oriente. Estas novas missões Irã requerer uma permanência continuada de forças do exército dos EUA no estrangeiro…Elementos do exército dos EUA na Europa deveriam ser recolocados no sueste europeu, enquanto uma unidade permanente deveria estar baseada na região do Golfo Pérsico…”
“Quando os seus mísseis estiverem equipados com ogivas transportando armas nucleares, biológicas ou químicas, mesmo poderes regionais fracos disporão de um dissuasor credível, independentemente da correlação de forças convencionais. É por isso que, de acordo com a CIA, uma série de regimes profundamente hostis aos EUA – Coreia do Norte, Iraque, Irã, Líbia e Síria – “desenvolveram já ou estão a desenvolver mísseis balísticos” que poderiam ameaçar aliados dos EUA ou forças colocadas no estrangeiro…Essas capacidades constituem um grave desafio para a paz americana e para o poder militar que a preserva…”A capacidade de controlar esta ameaça emergente través dos tradicionais tratados de não-proliferação é limitada…”
“A actual paz americana terá vida curta se os EUA se tornarem vulneráveis a potências delinquentes com pequenos e baratos arsenais de misseis balísticos e ogivas nucleares ou outras armas de destruição massiva. Não podemos permitir que a Coreia do Norte, Irã, Iraque ou Estados semelhantes minem a liderança americana…”
E, mais importante que tudo, nada disto pode ser alcançado “na ausência de algum acontecimento catastrófico e catalisador – como um novo Pearl Harbor…” (todos os itálicos foram acrescentados)
E este documento tem sido o guia da política dos EUA desde então, tanto para a administração Bush como para a de Obama. Todos os aspectos da política de hoje dos EUA está na linha da letra deste documento, do Médio Oriente a África, Europa de Leste e América Latina, ocupando o lugar da ONU como responsável global de manutenção da paz e substituindo-a, como gendarme global, pelo poder militar da OTAN, tal como este documento recomendou.
Qualquer dirigente ou governo que resista à planeada dominação do mundo pelos EUA deve ser deposto, se necessário através do uso da força militar.
O “acontecimento catastrófico e catalisador – como um novo Pearl Harbor” de que necessitavam foi oferecido em bandeja de prata em 11 de Setembro de 2001, e todo o plano foi posto em andamento. Um novo “inimigo”, o terrorismo islâmico, tomou o lugar do velho “inimigo”, o Comunismo. A “guerra global contra o terrorismo” começou então. Primeiro foi o Afeganistão, depois o Iraque, depois a Líbia, agora a Síria, com o Irã à espera da sua vez (todos eles mencionados no documento como alvos para uma mudança de regime pela força). De forma idêntica, com base na mesma estratégia, a Rússia e depois a China, enquanto “rivais globais” e “dissuasores” da dominação global dos EUA, deverão também ser enfraquecidos e contidos. Daí, também, a concentração de forças da OTAN nas fronteiras russas e o envio de porta-aviões e navios de guerra para o leste asiático a fim de cercar a China.
Infelizmente este quadro estratégico global está, ao que parece, a passar despercebido a uma parte significativa do nosso movimento da paz. Muitos esquecem que a demonização de líderes estrangeiros, e slogans como “Saddam Hussein deve ir embora” “Assad deve ir embora”, “Chavez deve ir embora”, “Yanukovytch deve ir embora”, “Maduro deve ir embora”, e agora “Putin deve ir embora” (todos claramente em violação do direito internacional e da carta da ONU) são todos parte integrante da mesma estratégia de dominação global que ameaça a paz e a segurança do mundo inteiro, e mesmo a própria existência da humanidade no seu conjunto.
A questão neste caso não é a defesa deste ou daquele líder ou governo, ou ignorar que violam os direitos dos seus cidadãos. A questão é que não podemos encarar cada um destes casos isolando-o dos outros, e lidar com eles separadamente sem descortinar a raiz comum de todos eles, ou seja, a ambição de dominação global por parte dos EUA. Não podemos esperar a eliminação das armas nucleares quando os dois mais poderosos Estados nucleares estão na iminência de um confronto militar. Não podemos proteger civis inocentes financiando e armando extremistas, directamente ou através de aliados. Não podemos esperar paz e cooperação com a Rússia enquanto concentramos forças da OTAN e realizamos manobras militares nas suas fronteiras. Não podemos ter segurança se não respeitamos a soberania e a segurança de outras nações e povos.
Ser justo e objectivo não significa ser equidistante entre o agressor e as suas vítimas. Temos de lidar com a agressão antes de podermos lidar com a resposta à agressão por parte das vítimas. Não deveríamos culpar a vítima da agressão em vez das acções do agressor. E, vendo o quadro global, não deveria existir qualquer dúvida acerca de quem são os agressores.
É à luz destes factos que cremos não ser possível impedir a catástrofe iminente sem juntarmos forças, com o necessário sentimento de urgência, para exigir, em palavras e em acções, o seguinte:
1- As forças da OTAN devem ser de imediato retiradas dos países fronteiriços com a Rússia;
2- Todas as forças estrangeiras devem abandonar imediatamente a Síria, e devem ser garantidas a soberania e a integridade territorial da Síria;
3- O conflito sírio deve ser resolvido apenas através de um processo político e de negociações diplomáticas;
4- As negociações devem incluir em particular o governo sírio, bem todas as entidades regionais e globais que são afectadas pelo conflito;
5- O futuro do governo sírio deve ser decidido apenas pelo povo sírio, livre de todas as interferências externas;
6- A estratégia de dominação global por parte dos EUA deve ser abandonada a favor da coexistência pacífica de todos os países e do respeito pelo direito de todas as nações à auto determinação e à soberania;
7- O processo de desmantelamento da OTAN deve iniciar-se de imediato.
Apelamos a todos os nossos amigos e camaradas no movimento da paz e antinuclear a que se juntem a nós numa coligação democrática para pôr fim a todas as guerras de agressão. De todo o coração, serão bem-vindas todas as respostas cooperativas por parte dos nossos amigos e camaradas no movimento.
O Conselho da Paz dos EUA