segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

VIVA A INTIFADA ÁRABE! FORA MUBARAK, EUA E ISRAEL DO ORIENTE MÉDIO!

Precisamos de toda solidariedade disponível: Vá ao ATO e ajude a divulgá-lo! Mensagem do Comitê de solidariedade à luta do Povo Palestino do Rio de Janeiro

TODO APOIO À REBELIÃO DO POVO ÁRABE

TODOS À MANIFESTAÇÃO NA FRENTE DO
CONSULADO DO EGITO -
Nesta terça-feira (01/02) - 13 horas

O mundo árabe está em chamas! Os povos da Tunísia e, agora, o do Egito promovem nas ruas grandes manifestações que se confrontam com uma polícia assassina e os Exércitos dos ditadores submissos aos interesses dos Estados Unidos da América (EUA) e ao sionismo.
Iniciada na Tunísia, a revolução do Jasmim  como ficou conhecida a onda de protestos que ganhou as ruas e derrubou o ditador,  se estendeu ao Egito. As massas árabes estão sendo há anos  massacradas, dominadas e amordaçadas pela política criminosa do imperialismo americano e sua principal base militar – Israel, que têm sobre o Oriente Médio o poder avassalador sobre os governos ditatoriais e a principal riqueza da região e que move o mundo capitalista: o petróleo
O fantoche MubaraK, ditador do Egito há 30 anos, cumpre o papel, ao lado da Arábia Saudita, Jordânia, e outros, de garantir a segurança das grandes e imperiais empresas petrolífera e  o domínio dos sionistas nos territórios palestinos, estrategicamente importante para manutenção do poder imperialista na região há mais de 60 anos.
Os EUA e Israel buscam uma saída que seja uma transição pacífica e moderada para uma “democracia”, onde o povo do Egito e da Tunísia continue sofrendo os horrores impostos por uma situação de total submissão  aos  interesses do império.
Por outro lado, a população nas ruas não desiste de exigir uma mudança radical e o rompimento com os EUA e Israel. Nesse sentido, as manifestações do povo no Egito cumpre um papel muito importante na emancipação e autodeterminação do povo do Oriente Médio. O Egito é o país que concentra a maior força de trabalho entre os países árabes.
Apesar do movimento sindical e social ter sido violentamente reprimido nos anos 80 e 90, quando o ditador Mubarak utilizou munição de guerra contra os grevistas, o movimento dos trabalhadores, deste dezembro de 2006, sustenta  uma grande onda de greves  não vistas desde 1946.  E o sentimento crescente é que a solução para seus problemas imediatos passa necessariamente pelo rompimento com o imperialismo.
Neste momento , há indícios de que Mubarak, antes de passar o poder para o fascista nomeado por ele e pelos EUA,  o chefe do Serviço Secreto, pró imperialista e pró sionista, Sr Omar Solaiman, promoverá um banho de sangue nas ruas, de onde os manifestantes se recusam a sair. Um novo protesto está marcado para amanhã (terça feira) e franco atiradores, policiais sem fardas e criminosos armados e libertados, no dia 28/01, pelo regime, já estão promovendo uma matança monstruosa. As forças militares estão autorizadas a atirar na população revoltada.
 Neste ponto, entra nossas tarefas de solidariedade!
A exemplo de outras manifestações de apoio e solidariedade ao povo egípcio que estão ocorrendo no mundo, nós dos partidos políticos da esquerda, das centrais sindicais, dos movimentos sociais, da juventude, dos negros, do movimento estudantil , das mulheres do Estado do Rio de Janeiro, estaremos nos manifestando também em solidariedade a esse bravo povo árabe que tem, neste momento,  a história em suas mãos e se confronta com o imperialismo e o sionismo.

  • FORA MUBARAK, EUA E ISRAEL DO EGITO E DO ORIENTE MÉDIO
  • TODO APOIO A LUTA DO POVO ÁRABE POR SUA EMANCIPAÇÃO E AUTODETERMINAÇÃO
  • VIVA A INTIFADA ÁRABE!

TODOS À MANIFESTAÇÃO NA FRENTE DO
CONSULADO DO EGITO -
Nesta terça-feira (01/02) - 13 horas
Rua Muniz Barreto, 741 - Botafogo

Cônsul Ministra Plenipotenciária Amany Mohamed Kamal El Etr
Rua Muniz Barreto, 741 - Botafogo - Cep: 22.251-090 - Rio de Janeiro, RJ
Telefone: (55 21) 2554-6664/6318, Fax: (55 21) 2552-8997"


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domingo, 30 de janeiro de 2011

Egipto, Mubarak se despede com um banho de sangue


 


Por Said Alami
Os recentes acontecimentos no Egito, onde o presidente Mubarak, nomeia vice-presidente o chefe do Serviço de Inteligência, general Omar Solaiman, e ao ministro da Aviação Civil e ex-chefe da Força Aérea Egípcia, Ahmad Shafiq,  primeiro-ministro, supõem a  primeira parte de uma saída diabólica do gigantesco atoleiro onde está metido o regime, em conseqüência da rebelião popular  sem precedentes que vive o país. Se trata de  uma saída posta em marcha pelo regime militar egípcio, com o serviços de inteligência no comando, em obediência castrense  aos seus amos em Washington.Há um fato que se deve levar em conta: o Egito vive sob o jugo da Lei de Estado de Emergência, desde a chegada ao poder de Mubarak, em 1981 , após o assassinato do então presidente Anwar El Sadat. 

Pois bem, a segunda parte desta saída diabólica, consistiu nas ordens dadas pelo governador militar da república, cargo que sustenta o próprio Mubarak, graças à referida lei, às forças policiais, para que se retirassem das  ruas . Ao mesmo tempo, o Ministério do Interior ordenou que todos os postos policiais, delegacias e prisões libertassem os detidos e prisioneiros que estavam sob a guarda da repressão estatal. Em conseqüência, a maioria destas estações, quartéis e prisões ficaram vazias e abandonadas. Assim, milhares de bandidos e criminosos comuns foram libertados com  claras instruções de semear o pânico nas ruas e bairros.
A terceira parte desta solução foi enviar os tanques para as ruas, mas ao som de  paz e na esperança de que as horda de bandidos fariam das suas e, assim,  se espalhasse  que a população, a propriedade privada e pública se encontravam desprotegidas e em grave perigo
Este é um cenário reproduzido daquele que aconteceu há duas semanas na Tunísia, onde gangues  aterrorizaram os moradores de diferentes bairros da capital, roubando e agredindo pessoas e, em seguida, justificasse o uso da força bruta pelo exército . No entanto, o Exército da Tunísia retirou seu apoio ao ditador Bem Ali, que não teve outro remédio que fugir do país.

Uma vez entregue todo poder ao Exército, na pessoa do Brigadeiro-General Omar Sulaiman, um homem nitidamente americano e pró Israel, como vice-presidente e ao general Ahmad Shafiq, como primeiro-ministro, o quarto episódio da perversa solução egípcia consiste em dar carta branca as forças militares para utilização de todas as forças e definitivamente controlar a situação nas ruas.
Assim, dezenas de milhares de soldados, muitos com uniformes e equipamento anti-distúrbios , têm presença nas ruas de muitas cidades do Egipto. Em 29 de janeiro, à noite, o  Brigadeiro-General Ismail Othman,  porta-voz do Exército, advertia que os militares "tratarão com extrema dureza àqueles  que burlarem o regime de toque de recolher” imposto já há 3 dias por ordem do governador militar, Mubarak.

No mesmo dia, 29 de janeiro, o toque de recolher foi ampliado para que entrasse em vigor às quatro horas em lugar de sete da tarde, como era antes. Os manifestantes em muitas cidades egípcias  ignoraram as ordens de toque de  recolher obrigatório e os protestos aumentaram provocando  mais mortes e centenas de feridos.

Com quatro fases bem estruturadas, a solução imposta ao povo egípcio, mostra suas intenções de forma  bem clara e cristalina. Não há dúvida. O regime de Mubarak quer converter  o povo egípcio em refém de seu Exército.

Pois bem, se o regime egípcio e a cúpula do Exército continuam empenhados em  se enfrentar com o povo e resistir a sua vontade , haverá certamente um banho de sangue sem precedentes no Egito.

De acordo com os correspondentes de emissoras de televisão que transmitem em árabe ao vivo do Cairo e, segundo  comunicações telefônicas realizadas  por esses meios, com testemunhas em diferentes partes do Egito, o genocídio  está em andamento. Médicos de vários hospitais no Cairo e Suez pediam ao vivo que se pare a matança, a chegada dos mortos e feridos nos hospitais é incessante.

Correspondentes, testemunhas, e observadores  profissionais em campo assinalam que o Exército e a polícia estão representando  um drama trágico em que gangues criminosas estão causando caos nas ruas e bairros, essas gangues são compostas por bandidos e membros da polícia, enquanto o exército  dispara suas armas contra os manifestantes, sob o pretexto de que eles estão lutando contra  criminosos.

Essas quadrilhas estão fortemente armadas, o que é inconcebível num país como o Egito, onde as armas são praticamente inexistentes nas mãos de civis e onde o crime organizado nunca teve uma presença significativa. Enquanto isso, os franco atiradores da polícia e do Exército  reapareceram em vários pontos e vários civis caíram em conseqüência de seus  tiros,  disparados dos  telhados e terraços, especialmente perto da sede do Ministério do Interior, onde se concentram dezenas de milhares de manifestantes.

No entanto, seja qual for o resultado da atual "intifada"egípcia, incluirá a saída forçosa e  vergonhosa de Mubarak do poder e a eliminação de qualquer esperança de que seu próprio filho, Gamal, vice-presidente do Partido Democrático Nacional, vá sucedê-lo como chefe de Estado, coisa que antes do início da "intifada" egípcia, há somente 5 dias, se dava por certo e garantido.
Já certo do  iminente abandono do poder, o ditador foi obrigado a nomear um vice-presidente, medida que resistiu a tomar desde sua instalação na Chefia do Estado, há 30 anos. Três décadas no poder, sem nomear um vice-presidente, e só o faz agora, por que assim lhe ordena e manda a Casa Branca, que aceita, com relutância, a perda de Mubarak,  figura-chave no Mundo Árabe, mas defenderá  com os dentes seu regime, que agora será custodiado por seu novo homem forte, Omar Solaiman.

Estados Unidos, ao contrário da declaração da Secretária de Estado, Hilary Clinton, e do próprio Barak Obama, quando em público pediram a não utilização da violência contra os manifestantes, na verdade, o que eles pediram ao regime egípcio, a julgar por tudo que esta acontecendo, é que se mantenham no poder, mesmo que isso custe massacrar milhares de cidadãos egípcios, coisa que já está em andamento.  Simplesmente por que a permanência  do regime de Mubarak, ainda que encabeçado num futuro próximo por Solaiman é primordial e essencial para segurança de Israel.

Aparentemente, a cúpula do Exército egípcio está  absolutamente controlada pelos EUA através do  típico método utilizado por Washington, reiteradas vezes, no Iraque, Afeganistão e outros países do mundo: o suborno e a compra de vontades. Na cúpula do Exército e do regime,algumas pessoas e máfias vendidas aos EUA estão bem posicionadas; cujo único propósito é servir os interesses dos Estados Unidos e Israel, e garantir, por todos os meios possíveis, a existência criminosa do  estado sionista.

Assim vemos como o exército egípcio, heróico no passado, derrotando Israel em 1973,  recuperando o canal de Suez e parte do Sinai (que mais tarde foi recuperado pela vergonhoso Acordos de Camp David, assinado por Sadat e que lhe custou a vida ), tornou-se o protetor de Israel e um inimigo do povo egípcio.

Sem dúvida,, é uma situação artificial que não pode durar para sempre!

 MUNDO ARABE.ORG 30/01/2011.

sábado, 29 de janeiro de 2011

O movimento de protesto no Egipto: "Ditadores" não ditam, obedecem ordens


por Michel Chossudovsky
O regime Mubarak pode entrar em colapso face ao vasto movimento de protesto à escala nacional. Quais as perspectivas para o Egipto e o mundo árabe?

"Ditadores" não ditam, eles obedecem ordens. Isto é verdade tanto na Tunísia como na Argélia e no Egipto.

Ditadores são sempre fantoches políticos. Os ditadores não decidem.

O presidente Hosni Mubarak foi o fiel servidor dos interesses econ
ômicos ocidentais e assim era Ben Ali.

O governo nacional é o objecto do movimento de protesto. O objectivo é remover o fantoche ao invés do mestre do fantoche. Os slogans no Egipto são "Abaixo Mubarak, abaixo o regime". Não há cartazes anti-americanos... A influência avassaladora e destrutiva dos EUA no Egipto e por todo o Médio Oriente permanece oculta.
 
As potências estrangeiras que operam nos bastidores estão protegidas do movimento de protesto.

Nenhuma mudança política significativa se verificará a menos que a questão da interferência estrangeira seja tratada de forma explícita pelo movimento de protesto.

Embaixada dos EUA no Cairo. A Embaixada dos EUA no Cairo é uma importante entidade política, sempre ofuscando o governo nacional, não é alvo do movimento de protesto.

No Egipto, em 1991 foi imposto um devastador programa do FMI na altura da Guerra do Golfo. Ele foi negociado em troca da anulação da multimilionária dívida militar do Egipto para com os EUA bem como da sua participação na guerra. A resultante desregulamentação dos preços dos alimentos, a privatização geral e medidas de austeridade maciças levaram ao empobrecimento da população egípcia e à desestabilização da sua economia. O Egipto era louvado como uma "aluno modelo" do FMI.

O papel do governo de Ben Ali na Tunísia foi impor os remédios economicos mortais do FMI, os quais num período de mais de vinte anos serviram para desestabilizar a economia nacional e empobrecer a população tunisina. Ao longo dos últimos 23 anos, a política economica e social na Tunísia foi ditada pelo Consenso de Washington.

Tanto Hosni Mubarak como Ben Ali permaneceram no poder porque os seus governos obedeceram e aplicaram efectivamente os diktats do FMI.

Desde Pinochet e Videla até Baby Doc, Ben Ali e Mubarak, os ditadores têm sido instalados por Washington. Historicamente, na América Latina, os ditadores eram nomeados através de uma série de golpes militares patrocinados pelos EUA.

Hoje eles são nomeados através de "eleições livres e justas" sob a supervisão da comunidade internacional.

Nossa mensagem ao movimento de protesto:

As decisões reais são tomadas em Washington DC, no Departamento de Estados dos EUA, no Pentágono, em Langley, sede da CIA, na H Street NW, as sedes do Bando Mundial e do FMI.

O relacionamento do "ditador" com interesses estrangeiros deve ser considerado. Derrubar fantoches políticos mas não esquecer de alvejar os "ditadores reais".

O movimento de protesto deveria centrar-se na poltrona real da autoridade política; deveria ter como alvo a Embaixada dos EUA, a delegação da União Europeia, as missões nacionais do FMI e do Banco Mundial.

Uma mudança política significativa só pode ser assegurada se a agenda de política económica neoliberal foi jogada fora.

Substituição de regime

Se o movimento de protesto deixar de tratar o papel das potências estrangeiras incluindo pressões exercidas por "investidores", credores externos e instituições financeiras internacionais, o objectivo da soberania nacional não será alcançado. Nesse caso, o que ocorrerá é um processo estreito de "substituição de regime", o qual assegura continuidade política.

"Ditadores" são postos e depostos. Quando eles estão politicamente desacreditados e já não servem os interesses dos seus patrocinadores estado-unidenses, eles são substituídos por um novo líder, muitas vezes recrutado dentro das fileiras da oposição política.

Na Tunísia, a administração Obama já se posicionou. Ela pretende desempenhar um papel chave no "programa de democratização" (isto é, manutenção das chamadas eleições justas). Ela também pretende utilizar a crise política como um meio de enfraquecer o papel da França e consolidar a sua posição na África do Norte:
"Os Estados Unidos, que foram rápidos em avaliar a vaga de protesto nas ruas da Tunísia, estão a tentar pressionar em seu proveito a fim de promover reformas democráticas no país e outras mais além.

O alto enviado dos EUA para o Médio Oriente, Jeffrey Feltman, foi o primeiro responsável estrangeiro a chegar ao país depois de o presidente Zine El Abidine Ben Ali ser derrubado em 14 de Janeiro e suavemente apelou a reformas. Ele disse na terça-feira que só eleições livres e justas fortaleceram e dariam credibilidade à liderança sob ataque do estado norte africano.

"Espero certamente que estaremos utilizando o exemplo tunisino" em conversas com outros governos árabes, acrescentou o secretário de Estado Feltman.

Ele foi despachado para o país norte africano a fim de oferecer a ajuda dos EUA na turbulenta transição de poder e encontrar-se com ministros e figuras da sociedade civil tunisina.

Feltman viaja para Paris na quarta-feira a fim de discutir a crise com líderes da França, promovendo a impressão de que os EUA está a conduzir apoio internacional a uma nova Tunísia, em detrimento da antiga potência colonial, a França. ...

Países ocidentais apoiaram por longo tempo a derrubada liderança da Tunísia, encarando-a como um baluarte contra militantes islâmicos na região norte africana.

Em 2006, o então secretário da Defesa dos EUA Donald Rumsfeld, falando em Tunis, louvou a evolução do país.

A secretária de Estado Hillary Clinton, agilmente, interveio com um discurso em Doha a 13 de Janeiro advertindo líderes árabes para permitirem aos seus cidadãos maiores liberdades ou [sofrerem] o risco de extremistas explorarem a situação.

"Não há dúvida de que os Estados Unidos estão a tentar posicionar-se muito rapidamente do lado bom..." AFP: US helping shape outcome of Tunisian , enfase acrescentada.
Será que Washington terá êxito em nomear um novo regime fantoche?

Isto depende muito da capacidade do movimento de protesto de tratar o papel insidioso dos EUA nos assuntos internos do país.

Os poderes avassaladores do império não são mencionados. Numa ironia amarga, o presidente Obama exprimiu o seu apoio ao movimento de protesto.

Muitas pessoas dentro do movimento de protestos são levadas a acreditar que o presidente Obama está comprometido com a democracia e os direitos humanos e é apoiante da resolução da oposição de destronar o ditador, o qual fora antes instalado pelos EUA.

Cooptação de líderes da oposição

A cooptação dos líderes dos principais partidos da oposição de organizações da sociedade civil na previsão do colapso de um governo fantoche autoritário faz parte dos desígnios de Washington, aplicados em diferentes regiões do mundo. O processo de cooptação é implementado e financiado pelos EUA com base em fundações incluindo o National Endowment for Democracy (NED) e o Freedom House (FH). Tanto o FH como o NED têm ligações ao Congresso dos EUA, ao Council on Foreign Relations (CFR) e ao establishment de negócios estado-unidense. Tanto o NED como o FH são conhecidos por terem laços com a CIA.

O NED está envolvido activamente na Tunísia, Egipto e Argélia. A Freedom House apoia várias organizações da sociedade civil no Egipto.
"O NED foi estabelecido pela administração Reagan depois de o papel da CIA nos financiamentos encobertos para derrubar governos estrangeiros ter sido trazido à luz, levando ao descrédito dos partidos, movimentos, revistas, livros, jornais e indivíduos que receberam financiamento da CIA. ... Como uma fundação bi-partidária, com participação dos dois principais partidos, bem como da AFL-CIO e da US Chamber of Commerce, o NED assumiu o comando do financiamento de movimentos para derrubar governos estrangeiros, mas abertamente e sob a rubrica da "promoção da democracia". (Stephen Gowans, January « 2011 "What's left"
Se bem que os EUA tenha apoiado o governo Mubarak durante os últimos trinta anos, fundações dos EUA com laços no Departamento de Estado e no Pentágono apoiaram activamente a oposição política incluindo o movimento da sociedade civil. Segundo a Freedom House: "A sociedade civil egípcia é tanto vibrante como constrangida. Há centenas de organizações não governamentais dedicadas a expandir direitos civis e políticos no país, operando num ambiente altamente regulado". (Freedom House Press Releases).

Numa ironia amarga, Washington apoia a ditadura Mubarak, incluindo suas atrocidades, enquanto também apoia e financia seus detractores, através das actividades do FH, NED, dentre outras.

O esforço da Freedom House para envolver uma nova geração de advogados proporcionou resultados tangíveis e o programa New Generation no Egipto ganhou proeminência tanto ao nível local como internacional. Membros visitantes egípcios de todos os grupos da sociedade civil receberam [Maio 2008] atenção sem precedentes e reconhecimento, incluindo reuniões em Washington com o secretário de Estado, o Conselheiro de Segurança Nacional e membros eminentes do Congresso. Nas palavras de Condoleezza Rice, eles representam a "esperança para o futuro do Egipto".
http://www.freedomhouse.org/template.cfm?page=66&program=84

Política dúplice: Conversar com "ditadores", misturar-se com "dissidentes"

Hillary Clinton e Mubarak. Sob os auspícios da Freedom House, em Maio de 2008 dissidentes egípcios e oponentes de Hosni Mubarak foram recebidos por Condoleezza Rice no Departamento de Estado e no Congresso dos EUA.

Em Maio de 2009, Hillary Clinton encontrou-se com uma delegação de dissidentes egípcios, visitando Washington sob os auspícios da Freedom House. Foram reuniões de alto nível. Este grupos de oposição, os quais estão a desempenhar um papel importante no movimento de protesto, estão destinados a servir os interesses dos EUA. A América é apresentada como um modelo de Liberdade e Justiça. O convite de dissidentes para o Departamento de Estado e o Congresso dos EUA pretende instilar um sentimento de compromisso e lealdade a valores democráticos americanos.

Os mestres dos fantoches apoiam o movimento de protesto contra os seus próprios fantoches

. Os mestres dos fantoches apoiam dissidentes contra os seus próprios fantoches?

Chama-se a isto "alavancagem política", "fabricação de dissidentes". O apoio a ditadores bem como a oponentes do ditador como um meio de controlar a oposição política.

Estas acções da parte da Freedom House e do National Edowment for Democracy, por conta das administrações Bush e Obama, asseguram que a oposição da sociedade civil financiada pelos EUA não dirigirá suas energias contra os mestres do fantoche por trás do regime Mubarak, nomeadamente o governo dos EUA.

Estas organizações da sociedade civil financiadas pelos EUA actuam como um "Cavalo de Troia" o qual fica incorporado dentro do movimento de protesto. Elas protegem os interesses dos mestres do fantoche. Elas asseguram que o movimento de protesto das bases não considerará a questão mais vasta da interferência estrangeira nos assuntos internos de estados soberanos.

Os Facebook, Twitter e bloguistas apoiados e financiados por Washington

Em relação ao movimento de protesto no Egipto, vários grupos da sociedade civil financiados por fundações com sede nos EUA têm dirigido o protesto com o Twitter e o Facebook:
"Activistas do movimento Kifaya (Basta) do Egipto – uma coligação de oponentes ao governo – e o Movimento da Juventude 6 de Abril organizaram os protestos nas redes sociais dos sítios web do Facebook e Twitter". (Ver Voice of America, Egypt Rocked by Deadly Anti-Government Protests
O movimento Kifaya, o qual organizou uma das primeiras acções dirigidas contra o regime Mubarak em 2004, é apoiado pelo International Center for Non-Violent Conflict com sede nos EUA, o qual é ligado à Freedom House. Por sua vez, a Freedom House tem estado envolvida na promoção e treino do Facebook e de blogs Twitter no Médio Oriente e África do Norte.
Os assistidos pela Freedom House adquiriram qualificações em mobilização cívica, liderança e planeamento estratégico, e beneficiam de oportunidades em rede através da interacção com doadores, organizações internacionais e os media baseados em Washington. Depois de retornarem ao Egipto, os assistidos receberam pequenas subvenções para implementar iniciativas inovadoras tais como advogar pela reforma política através do Facebook e de mensagens SMS.
http://www.freedomhouse.org/template.cfm?page=66&program=84 (emphasis added)

De 27 de Fevereiro a 13 de Março [2010], a Freedom House hospedou 11 bloguistas do Médio Oriente e África do Norte [de diferentes organizações da sociedade civil] para um Advanced New Media Study Tour de duas semanas em Washington, DC. O Study Tour deu aos bloguistas treino em segurança digital, feitura de vídeos digitais, desenvolvimento de mensagens e mapeamento digital. Enquanto em DC, os assistidos também participaram numa reunião no Senado e encontraram-se com responsáveis de alto nível na USAID, no Departamento de Estado e no Congresso bem como com os media internacional incluindo a Al-Jazeera e o Washington Post . http://www.freedomhouse.org/template.cfm?page=115&program=84&item=87 ênfase acrescentada
Pode-se facilmente perceber a importância concedida pela administração dos EUA a este programa de treino de bloguistas, o qual é complementado com reuniões no Senado, no Congresso, no Departamento de Estado, etc.

O papel do movimento Facebook Twitter como expressão de dissidência deve ser cuidadosamente avaliado à luz de ligações de várias organizações da sociedade civil à Freedom House (FH), à National Endowment for Democracy (NED) e ao Departamento de Estado dos EUA.

A Fraternidade Muçulmana

A Fraternidade Muçulmana constitui no Egipto o maior segmento da oposição ao presidente Mubarak. Segundo informações, a Fraternidade Muçulmana domina o movimento de protesto.

Apesar de haver uma proibição constitucional de partidos políticos religiosos, membros eleitos ao parlamento egípcio como "independentes" constituem o maior bloco parlamentar.

A Fraternidade, contudo, não constitui uma ameaça directa aos interesses econômicos e estratégicos de Washington na região. Agências de inteligência ocidentais têm uma longa história de colaboração com a Fraternidade. O apoio britânico à Fraternidade instrumentado através do Serviço Secreto Britânico remonta à década de 1940. A partir da década de 1950, segundo o antigo responsável de inteligência William Baer, "A CIA [canalizou] apoio à Fraternidade Muçulmana devido à louvável capacidade da Fraternidade para derrubar Nasser". 1954-1970: CIA and the Muslim Brotherhood Ally to Oppose Egyptian President Nasser . Estas ligações encobertas à CIA foram mantidas na era pós Nasser.

Notas conclusivas

A remoção de Hosni Mubarak tem estado, desde há vários anos, nos planos da política externa dos EUA.

A substituição de regime serve para assegurar continuidade, ao mesmo tempo que proporciona a ilusão de que se verificou uma mudança política significativa.

A agenda de Washington para o Egipto tem sido "sequestrar o movimento de protesto" e substituir o presidente Hosni Mubarak por um novo fantoche complacente na chefia do estado.

O objectivo de Washington é sustentar os interesses de potências estrangeiras, defender a agenda econ
ômica neoliberal que serviu para empobrecer a população egípcia.

Do ponto de vista de Washington, a substituição de regime não exige mais a instalação de um regime militar autoritário como no auge do imperialismo estado-unidense. Ela pode ser implementado pela cooptação de partidos políticos, incluindo a esquerda, financiamento de grupos da sociedade civil, infiltração no movimento de protesto e manipulação de eleições nacionais.

Em relação ao movimento de protesto no Egipto, o presidente Obama declarou num vídeo de 28 de Janeiro difundido no Youtube: "O governo não deveria recorrer à violência".

A questão mais fundamental é o que é a fonte daquela violência?

O Egipto é o maior receptor de ajuda militar dos EUA. Os militares egípcios são considerados serem a base de poder do regime Mubarak.

As políticas estado-unidenses impostas ao Egipto e ao mundo árabe durante mais de 20 anos, a par de reformas "mercado livre" e da militarização do Médio Oriente, são a causa raiz da violência de Estado.

A intenção da América é utilizar o movimento de protesto para instalar um novo regime.

O Movimento Popular deveria redireccionar suas energias: Identificar o relacionamento entre a América e "o ditador". Destronar o fantoche político da América mas não esquecer o alvo do "ditadores reais".

Desviar o processo de mudança de regime.

Desmantelar as reformas neoliberais.

Encerrar bases militares dos EUA no Egipto e no mundo árabe.

Estabelecer um governo realmente soberano.
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© Copyright Michel Chossudovsky, Global Research, 2011


O original encontra-se em www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=22993

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
29/Jan/1

Não esperamos qualquer ajuda dos EUA: Apenas nos deixe em paz.

Entrevista com Hossam el-Hamalawy, jornalista e blogueiro egípcio
Al-Jazeera
Inglês, traduzido para Rebelión por Germain Leyens e revisado por Caty R.
Hossam el-Hamalawy é jornalista e blogueiro do site 3arabawy
Mark Levine é professor da Universidade da Califórnia em Irvine, conseguiu entrar em contato, via Skype, com Hossam para obter um informe de primeira mão sobre os acontecimentos que estão ocorrendo no Egito.

Na foto: Hossam el-Hamalawy


Por que foi necessário uma revolução em Túnis para que os  egípcios fossem às ruas em números sem precedentes?
No Egito, dizemos que a Tunísia foi mais um catalisador de um instigador, porque as condições objectivas para uma revolta já existiam no Egito e nos últimos anos, a revolta estava no ar. Por certo, já logramos ter duas  mini intifada, ou "mini-Tunísia” em 2008. A primeira foi uma revolta em abril de 2008 em Mahalla, seguido por outra em Borollos, no norte.
As revoluções não surgem do nada. Não temos mecanicamente uma manhã no Egito, porque ontem houve uma na Tunísia. Não é possível isolar estes protestos dos últimos quatro anos de greves dos trabalhadores no Egito ou, de eventos internacionais, como a Intifada de al-Aqsa e a invasão do Iraque pelos os EUA. A eclosão da Intifada de al-Aqsa foi especialmente importante porque, nos anos oitenta e noventa, as manifestações nas ruas foram  efetivamente impedidas pelo governo, como parte da luta contra os insurgentes islamitas. Os ativistas somente encontravam espaços políticos para suas manifestações nos campusi universitários ou nas centrais dos partidos. Mas o início da segunda Intifada em 2000 e, quando a Al-Jazeera começou a transmitir imagens dela, inspirou a nossa juventude a tomar as ruas, da mesma forma que hoje nos inspira a Tunísia.

Como você desenvolve os protestos?
É muito cedo para dizer qual será sua dinâmica. É um milagre que continuaram, ontem (28/01/11) depois da meia noite, apesar do medo e da repressão. Mas sabendo disso, a situação atingiu um nível onde todos estão fartos, seriamente fartos! E mesmo que as forças de segurança conseguissem esmagar os protestos de hoje (29/01/11) não poderá esmagar as que irão acontecer na próxima semana ou,  no próximo mês ou, mais adiante durante o  ano. Definitivamente há uma mudança no grau de coragem e valentia do povo.
O Estado, lhe ajudou a desculpa de combater o  terrorismo na década de noventa para eliminar todas as formas de dissidência no país, um truque usado por todos os governos, incluindo os EUA Mas uma vez que a oposição formal  a um regime passa das armas aos  protestos massivos, é muito difícil enfrentar uma dissensão semelhante. Eles podem planejar a liquidação de um grupo de combates, mas o que eles vão fazer na frente de milhares de manifestantes nas ruas? Não podem matar a todos. Nem sequer podem garantir que os soldados o façam, que disparem  contra os pobres.

Qual é a relação entre os eventos locais e regionais neste país?
Há que compreender que o regional é local neste país. Em 2000, os protestos não começaram como protestos  contra o regime, mas sim contra Israel e em apoio aos palestinos. O mesmo ocorreu com a  a invasão do Iraque pelos EUA,  três anos depois. Mas uma vez que saímos as ruas e enfrentamos a violência do regime, começamos a fazer perguntas: Por que Mubarak enviou tropas para enfrentar os manifestantes, em vez de enfrentar Israel? Por que exporta  cimento para Israel, que o  utiliza para construir assentamentos para colonos judeus, em lugar de ajudar os palestinos? Por que a polícia é tão brutal  com nossa gente, quando só estamos expressando nossa solidariedade com os palestinos de forma pacífica?
Dessa forma os problemas regionais, como Israel e o Iraque passaram a ser temas e questões locais. E em alguns momentos, os mesmos  manifestantes que gritavam palavras de ordem pró-palestina começaram a fazê-lo contra Mubarak. O momento decisivo em termos específicos dos protestos foi 2004, quando a dissidência tornou-se interna.

Na Tunísia, os sindicatos desempenharam um papel fundamental na revolução, já que  sua ampla e disciplinada composição assegurou que os protestos não podem ser facilmente esmagados e lhes conferiu uma organização. Qual é o papel do movimento sindical no Egito no levantamento atual?
O movimento sindical egípcio foi bastante atacado nos anos oitenta e noventa pela repressão  que utilizou munição de guerral contra os grevistas pacíficos em 1989 durante as greves nas fábricas e em 1994 nas greves das fábricas de têxteis. Mas, desde dezembro de 2006, nosso país vive continuamente as maiores e mais sustentadas ondas de greves desde 1946, provocadas por greves na indústria têxtil na cidade de Mahalla ,no Delta do Nilo,  centro da maior força de trabalho no Oriente Médio, com mais de 28.000 trabalhadores. Começou por temas ligados a relação empregatícia, mas se estendeu a todos os setores da sociedade, com excepção das forças policiais e armadas.
Como resultado dessas greves, conquistamos 2 sindicatos  independentes, os primeiros de seu tipo desde 1957, os coletores de impostos sobre propriedade, que inclui mais de 40.000 empregados públicos e, os técnicos da saúde, mais de 30.000. Esses trabalhadores construíram sindicatos fora do controle do Estado
Mas é verdade que existe uma diferença entre nós e a Tunísia, é que, embora fosse uma ditadura, a Tunísia tem  uma federação sindical semi-independentes. Inclusive, se os dirigentes colaboravam com  o regime, os membros eram sindicalizados militantes. De maneira que quando chegou a hora de greves gerais, os sindicatos foram capazes de aderir.
No Egito, temos um vazio que  esperamos preencher em breve. Os sindicalistas independentes estão submetidos a política de  caça às bruxas, desde que trataram de lutar. Há processos iniciados contra eles pelos sindicatos estaduais que são apoiados pelo Estado, mas eles não desistem e seguem lutando, apesar das contínuas tentativas de silenciá-los.
De fato, nos últimos dias a repressão  se dirigiu contra os manifestantes nas ruas, nos quais não são necessariamente sindicalistas. Os protestos reunem um vasto espectro de egípcios, incluindo filhos e filhas da elite. Portanto, temos uma combinação de juventude urbana pobre com a classe média e os filhos e filhas da elite.
Eu acho que Mubarak conseguiu reunir todos os setores da sociedade, com a exceção de seu círculo de cúmplices.

A revolução tunisiana tem sido descrita como fortemente liderado pela "juventude" e dependente da tecnologia de redes sociais como Facebook e Twitter, para seu sucesso. E agora as pessoas se concentram sobre a juventude no Egito como um importante catalisador. Será esta uma "intifada dos jovens" e poderia ocorrer sem o Facebook e outras novas tecnologias de mídia?
Sim, é uma intifada juvenil nas ruas. Internet só desempenha um papel na propagação e difusão das palavra e das imagens do que acontece no terreno. Não utilizamos a  Internet para nos organizar. Usamo-la para dar a conhecer o que estamos fazendo, na esperança de incentivar outros a participar das ações.

Como você já deve ter ouvido, nos EUA, o apresentador de programas de entrevistas Glenn Beck atacou uma acadêmica idosa, Frances Fox Piven, por um artigo que ela escreveu chamando aos desempregados a realizar protestos em massa por postos de trabalho. Ela até recebeu ameaças de morte, algumas pessoas sem trabalho que parece mais feliz fantasiando sobre disparar-lhe com uma de suas muitas armas que realmente lutar por seus direitos. É incrível pensar sobre o papel crucial dos sindicatos no mundo árabe atual, tendo em conta mais de duas décadas de regimes neoliberais em toda a região, cujo principal objetivo é destruir a solidariedade da classe trabalhadora. Por que continuam importantes os sindicatos?
Os sindicatos são sempre um remédio mágico contra qualquer ditadura. Olhe para a Polônia, Coréia do Sul, América Latina e na Tunísia. Os sindicatos sempre foram úteis para a mobilização das massas. Precisamos de uma greve geral para derrubar uma ditadura, e não há nada melhor que um sindicato independente para fazê-lo.

Existe um programa ideológico mais amplo por trás dos protestos, ou somente  livrar-se de Mubarak?
Todo mundo tem seus motivos para sair às ruas, porém, eu suponho que se  nosso levante tem êxito e derrubarmos Mubarak, aparecerá as divergências. Os pobres querem levar a revolução a uma posição mais radical, promovendo uma redistribuição radical da riqueza e o  combate a corrupção;  enquanto os reformistas  querem colocar os freios na revolução, pressionando mais ou menos por mudanças "por cima" e limitar um pouco os poderes, mas mantendo a essência do Estado.

Qual é o papel da Irmandade Muçulmana e como afeta a situação o fato que estejam distante dos atuais protestos?
A Irmandade sofre  divisões desde a eclosão da Intifada de al-Aqsa. Sua participação no Movimento de Solidariedade à Palestina quando confrontado com o regime foi desastrosa. Basicamente, toda vez que seus líderes chegarem a um compromisso com o regime, especialmente os acólitos do atual líder supremo, desmoralizam seus quadros da base. Eu, pessoalmente, conheço muitos jovens irmãos que habandonaram o grupo, alguns deles se juntaram a outros grupos ou tornaram-se  independentes. À medida que cresce, o movimento atual das ruas e os dirigentes intermediários e os mais simples participam, haverá mais divisões, pois os principais líderes não conseguem  justificar por que não fazem  parte desse novo levante.

Qual é o papel dos EUA neste conflito? Como vê,as pessoas nas ruas, as suas posições?
Mubarak é o segundo maior receptor de ajuda externa dos EUA, depois de Israel. É conhecido como o valentão dos EUA na região; é um dos instrumentos da política externa dos EUA, que implementa seu programa de segurança que beneficia  Israel e  o fluxo , sem problemas, do petróleo, ao mesmo tempo em que mantém os palestinos “dentro dos limites”. Então, não é nenhum segredo que esta ditadura tem recebido o apoio do governo dos EUA, desde o primeiro dia, mesmo durante a enganosa retórica pró-democracia de Bush. Portanto, não é de surpreender as declarações ridículas de Clinton que defendeu o regime de Mubarak, como um dos pilares da política externa dos EUA que  é a manutenção de regimes estáveis em detrimento da liberdade e dos direitos civis.
Não esperamos nada de Obama, a quem consideramos como um grande hipócrita. Mas esperamos que o povo americano, sindicatos, associações de professores, grêmios estudantis, grupos de activistas – se pronunciem  em nosso apoio. O que  queremos é que o governo os EUA se mantenha fora do assunto. Não queremos nenhum tipo de endosso, basta cortar a ajuda a Mubarak e que  retire  todas as bases militares do Oriente Médio e deixe de apoiar o Estado de Israel.
Em última instância, Mubarak  fará  tudo o que tem que fazer  para se proteger. De repente, adotará  a retórica anti-americana, se achar que assim pode ajudar-lo a salvar sua pele. Afinal está comprometido com seus próprios interesses e se achar que EUA não o apoiará, mudará de direção. A realidade é que qualquer governo realmente comprometido dom o povo que  chegar ao poder na região , sem dúvida entrará em conflito aberto com os EUA. Isso  porque terá com o diretrizes a redistribuição da riqueza e o fim do apoio a Israel e outras ditaduras da região.  De modo que  não esperamos qualquer ajuda dos EUA:  Apenas nos deixe em paz.

Mark LeVine é professor de história na Universidade da Califórnia, em Irvine, e visiting fellow sênior do Centro para Estudos do Oriente Médio da Universidade de Lund, na Suécia. Seus livros mais recentes são Heavy Metal Islam (Random House) e paz impossível: Israel / Palestina desde 1989 (Zed Books).

 

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Um programa entusiasmante: Tunísia constitui a Frente do 14 de Janeiro

Em 20 de Janeiro de 2011 várias organizações nacionalistas e de esquerda na Tunísia constituiram-se em Frente. Ela agrupará neste momento o Movimento dos Unionisdtas Nasseristas, a Liga da Esquerda Operária, o Movimento Baath, os Esquerdistas Independentes, o Movimento dos Nacionalistas Democratas, o Partido Comunista dos Operários da Tunísia e o Partido do Trabalho Patriótico e Democrático. Esta frente tem o nome de "Frente do 14 de Janeiro" em referência à data da fuga de Ben Ali, o presidente derrubado.

Ela assume como objectivo organizar a resistência ao actual governo de transição no qual continuam a participar os caciques do RCD (Rassemblement constitutionnel démocratique), o partido de Ben Ali, e construir uma alternativa popular saída dos comités de vigilância criados nos vários distritos da Tunísia para se defenderem do terror espalhado pelos aparelhos do RCD e da polícia presidencial. O apelo dirige-se a todas as forças do progresso político, sindicais e associativas a fim de cumprir os objectivos desejados pela revolução popular tunisina. Eis a tradução do texto fundador: 

 Afirmando nosso empenhamento na revolução do nosso povo que combateu pelo direito à liberdade e à dignidade nacional e fez grandes sacrifícios que incluem dezenas de mártires e milhares de feridos e detidos, e a fim de alcançar a vitória contra os inimigos internos e externos e de se opor às tentativas abortadas para esmagar estes sacrifícios, constituiu-se "a Frente do 14 de Janeiro" como um quadro político que se dedicará a fazer avançar a revolução do nosso povo rumo à realização dos seus objectivos e a opor-se às forças da contra-revolução. Este quadro compreende os partidos, as forças e organizações nacionais progressistas e democráticas.

As tarefas urgentes desta Frente são:

1- Fazer cair o governo actual de Ghannouchi ou todo governo que incluísse símbolos do antigo regime, que aplicou uma política anti-nacional e anti-popular e serviu os interesses do presidente derrubado.

2- A dissolução do RCD e o confisco da sua sede, dos seus bens, haveres e fundos financeiros uma vez que eles pertencem ao povo.

3- A formação de um governo interino que desfrute da confiança do povo e das forças progressistas militantes políticas, associativas, sindicais e da juventude.

4- A dissolução da Câmara dos Representantes e do Senado, de todo os órgãos fictícios actuais e do Conselho Superior da Magistratura e o desmantelamento da estrutura política do antigo regime e a preparação das eleições para uma assembleia constituinte num prazo máximo de um ano a fim de formular uma nova constituição democrática e fundar um novo sistema jurídico para enquadrar a vida pública que garanta os direitos políticos, económicos e culturais do povo.

5- Dissolução da polícia politica e adopção de uma nova política de segurança fundada no respeito dos direitos do homem e na superioridade da lei.

6- O julgamento de todos aqueles que são culpáveis de roubo dos dinheiros do povo, daqueles que cometeram crimes contra o mesmo como a repressão, o aprisionamento, a tortura e a humilhação – da tomada de decisão à execução – e finalmente de todos aqueles que são voltados para a corrupção e o desvio de bens públicos.

7- A expropriação da antiga família reinante e dos seus próximos e associados e de todos os funcionários que utilizaram a sua posição para enriquecerem-se a expensas do povo.

8- A criação de empregos para os desempregos e medidas urgentes para conceder uma indemnização de desemprego, uma maior cobertura social e a melhoria do poder de compra para os assalariados.

9- A construção de uma economia nacional ao serviço do povo em que os sectores vitais e estratégicos estejam sob a supervisão do Estado e a re-nacionalização das instituições que foram privatizadas e a formulação de uma política económica e social que rompa com a abordagem liberal capitalista.

10- A garantia das liberdades públicas e individuais, em particular da liberdade de manifestar e de se organizar, a liberdade de expressão, da imprensa, da informação e do pensamento; a libertação dos detidos e a promulgação de uma lei de amnistia.

11- A Frente saúda o apoio das massas populares e das forças progressistas no mundo árabe e no mundo inteiro à revolução na Tunísia, e convida-as a prosseguirem o seu apoio por todos os meios possíveis.

12- A resistência à normalização com a entidade sionista e sua penalização e o apoio aos movimentos de libertação nacional no mundo árabe e no mundo inteiro.

13- A Frente conclama todas as massas populares e as forças nacionalistas e progressistas a prosseguirem a mobilização e a luta sob todas as formas de protesto legítimo, em particular na rua até a obtenção dos objectivos propostos.

14- A Frente saúda todos os comités, as associações a formas de auto-organização popular e convida-os a ampliar o seu círculo de intervenção a tudo o que se refira à condução dos assuntos públicos e aos diversos aspectos da vida quotidiana.

Glória aos mártires da Intifada e Vitória às massas revolucionárias do nosso povo.

Tunísia, 20 de Janeiro de 2011.
O original encontra-se em http://www.ptb.be/nieuws/artikel/tunisie-front-du-14-janvier.html

Este documento encontra-se em http://resistir.info/ .