terça-feira, 30 de setembro de 2014

À sombra da geopolítica dos EUA, ou Como sempre, é a “Grande Israel”


"Desde o início da “Primavera Árabe”, os EUA vêm se movimentando na direção de uma reestruturação geopolítica da região, a qual, é claro, também levantou a discussão sobre o destino de Israel. Desde então, a questão permanece na agenda. E não importa a forma que assuma, o tom não muda: Israel é invariavelmente apresentada como a vítima. 

Assim, na primavera de 2011, no auge da guerra contra a Líbia, quando a Autoridade Palestina levantou a questão de tornar-se membro da ONU, a imprensa-empresa ocidental rapidamente pôs-se a denunciar a traição, por Washington, que estaria “entregando” o Estado Judeu aos islamistas. Hoje, quando o absurdo dessa ideia já é óbvio para todos, a ênfase passou para a ameaça mortal que o Irã representaria para Israel, ênfase que, pelo que se vê, cresce alinhada à deterioração da situação na Síria. 

Nesse processo, a questão mais importante está sendo ocultada ou, simplesmente, foi varrida: o agudo interesse que Israel tem na desestabilização dos países árabe-muçulmanos que a cercam; e em manter e expandir a guerra na Síria. 

O rabino Avraam Shmulevich, um dos criadores da doutrina do “hipersionismo”, influente na elite israelense, falou abertamente sobre as razões desse interesse, em entrevista, em 2011. É interessante: ali, ele via a “Primavera Árabe” como uma bênção para Israel."


 

Há trinta anos, os estrategistas dos EUA introduziram a ideia do “Grande Oriente Médio”, ou “Oriente Médio Expandido” [orig. The Greater Middle East], correspondente ao espaço do Maghreb a Bangladesh, e declararam que esse vasto território passava a ser zona de interesse prioritário dos EUA.



Novo Oriente Médio pensado pelos EUA/Israel


Em 2006, o programa de domínio pelos EUA nessa região foi renovado e definido mais concretamente: a então secretária de Estado dos EUA Condoleezza Rice introduziu a expressão “O Novo Oriente Médio”, com destaque para um plano para retraçar as fronteiras no Oriente Médio, da Líbia à Síria, Iraque, Irã e até Afeganistão. A estratégica apareceu referida como “um caos construtivo” (...)


No mesmo ano (2006), um mapa do “Novo Oriente Médio” (ver acima) preparado pelo coronel Ralph Peters foi publicado na revista norte-americana Armed Forces Journal que circulou no governo e em círculos políticos e militares mais amplos, preparando a opinião pública para as mudanças iminentes.
 

Desde o início da “Primavera Árabe”, os EUA vêm se movimentando na direção de uma reestruturação geopolítica da região, a qual, é claro, também levantou a discussão sobre o destino de Israel. Desde então, a questão permanece na agenda. E não importa a forma que assuma, o tom não muda: Israel é invariavelmente apresentada como a vítima.

Assim, na primavera de 2011, no auge da guerra contra a Líbia, quando a Autoridade Palestina levantou a questão de tornar-se membro da ONU, a imprensa-empresa ocidental rapidamente pôs-se a denunciar a traição, por Washington, que estaria “entregando” o Estado Judeu aos islamistas. Hoje, quando o absurdo dessa ideia já é óbvio para todos, a ênfase passou para a ameaça mortal que o Irã representaria para Israel, ênfase que, pelo que se vê, cresce alinhada à deterioração da situação na Síria.

Nesse processo, a questão mais importante está sendo ocultada ou, simplesmente, foi varrida: o agudo interesse que Israel tem na desestabilização dos países árabe-muçulmanos que a cercam; e em manter e expandir a guerra na Síria.


O rabino Avraam Shmulevich, um dos criadores da doutrina do “hipersionismo”, influente na elite israelense, falou abertamente sobre as razões desse interesse, em entrevista, em 2011. É interessante: ali, ele via a “Primavera Árabe” como uma bênção para Israel.

O mundo muçulmano, escreveu Avraam Shmulevich, está mergulhando em um estado de caos, e esse desenvolvimento será positivo para os judeus. O caos é o momento perfeito para assumir o controle de uma situação e pôr em operação o sistema da civilização judaica. Exatamente agora, acontece uma batalha pelo lugar de guia espiritual da humanidade: Roma (o Ocidente) ou Israel. (...) Agora é o momento em que devemos tomar em nossas mãos o controle. (...) Não apenas varrer a elite árabe, mas fazê-la comer na nossa mão. (...) Quem alcance a liberdade deve, ao mesmo tempo, ser orientado sobre como usar essa liberdade. E essa orientação, para toda a humanidade, será escrita por nós. (...) O judaísmo florescerá, do incêndio das revoluções árabes. [negritos da autora].


Sobre os objetivos da política externa de Israel, Shmulevich enfatizou a necessidade de manter “as fronteiras naturais ao logo do Nilo e do Eufrates estabelecidas na Torah”, que deverão então ser seguidas na segunda fase da ofensiva – expandindo a hegemonia de Israel para toda a região do Oriente Médio. Também sobre isso, Shmulevich falou com extrema clareza:

Está começando simultaneamente no Oriente Médio uma cadeia de desintegração e reforma. Assad, que atualmente está afogando em sangue os processos revolucionários na Síria, não conseguirá, contudo, manter-se por mais um, dois anos. A revolução está começando na Jordânia. Até os curdos e o Cáucaso estão emergindo como parte integrante do Oriente Médio (...) [negritos da autora].

Não é difícil ver aí um Iraque, ou um Afeganistão, continuados.

Seria possível classificar Shmulevich como pensador marginal, não fosse o fato de que ele repete os princípios fundamentais do plano estratégico que líderes israelenses traçaram em 1982, conhecido como “Plano Yinon”. O plano visava a garantir a superioridade regional para o governo israelense, mediante a desestabilização e a “balcanização”, ou seja, a desestabilização dos estados árabes adjacentes ou, em outras palavras, o mesmo que se leu, reproduzido, no projeto “Novo Oriente Médio” esboçado por Condoleeza Rice e pelo coronel Ralph Peters.


Grande Israel ou Terra Prometida por Oded Yinon

O plano traça “Uma estratégia para Israel nos anos 1980s”, documento preparado por Oded Yinon, jornalista israelense ligado ao Ministério de Negócios Exteriores. Foi publicado primeiro em hebraico, na revista Kivunim [Rumos], do Departamento de Informação da Organização Sionista Mundial, em fevereiro de 1982. No mesmo ano, a Associação de Universitários Árabe-Norte-Americanos publicou uma tradução do texto, assinada e anotada por Israel Shahak [1]. Em março de 2013, o artigo de Israel Shahak foi publicado na página de Michel Chossudovsky na Internet, Global Research.

Esse documento, que é parte da formação da “Grande Israel”, escreve Chossudovsky na introdução ao artigo, é a pedra de toque de poderosas facções sionistas dentro do atual governo de Netanyahu, do Partido Likud e do establishment militar e de inteligência israelense (...). Vistas no atual contexto, a guerra contra o Iraque, a guerra de 2006 contra o Líbano, a guerra de 2011 contra a Líbia, a atual guerra contra a Síria, para nem falar do processo de “mudança de regime” no Egito, têm de ser compreendidos em relação àquele Plano Sionista para o Oriente Médio” [negritos da autora].

O plano está baseado em dois princípios fundamentais que determinam as condições da sobrevivência de Israel em seu ambiente árabe:

(1) Israel tem de tornar-se potência imperial regional; e
(2) Israel tem de fragmentar toda a área circundante em estados menores, mediante a dissolução de todos os estados árabes existentes. O tamanho desses estados dependerá da composição étnica e religiosa de cada um. Sobretudo: a criação de novos estados baseados na religião será fonte de legitimidade moral para o governo israelense.

Deve-se dizer que a ideia de fragmentar os estados árabes do mundo não é nova. Existe há muito tempo no pensamento estratégico sionista, [2]
mas a matéria de Yinon, como Israel Shahak já destacara em 1982, ofereceu um “plano acurado e detalhado do então governo sionista (de Sharon e Eitan) para o Oriente Médio, baseado na divisão dos territórios em estados pequenos, e na dissolução dos estados árabes existentes”.

Aqui, Shahak chama a atenção para dois pontos:


(1) A ideia de que todos os estados árabes devam ser quebrados, por Israel, em unidades menores, ocorre seguidas vezes no pensamento estratégico dos israelenses. E
(2) A forte conexão com o pensamento dos neoconservadores nos EUA, que inclui a ideia da “defesa do ocidente”, é muito proeminente, mas é puramente retórica, porque o real objetivo do autor do trabalho é construir um império israelense e convertê-lo em potência mundial (“Em outras palavras”, Shahak comenta, “o objetivo de Sharon é enganar os norte-americanos, depois de ter enganado todos os demais”).

O principal ponto do qual Oded Yinin parte é que o mundo está nos estágios iniciais de uma nova época histórica, cuja essência estaria na “visão racionalista, humanista, como pedra basilar sobre a qual se apoiam a vida e as realizações da civilização ocidental desde a Renascença”.

A seguir, Yinon oferece as ideias do “Clube de Roma” sobre a limitação dos recursos do planeta, insuficientes para atender as necessidades econômicas e demográficas da humanidade.

Num mundo no qual há 4 bilhões de seres humanos e recursos econômicos e de energia que não crescem proporcionalmente para atender à demanda da humanidade, não é realista esperar atender todas as demandas da Sociedade Ocidental, i.e. o desejo e a aspiração ao consumo ilimitado. A visão segundo a qual a ética não tem papel determinante na direção que o Homem tome, e que só suas necessidades materiais contam – essa visão está se tornando dominante hoje, quando vemos um mundo do qual quase todos os valores estão desaparecendo. Estamos perdendo a capacidade para avaliar as coisas mais simples, especialmente no que tenha a ver com a simples questão de o que é o Bem e o que é o Mal.

O mundo caminha para uma guerra global por recursos, e isso diz respeito, em primeiro lugar, ao Golfo Pérsico. Avaliando a situação do mundo árabe-muçulmano em relação a isso, o “Plano Yinon” anota:

No longo prazo, esse mundo não conseguirá existir dentro de seu atual quadro nas áreas em torno de nós [de Israel], sem passar por genuínas mudanças revolucionárias. O Mundo Árabe Muçulmano está construído como temporário castelo de cartas erguido por estrangeiros (França e Grã-Bretanha nos séculos 19-20), sem que os planos e desejos dos habitantes tenham sido levados em consideração. Foi arbitrariamente dividido em 19 estados, todos feitos de diferentes combinações de minorias e grupos étnicos que são hostis uns aos outros, de tal modo que cada estado árabe muçulmano hoje enfrenta a destruição étnica e social de dentro para fora, e em alguns já há guerra civil (...).



Mundo Árabe Muçulmano (legendado)


Depois de pintar um quadro misto do mundo muçulmano árabe e não árabe, Yinon conclui:

Esse quadro de minoria nacional étnica que se estende do Marrocos à Índia e da Somália à Turquia aponta para a ausência de estabilidade e uma rápida degeneração em toda a região. Se se soma a esse quadro o quadro econômico, vê-se que toda a região está construída como um castelo de cartas, incapaz de sobreviver aos seus graves problemas.

Nesse ponto, Yinon chega a listar as novas “oportunidades para transformar a situação” que Israel deve aproveitar na década seguinte.

Quanto à Península do Sinai, implica estabelecer controle sobre o Sinai como reserva estratégica, econômica e de energia para o longo prazo. Diz Yinon:

O Egito, no atual quadro político doméstico, já é um cadáver, ainda mais se se considera a crescente divisão entre muçulmanos e cristãos. Assim sendo, o objetivo de Israel nos anos 1980s, no seu front ocidental, é dividir territorialmente o Egito em distintas regiões geográficas [negritos da autora].

Sobre o front oriental de Israel, mais complicado que o front ocidental, Yinon escreve:

A total dissolução do Líbano em cinco províncias serve como precedente para todo o mundo árabe incluindo Egito, Síria, Iraque e a Península Arábica e já está seguindo aquela trilha. A dissolução da Síria e do Iraque depois, em áreas etnicamente ou religiosamente uniformes, como no Líbano, é o primeiro objetivo de Israel no front oriental para o longo prazo, enquanto a dissolução do poder militar desses estados fica como objetivo primário no curto prazo [negritos da autora]. A Síria cairá em partes, segundo sua estrutura étnica e religiosa, dividida em vários estados, como o Líbano de hoje, de modo que haverá um estado xiita alawita no litoral; um estado sunita na área de Aleppo; outro estado sunita em Damasco, hostil ao vizinho do norte; e os drusos criarão seu estado, talvez até em nosso Golan, e com certeza no Hauran e no norte da Jordânia.

A "balcanização" da Síria pensada por Israel (Plano Yinon)



O Iraque, rico em petróleo, por um lado, e internamente fracionado, por outro, é candidato garantido a alvo de Israel. A dissolução do Iraque é até mais importante para nós que a da Síria (...) Todos os tipos de confrontação inter-árabes nos ajudará [ajudará Israel] no curto prazo e encurtará o caminho até o objetivo mais importante de quebrar o Iraque em áreas por religião, como na Síria e no Líbano. No Iraque, é possível uma divisão em províncias por linhas étnicas/religiosas, como a Síria durante os otomanos. Assim, haverá três (ou mais) estados em torno das três maiores cidades: Basra, Bagdá e Mosul; e áreas xiitas no sul separadas do norte sunita e curdo.

Toda a Península Arábica é candidata natural à dissolução, dadas as pressões internas e externas, e é inevitável [negritos da autora], especialmente na Arábia Saudita, independente de que sua economia baseada no petróleo permaneça intacta ou enfraqueça no longo prazo. As rixas e fraturas internas são desenvolvimento claro e natural, à vista da atual estrutura política.

A Jordânia é alvo estratégico imediato no curto prazo, mas não no longo prazo, porque não é real ameaça no longo prazo depois da dissolução, do fim do longo reinado do rei Hussein e da transferência de poder para os palestinos no curto prazo. Não há possibilidade alguma de que a Jordânia continue a existir com a estrutura atual, por longo tempo [negritos da autora], e a política de Israel, seja na paz, seja na guerra, tem de ser dirigida à liquidação da Jordânia do atual regime e à transferência daquele território para a maioria palestina. Mudar o regime a leste do rio também porá fim ao problema dos territórios densamente povoados de árabes a oeste do rio Jordão. (...) Só reinarão coexistência genuína e paz sobre a terra, quando os árabes entenderem que sem governo judeu entre o Jordão e o mar eles jamais terão nem segurança nem existência [negritos da autora]. Só terão nação deles e segurança, na Jordânia.

Na sequência, Yinon lista os objetivos internos estratégicos de Israel e os modos de alcançá-los, enfatizando a necessidade de sérias mudanças no mundo [negritos da autora].

Dispersar a população é assim objetivo doméstico estratégico da mais alta ordem; sem isso, deixaremos de existir em quaisquer fronteiras. Judea, Samaria e a Galileia são nossa única garantia para a existência nacional (...) Alcançar nossos objetivos no front oriental depende, antes, de realizarmos esse objetivo estratégico interno. A transformação da estrutura política e econômica, para permitir que se alcancem esses objetivos estratégicos, é a chave para obter toda a mudança [negritos da autora]. Temos de mudar, de uma economia centralizada na qual o governo está extensamente envolvido, para um mercado aberto e livre e temos de mudar, da dependência atual em que dependemos dos contribuintes norte-americanos para nosso desenvolvimento, para uma infraestrutura econômica genuinamente produtiva. Se não conseguirmos fazer livre e voluntariamente essa mudança, seremos forçados a ela pelos desenvolvimentos mundiais, especialmente nas áreas das finanças, energia e política, e pelo nosso crescente isolamento.

Rápidas mudanças no mundo também trarão mudanças na condição dos judeus em todo o mundo, para os quais Israel se converterá não só no último recurso, mas na única opção existencial.

Avaliando esse plano, podem-se extrair as seguintes conclusões.

Em primeiro lugar, dado que traça objetivos estratégicos de Israel, é plano de longo prazo, particularmente importante hoje. Em segundo lugar, a possibilidade de realizar a estratégia externa aí exposta envolve sérias mudanças, na posição da própria Israel e em escala mundial. E isso é, exatamente, o que começou a acontecer em meados dos anos 1980s.

Com a classe governante global em transição para uma estratégia neoliberal, Israel experimentou mudanças profundas, que resultaram em o país acabar controlado por 18 das famílias mais ricas. O capital israelense foi ativamente investido fora de Israel, e o mercado israelense, por sua vez, revelou-se amplamente aberto ao capital estrangeiro. Resultado dessa ativa “integração” no sistema econômico global, o capital israelense misturou-se de tal modo ao capital transnacional, que a noção de uma “economia nacional de Israel” perdeu completamente qualquer significado. Nessas condições, a transição de Israel para um expansionismo ativo até se tornou possível, embora se tenha manifestado pela infiltração intelectual e econômica, não pelo controle militar ou pela presença de forças. O mais importante é o envolvimento do território em geral, no centro do qual está Israel.

Shmulevich também se referiu a isso, ao apontar que um dos conceitos fundamentais do judaísmo é “ser a força que guia a civilização humana e demarca os padrões para a civilização humana”.

Exemplo dessa união árabe-israelense é a criação do fundo de investimentos Markets Credit Opportunity (EMCO) com 1 bilhão de dólares do grupo bancário suíço Credit Suisse AG e o envolvimento de três dos maiores acionistas do banco – o IDB Group de Israel; o fundo estatal de investimentos do Qatar, Qatar Investment Authority; e a empresa privada saudita de investimentos, Olayan Group.

Ainda mais revelador, é o fato de que a Arábia Saudita entregou à empresa G4S, a mais antiga empresa de segurança de Israel, o trabalho de prover a segurança dos peregrinos que visitam Mecca (o perímetro considerado vai do aeroporto de Dubai aos Emirados e à área de Jeddah). Um braço saudita da companhia já está em operação desde 2010, com meios para recolher informação pessoal não só dos peregrinos, mas também de todos os passageiros que voem por Dubai.

G4S empresa de Israel é responsável pela segurança dos peregrinos em Meca

No que tenha a ver com o planejado “caos no mundo muçulmano”, Israel está operando por procuração, exclusivamente mediante agências de inteligência, enquanto vai preservando o mito de que seria “uma vítima do islamismo”. Quanto a isso, as explicações de Israel Shahak, sobre por que a publicação do plano estratégico de Israel não implica qualquer risco particular para Israel, ainda são relevantes e pertinentes.

Chamando atenção para o fato de que, se houvesse esse risco, só poderia vir do mundo árabe e dos EUA, Shahak lembrou:

O mundo árabe até agora se mostrou incapaz de fazer análise racional detalhada da sociedade israelense-judaica (...) Nessa situação, mesmo os que gritam contra os perigos do expansionismo israelense (que são perigos muito reais) fazem-no não por conhecimento factual e detalhado, mas porque acreditam em mitos (...) Os especialistas israelenses assumem que, no geral, os árabes não darão atenção às discussões israelenses sobre o futuro.

A situação é semelhante nos EUA, onde toda a informação sobre Israel é distribuída pela imprensa-empresa de direita pró-Israel. Isso tudo considerado, Shahak chega à seguinte conclusão:

Por hora, portanto, dada a situação real de que Israel é efetivamente uma sociedade fechada para o resto do mundo, porque o mundo deseja permanecer de olhos fechados, a publicação não terá consequências; e os movimentos iniciais de tal plano já em execução continuam viáveis.





Notas dos tradutores:
[1] Israel Shahak (1933-2001) tornou-se conhecido como crítico das ideias de políticos israelenses sobre não judeus. Foi professor de Química Orgânica na Universidade Hebraica de Jerusalém, presidente da Liga Israelense pelos Direitos Humanos e Direitos Civis e publicou inúmeros estudos, entre os quais The Non-Jew in the Jewish State [Não judeus no estado judeu], Israel’s Global Role: Weapons for Repression [O papel global de Israel: armas para repressão] e Jewish History, Jewish Religion: The Weight of Three Thousand Years [História dos judeus, religião dos judeus: o peso de 3 mil anos].
[2] É o que escreve Livia Rokach, em seu livro Israel’s Sacred Terrorism [O terrorismo sagrado de Israel] (1980), publicado pela mesma Associação. O livro baseia-se nas memórias de Moshe Sharett, o primeiro ministro de Negócios Estrangeiros de Israel e ex-primeiro-ministro; expõe o plano sionista com vistas à Líbia e o processo de seu desenvolvimento em meados dos anos 1950s. A primeira massiva invasão da Líbia, em 1978, contribuiu para o desenvolvimento desse plano até os menores detalhes; e a invasão de junho de 1982 visou a implementar parte do plano, pelo qual a Síria e a Jordânia teriam de ser divididas.




[*] Olga Chetverikova, Strategic Culture
In the Shadow of American Geopolitics, or Once Again on Greater Israel (I)
In the Shadow of American Geopolitics, or Once Again on Greater Israel (II)

Fonte:redecastorphoto
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A Juventude é revolução!







 Lealdade de um Guerreiro - DNA Rapper



Musica: Lealdade de um Guerreiro
Artista: DNA Rapper
Produçao: Jeff Beats
Filmagem: Daniel Castro, Pedro Perestrello, Anselmo Venansi( Aéreas)
Edição: Pedro Perestrello
Direção: Pedro Perestrello
Realizaçao: Fortuna Films Production






“O ataque de Obama contra a Síria só visa, mesmo, o palácio presidencial em Damasco”

Coalizão anti−ISIS/ISIL é o Plano B dos EUA para voltar ao Oriente Médio “por outra porta”

26/9/2014, Marwa Haidar entrevista o Dr. Mohammad Sadeq al-HusseiniAl-Manar, Beirute
Resumo da entrevista traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Dr. Mohammad Sadeq al-Husseini
O Dr. Mohammad Sadeq al-Husseini, cientista-político e estrategista iraniano, alertou contra a coalizão que os EUA estão organizando contra o ISIS/ISIL, classificando-a como “um plano B dos EUA, para voltar ao Oriente Médio por outra porta”.
Em visita à redação do al-Manar Website na 4ª-feira (24/9/2014), o analista e escritor iraniano lembrou que Washington passou por vários revezes na região.
Observou que os EUA só fazem cerebrar planos e mais planos para esconder as perdas que vêm sofrendo. A última manobra norte-americana nesse contexto é a tal “coalizão” internacional contra o ISIS?ISIL.
“O presidente Barack Obama sofreu três revezes”, disse al-Husseini.
“O primeiro foi quando não conseguir atacar a Síria em setembro do ano passado” (depois de noticiário falso de que armas químicas estariam sendo usadas em Damasco, em agosto de 2013).
“O segundo revés foi o ataque israelense contra Gaza. Ali, o Eixo da Resistência colheu mais um triunfo nessa guerra”.
Para al-Husseini, o terceiro revés que os EUA sofreram bem recentemente aconteceu perto de Bagdá, quando militantes do ISIS/ISIL não conseguiram entrar na capital do Iraque.
Al-Husseini disse que a “coalizão” internacional é ameaça contra o Eixo da Resistência, que absolutamente não serve aos interesses da “coalizão”. “A coalizão só quer fazer a manicure nas unhas desse monstro, o ISIS/ISIL, para logo substituí-lo por outro”.
Abu Bakr al-Baghdadi, O Califa
Al-Husseini insistiu que o ISIS/ISIL é terrorismo “produzido nos EUA”. Agora, Washington quer “controlar” o grupo. Nesse contexto, disse o especialista, não se descarta a ideia de que o alvo dos ataques dos EUA seja o Califa do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi, “exatamente como, no Iraque, o alvo eleito dos ataques aéreos foi o ex-Emir da al-Qaeda no Iraque, Abu Mossab az-Zarqawi”.
“Essa coalizão internacional anti-ISIS/ISIL que se vê hoje é o plano B dos EUA para retornar ao Oriente Médio, por outra porta” – disse o professor Al-Husseini. Para ele, os EUA tentam apresentar-se como alguma espécie de herói, que luta para salvar os civis, do terrorismo.
Ao mesmo tempo, o especialista iraniano alerta contra os ataques contra o ISIS/ISIL na Síria. Para ele, os EUA estão usando esse movimento exclusivamente para tentar obter o que a oposição armada por estados estrangeiros dentro da Síria não conseguiu.
“O ataque de Obama contra a Síria só visa, mesmo, o palácio presidencial em Damasco”.

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Escondido por trás dos ataques aéreos dos EUA Israel abre caminho para a Frente al-Nusra, contra o Líbano



Entreouvido na Tenda da Sencarça na Vila Vudu: 

O Estadão (que é o PIOR JORNAL DO MUNDO!) “noticia” que o Pentágono destruiu 12 refinarias “do Estado Islâmico”.
Além de ser o pior jornal do mundo, fascista-fascistizante, o Estadão já tá ficando é BURRO (jornal que os deuses querem falido, os deuses primeiro emburrecem. É nóiz!).
Pra começar, as tais refinarias, em território sírio, são refinarias SÍRIAS; segundo, ninguém precisa destruir refinarias, se quisesse acabar só com o Estado Islâmico. 

Petróleo tem alma e tem história, mas não tem perna: petróleo não caminha. Para paralisar o Estado Islâmico é preciso BLOQUEAR O FLUXO do contrabando do petróleo nos TERMINAIS ou nos OLEODUTOS.
O ISIS-ISIL-Estado Islâmico (criação dos EUA-Israel-União Européia) está se mostrando excelente ALIADO no serviço de MUDANÇA DE REGIME na Síria. Te cuida Bashar, a Síria não tem amigos no “Ocidente”.
“Destruir refinaria” é coisa muuuuuuuito duvidosa, se a meta é combater o Estado Islâmico: destrói lá um canto de qualquer merda, faz a foto do avião ou da ruína, manda prô “jornalismo indispensável” [só rindo] do New York Times e do Jornal Nacional da Globo e do Estadão, mas o contrabando de PETRÓLEO BRUTO continua, inabalado. 

“Destruir refinaria” só interessa, mesmo, como alvo, se a meta é destruir A INFRAESTRUTURA DA SÍRIA. Isso, precisamente, é o que a falsa “notícia” BURRA, do Estadão, esconde dos otários que  PAGAM pra ler aquele lixo.
23/9/2014, [*] Moon of Alabama
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Print-screen da homepage do NYT(23/9/2014 – 8:43 AM-NY)
O primeiro artigo tem a ver com os ataques dos EUA, noite passada, contra vários alvos no leste da Síria. O segundo, na sequência, explica que aqueles ataques pouco efeito tiveram no Iraque. A justaposição demonstra a futilidade da campanha de bombardeio de Obama, parte das guerras por procuração já em curso contra a Síria. Resultado disso tudo, o Estado Islâmico resultará cada vez mais legitimado.
Os EUA e alguma espécie de “coalizão” de ditaduras árabes bombardearam vários alvos relacionados ao Estado Islâmico no leste da Síria. O governo sírio foi informado sobre o ataque e não protestou abertamente contra ele.
Os EUA não atacaram posições do Estado Islâmico em torno da cidade de Kobane, no norte da Síria, onde o Estado Islâmico combate contra milícias curdas numa tentativa para abrir novo caminho logístico para o Estado Islâmico até a Turquia. Aceitar esse novo caminho logístico foi, provavelmente, parte do preço que a Turquia teve de pagar recentemente para libertar seus diplomatas capturados pelo Estado Islâmico.
Os EUA, só eles, bombardearam um alvo relacionado a uma específica parte da Frente al-Nusra no noroeste da Síria. Os EUA dizem que acertaram o “grupo Corassão”. Mas esse grupo não passa de mais uma invenção do Pentágono, em sua nova campanha MID (“Medo, Incerteza e Dúvidas” [orig. ing., “Fear, Uncertainty & Doubt” (FUD)]). O tal grupo “Corassão” não passa de segmento da já conhecida e antiga Frente al-Nusra.

ISIS/ISILpreparou-se para os anunciados ataques aéreos dos EUA e espalhou seus militantes e materiais, mas a (Frente) Jabhat al-Nusra não se preparou e perdeu cerca de 50 combatentes. Um dos líderes da al-Nusra, Mohsen al-Fadli al-Kuwaiti, foi morto nesse ataque.
Hoje também a força aérea síria trabalhava para bombardear posições da Frente al-Nusranas colinas do Golan, onde está a al-Nusra, como eu já noticiara, [1] abrindo um corredor da Jordânia até o Líbano e para ataques contra Damasco ao longo da linha de demarcação que separa Israel e Síria.
Mas Israel, em apoio perfeitamente visível e claro à Frente al-Nusra, derrubou o SU-24 sírio usando mísseis Patriot fornecidos pelos EUA. Embora Israel diga que a fronteira teria sido violada, o avião caiu em local muito distante da fronteira, perto de Kanaker, Síria, já a meio caminho entre a linha de demarcação e Damasco.
Escondida por trás dos ataques dos EUA ao Estado Islâmico e a outros alvos, Israel já praticamente implantou uma zona aérea de exclusão próxima ao Golan, que permitirá que a Frente al-Nusra sirva-se em segurança daquele corredor para atacar o Hezbollah em Qalamoun e no sul do Líbano. E também abre espaço para novos ataques a Damasco.
Os ataques dos EUA ao Estado Islâmico na Síria terão – como as manchetes do NYT não escondem – tão pouco efeito quanto têm no Iraque. Sem coordenar os ataques aéreos com força capaz disponível em solo, como o exército sírio, aqueles ataques dos EUA ao Estado Islâmico não farão qualquer diferença significativa.
Ainda não vi qualquer notícia de que os aviões dos EUA tivessem acertado algum dos grandes depósitos de armas ou munições onde estão os materiais que o Estado Islâmico capturou do exército iraquiano. Há cerca de 50 grandes tanques de combate e enorme quantidade de peças de artilharia pesada, em mãos do Estado Islâmico. O que está sendo feito para neutralizar essas armas?
Nota dos tradutores
[1] “As forças antigoverno que cooperam nessa operação são a Frente Síria Revolucionária [orig. Syrian Revolutionaries Front (SRF), apoiada pelos EUA e assistida pela Frente Islâmica, apoiada pela Arábia Saudita; e a Frente al-Nusra, da al-Qaeda, que acaba de receber 20 milhões do Qatar. Essas forças infiltraram-se a partir da Jordânia, através de Daara e dali para o norte e noroeste ao longo da fronteira com Israel. Esse movimento, durante o qual alguns observadores da ONU foram sequestrados por aquelas forças, foi apoiado por ataques da artilharia israelense contra unidades sírias que tentavam impedir o ataque”. (15/9/2014, The New "Regime Change" Plan - Attack Damascus From The South,Moon of Alabama, aqui traduzido).
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Leila Khaled: Não vamos liberar a Palestina com rosas na mão!



"Não estou de acordo com a política de dois Estados. Por que construir dois? Onde. Na lua? A maior parte das terras já foram confiscadas e agora há 600.000 colonos judeus na Cisjordânia e agora ,mesmo estão nos assassinando em Gaza. Eles não vão permitir. Quando  foi solicitado a abertura de um corredor humanitário no Cairo para evacuar os feridos, eles, os sionistas não lho permitiu. Onde iríamos  construir este estado ? Queremos um Estado democrático na Palestina, onde todos sejam iguais em direitos e deveres. Esta é a nossa terra, na Palestina histórica, um estado multicultural como existe em muitos países."

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Texto y fotografía: Yasna Mussa.
Su imagen se difundió en todo el mundo luego de convertirse en la primera mujer en secuestrar un avión en 1969. Con más de 50 años de vida política activa, esta palestina sigue creyendo en la revolución y luchando por volver a su hogar en Haifa.
El pasado 26 de agosto Israel detuvo los bombardeos contra la franja de Gaza. Luego de 51 días de masacre, el gobierno de Netanyahu pactó con la resistencia palestina una tregua temporal patrocinada por Egipto. Los casi dos meses de ataques indiscriminados contra los palestinos apagaron 2.160 vidas, destruyeron miles de hogares, dejaron a más de 11 mil personas heridas y acabaron con la poca infraestructura que quedaba en un pequeño territorio sometido a bloqueo por más de 7 años.
Al otro lado de la frontera, en Amán, capital de Jordania, está Leila Khaled. La mujer de 70 años observa, escribe, lee y trabaja sin parar. Su vitalidad desafía los prejuicios sobre la edad y confirma el carácter que posee una exguerrillera, más allá del mito.
Esta mujer —la sexta de 12 hermanos, de padres libaneses, nacida en Haifa, militante del Frente para la Liberación de Palestina (FPLP)— fue la encargada de secuestrar un avión en 1969. La operación política buscaba llamar la atención mundial, recordarles que había un pueblo que vivía bajo ocupación o repartido en distintas latitudes siendo parte de una diáspora que atesoraba las llaves de sus casas esperando volver.
En 1970 la operación se repitió, pero esta vez Leila Khaled y su compañero de misión, el nicaragüense Patrick Argüello, no lograron su objetivo. En el avión se encontraban 4 agentes secretos israelíes, quienes frustraron el secuestro, asesinaron a Argüello y detuvieron a Leila Khaled, a quien entregaron a las autoridades inglesas.
Es la misma Leila Khaled que aparece en fotos, póster y esténciles ataviada con un hatta palestino y cargando un rifle AK 47, quien me recibe en las oficinas de la Organización para la Liberación de Palestina (OLP) en Amán, Jordania. La misma que se sometió a 6 cirugías plásticas de nariz y mentón, para cambiar su apariencia y pasar desapercibida, luego de que esa imagen se convirtiera en ícono, llenara portadas y apareciera en noticieros que se repetían la misma pregunta: ¿Quién es la misteriosa mujer palestina que secuestró un avión?
44 años después, intentamos responder la misma pregunta.
Usted es una víctima directa de la Nakba. Tuvo que dejar su hogar en 1948, apenas se creó el Estado de Israel. ¿Cómo fue esa infancia en Palestina y luego en el Líbano, donde tuvo que refugiarse?
Primero que todo, debo aclarar que mi familia es libanesa. Mis padres se instalaron en Palestina por el trabajo de mi papá y tanto yo, como todos mis hermanos, nacimos ahí. Cuando fue la Nakba (catástrofe) en 1948, fuimos con mi madre al Líbano. Para nosotros era lo más normal visitar el Líbano, porque cada año íbamos a visitar a la familia. Sin embargo, ese año fue distinto. Era la primera vez que íbamos en abril y no en verano, como acostumbrábamos.
Éramos 8 hermanos en ese entonces y yo era la número 6. Mi hermano mayor estudiaba en el Líbano, pero todos los otros estábamos en Haifa cuando sucedió la masacre de Deir Yassin, el mismo día de mi cumpleaños, el 9 de abril). El horror que causó en todos los palestinos, hizo que mi madre tomara la decisión de partir, mientras que mi padre se quedó luchando por Palestina.
Mi madre tenía miedo, como todas las madres. En el camino a Tyr (en el sur del Líbano) y vimos a la gente caminando. Mi madre iba llorando. El chofer le dijo que parara de llorar, porque los niños lloraban también pero todo el tiempo mi madre estuvo llorando.
Cuando nosotros crecimos le preguntamos sobre este incidente y ella dijo: nosotros somos privilegiados porque vinimos en auto cuando el resto de la gente iba caminando con todos sus hijos y las pocas cosas que pudieron sacar.
Recuerdo un hecho en especial que me marcó: Cuando estábamos en la casa de mi tío, vimos que los árboles que la rodeaban estaban llenos de naranjas. Entonces nosotros, como hacen los niños, fuimos y tomamos algunas. Mi madre estaba muy molesta. Ella nos dijo “esto no es de ustedes. No tienen derecho a sacarlas. Las suyas están en Palestina” —cuenta Khaled con la mirada perdida en sus recuerdos—. Esa fue la primera lección que recibimos y que nos dijo que debíamos volver a Palestina. Desde el primer minuto, supimos que eso no era nuestro, así que desde ese momento odié las naranjas.
Aunque teníamos dónde vivir, íbamos a la escuelas que la UNRWA había instalado para los refugiados. Mi niñez fue como la todo palestino refugiado, en la que la primera escuela fue en una gran carpa abierta, donde habían 10 clases. Y en invierno era realmente duro.. Recuerdo que nunca tuve un uniforme o ropa nueva. Siempre eran cosas usadas que la UNRWA nos entregaba. Tampoco celebramos un cumpleaños o el Eid (celebración musulmana). Mi madre siempre dijo que lo haríamos cuando volviéramos a Palestina, entonces yo crecí esperando volver. Todo el tiempo yo sentí que nada era nuestro. Que nuestras cosas, lo que amábamos, estaba en Palestinas así que teníamos que hacer algo.
Aunque ahora usted vive en Jordania, viaja regularmente a Líbano ¿Cómo observa la situación actual de los refugiados palestinos allí?
La situación en los campos de refugiados sigue igual de precaria que en esa época. Los palestinos necesitan un permiso especial para trabajar y los libaneses no se los otorgan. Hay cerca de 70 profesiones que están prohibidas y que no pueden ser utilizadas. Médicos, profesiones, ingenieros, periodistas y otros oficios, sólo pueden trabajar en la UNRWA y en los campos de refugiados, que son como ghettos. A veces la UNRWA no tiene plazas de trabajo o las que hay no corresponden a las demandas de los palestinos.
Al mismo tiempo, muchos de estos campos fueron destruidos totalmente. Ellos intentaron destruir Sabra y Shatila en 1982, pero no pudieron, la gente no los dejó. Los palestinos no tienen derecho de construir una casa o una habitación en los campos de refugiados. El año 2007 destruyeron completamente el campo Nahr el bared y la gente tuvo que huir para comenzar todo de nuevo, sin nada.
Después de 1982, la misión principal de los palestinos en el Líbano ha sido conquistar sus derechos civiles y sociales, que se ven privados. Cuando logren esto podrán participar en la lucha por el derecho al retorno. Este derecho no es sólo un concepto, sino también una cultura.
Considerando el contexto social y cultural del Mundo Árabe ¿cómo fue para usted, como mujer, involucrarse en política en los años 60s?
Para mi fue natural. Mi familia es una familia política. Mi hermano mayor estudiaba en la Universidad Americana de Beirut y entró a participar en el Movimiento Nacional que integraban George Habash y Wadi Haddad, entre otros. Una de las misiones de este movimiento fue organizar a las familias. Así que él influenció a mis hermanas mayores y ellas a mí.
En nuestra escuela, todos los profesores eran palestinos, refugiados como nosotros, así que muchos de ellos entraron en el Movimiento Nacional y algunos de ellos a otros partidos. Este movimiento llamaba a la liberación de Palestina y estaba por el derecho al retorno. La primera vez que quise entrar, no me lo permitieron porque sólo tenía 14 años.
La gente imagina que acá la mujer no tiene participación, pero es ignorar la realidad y la historia palestina. Desde siempre la mujer ha participado masivamente en los partidos políticos y en la resistencia. Somos un pueblo sumamente político y la mujer palestina es protagonista en distintos frentes. Yo decidí participar en un campo de entrenamiento y en operaciones políticas, y mis compañeros siempre me respetaron y respaldaron.
Resistir para existir
Usted participó y respalda hasta hoy la lucha armada ¿cuál es la diferencia entre resistencia y terrorismo?
Lo que hace Israel es terrorismo. En esta invasión, Israel se mostró como el Estado fascista y de apartheid que es. Por esta razón nosotros comenzamos nuestras acciones de secuestros, porque nosotros no éramos tratados como seres humanos con derechos. Es por eso que tuvimos que llamar la atención del mundo, porque ellos no reconocían nuestros derechos a tener ropa, a tener una casa, a poder vivir en nuestra patria y sustituyeron esto por el derecho de Israel a existir, a estar allí. Esto es injusto y lo tenemos que cambiar.
Israel ha exigido que se negocie. Hemos aceptado y la OLP ha negociado durante 20 años y qué ha pasado después de eso. Durante 21 años de negociaciones han aumentado los asentamientos, con más colonos y los colonos son en sí otro ejército; demuelen las casas, construyen un muro de apartheid, han metido en prisión a miles de activistas a quienes tratan como criminales. Israel ha violado todo tipo de leyes y se considera así mismo dentro del derecho internacional. Hasta ahora, Israel no ha sido condenado por todos sus crímenes, ahora es tiempo de que pague, así que no podemos permitir que siga avanzando en nuestra patria, tenemos que pelear.
No vamos a liberar Palestina con rosas o con negociaciones. Esto es un asunto político, no sólo humano. Si Naciones Unidas me hace elegir entre comida o volver a mi casa, yo prefiero volver a mi casa. Yo no quiero estar en un campamento de refugiados todo el tiempo, que de seguro será destruido también por Israel o por sus colaboradores. No es suficiente que la comunidad internacional llore después que Israel comete sus crímenes. El mundo debe prevenir esos crímenes, sin embargo, ellos solo reconstruyen después que Israel destruye.
Lo que hacemos nosotros es resistencia, para defendernos del ocupante. Y la resistencia está respaldada por la ley internacional: gente bajo ocupación o represión tiene el derecho a resistir, por todos los medios, incluyendo la lucha armada. Así que nosotros estamos luchando de manera legal. No es mi problema si alguien de Polonia vive en mi casa. Se tiene que ir de mi casa y si se quiere quedar, está bien, pero primero, nosotros tenemos que volver. Y una vez que resolvamos este problema de los refugiados podemos vivir todos en un Estado democrático donde la gente tenga sus derechos garantizados. Es nuestro derecho y no vamos a renunciar.
Si hay gente que viene de distintos lados y quiere quedarse ahí, no hay problema. Nosotros le ofreceremos soluciones humanas.
Entonces ¿Cuál es el rol activo y concreto que debe tener la comunidad internacional?
Necesitamos que las personas de cada país presionen a sus Estados para poder aislar a Israel.
Cuando la revolución comenzó, en mi partido decidimos cuál sería nuestro objetivo: Liberar nuestro país e implementar el derecho al retorno. Darle a los refugiados el derecho de volver a sus hogares, a su país, y esto está garantizado por el derecho internacional. Israel es aceptado en las Naciones Unidas con la condición de permitirles a los palestinos volver, pero hasta ahora nosotros somos refugiados. Y esta es la resolución 194. Nosotros ahora estamos preguntando : por qué las Naciones Unidas y la comunidad internacional no implementen sus resoluciones. Por qué no.
Y la resistencia está respaldada por la ley internacional: gente bajo ocupación o represión tiene el derecho a resistir, por todos los medios, incluyendo la lucha armada. Así que nosotros estamos luchando de manera legal. Así que no es mi problema si alguien de Polonia vive en mi casa. Se tiene que ir de mi casa y si se quiere quedar, está bien, pero primero, nosotros tenemos que volver. Y una vez que resolvamos este problema de los refugiados podemos vivir todos en un estado democrático donde la gente tenga sus derechos garantizados. Es nuestro derecho. Si hay gente que viene de distintos lados y quiere quedarse ahí, no hay problema. Nosotros le ofreceremos soluciones humanas. No como la solución de Israel: un genocidio contra nosotros. La comunidad internacional apoyó el boicot contra el Apartheid en Sudáfrica. Ahora es tiempo de que la comunidad internacional repita la experiencia para aislar a este estado de apartheid que se llama Israel.
Eso significa que aunque usted respalda la resistencia armada ¿También respalda otras formas de lucha como la campaña de Boicot, Sanciones y Desinversión (BDS, en sus siglas en inglés), que se define como una iniciativa no violenta de la sociedad civil?
Claro, apoyo esa campaña como también apoyo la campaña para que se liberen los prisioneros palestinos, incluyendo los diputados y los ministros. Creo que debemos usar tantos medios de resistencia como podamos: El político, el diplomático, el no violento. Durante más de 10 años los palestinos se manifiestan cada viernes en Bil’in, o cada semana en Nabi Saleh , en contra de la colonización, del muro, de la anexión de tierras y de las napas de agua. Todas estas manifestaciones son no violentas, pero Israel siempre responde con violencia, utilizando gases lacrimógenos, bombas, munición real.Poreso creo que todos los medios de resistencia son necesario.
Pero no hay que confundir. No podemos creer que sólo lo conseguiremos por medio de la resistencia no-violenta . Estamos frente a un Estado de apartheid, que además cuenta con el apoyo de Estados Unidos, y en general, de todo Occidente. Hasta que no logremos equilibrar las fuerzas, no podemos pensar solo en ir a una mesa de negociaciones.
Menos aún cuando vemos cómo Ban Ki Moon se da la mano con Netanyahu, pregunta por el soldado israelí que está desaparecido, pero no pregunta por todos los niños palestinos que han sido asesinados. Las Naciones Unidas están controladas por Estados Unidos.
Por otro lado, el Consejo de Seguridad no dice nada por Gaza, pero sí critican el avión derribado por las milicias en Ucrania. El Consejo de Seguridad no respalda a las víctimas, sólo se preocupa de condenar a Rusia, pero no condena a Israel por derrumbar casas con niños en el interior, destruyéndolas sobre sus cabezas.
Las negociaciones patrocinadas por Estados Unidos promueven la creación de dos (2) Estados. ¿Qué opina de esta solución considerando su histórica defensa al derecho al retorno?
No estoy de acuerdo con dos (2) Estados. Por qué. Por qué construir dos. Dónde. ¿En la luna? La mayoría de la tierra fue confiscada y ahora hay 600 mil colonos en Cisjordania y ahora mismo nos están asesinando en Gaza. Ellos no lo permitirán. Incluso cuando se solicitó un corredor humanitario en El Cairo para evacuar a los heridos ellos no lo permitieron. Dónde construiríamos este Estado. Nosotros queremos un Estado democrático en Palestina, donde seamos iguales, en deberes y derechos. Esta es nuestra tierra, en la Palestina histórica, un Estado multicultural como existe en muchos países del mundo.
La comunidad internacional parece sorprendida y espantada ante esta nueva masacre que Israel denominó “Operación Margen Protector”. Sin embargo, los palestinos saben que estas masacres se repiten cada cierto tiempo, convirtiéndose en una limpieza étnica ¿Qué le parece que esta nueva masacre ocurra justo después del acuerdo de unidad entre las fracciones palestinas?
No me parece una coincidencia. Israel quería elecciones y no le gustó el resultado de esas elecciones y boicoteó la voluntad del pueblo palestino que fue elegir a Hamas. Ahora todas las facciones palestinas, no sólo Hamas y Al Fatah, sino también la Jehad, el FPLP, el FDLP, etc, hemos creado un comité bajo el paraguas de la OLP para poder dialogar y tener elecciones del Consejo Nacional Palestino para Gaza y Cisjordania. Esa es la unidad que buscamos, una unidad inclusiva donde estén representados todos los palestinos, pero Israel no lo quiere permitir y utilizará cualquier excusa para atacar.
La solidaridad de los pueblos
Leila Khaled siente un profundo lazo con América Latina. Para ella, se trata de un continente hermano con el que siente más cercanía y solidaridad que con muchos países árabes. En tiempos de la guerrilla latinoamerica, en que los pueblos de Nicaragua, Cuba, Chile y Argentina, entre otros, luchaban contra dictaduras locales o intervenciones extranjeras. Leila Khaled conoció a muchos de estos militantes e incluso combatió con ellos, como fue el caso de Patrick Argüello, su compañero en el secuestro frustrado del vuelo 219 de Ámsterdam a Nueva York.
En esa ocasión, portaba un pasaporte hondureño falso con una identidad ajena. María Luna fue el nombre que utilizó y que hoy recuerda con picardía: -Me gustaba el nombre, pero no hablaba nada de español. Sólo sabía decir “Sí, señor”. No sabía nada de español y todavía no sé nada de español.- comenta con gracia, mientras bebe sorbos de café.
¿Cuál es su opinión sobre los gobiernos y estados latinoamericanos que han manifestado su respaldo a Palestina y condenado a Israel en las últimos acontecimientos?
Esto ha sido un gran apoyo a los palestinos y ellos han hecho más que cualquier otro país. Depende, por supuesto, de los gobiernos cambiar la actitud y la política, y eso, en todas partes, lo aprecian. En Gaza la gente dice: “No son los árabes nuestros hermanos, son los latinoamericanos”.
Desde el comienzo Venezuela y Bolivia han cortado lazos con Israel. Ahora en Bolivia han cancelados los acuerdos de visa con Israel. En Chile, en Argentina, Perú y Brasil han llamado a consulta a sus embajadores. Bolivia catalogó a Israel como un Estado terrorista. Esa es una excelente actitud y es lo que necesitamos.